quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

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domingo, 21 de outubro de 2007

TEXTOS RÁPIDOS(Escritos por JCMonteiro em dias de chuva)

Uma citação em 19/06/2013
Desabafo de um telePCespectador.
 "TV é uma coisa que foi inventada para entreterimento e informação do telespectador e se transformou num aparelho que utiliza você (audiência) em troca de muito dinheiro do anunciante e do governo (patrocinador) que faz uma organização (Rede de televisão) ganhar muito mais dinheiro às suas custas e em troca te dá um minutinhos de entreterimento e informação entre muitos minutões de propaganda e manipulação. Um dia inventaram uma tal de TV paga para melhorar alguma coisa para voce (Telespectador) mas a tal organização queria mais dinheiro e as melhoras foram diminuídas para pegar mais dinheiro com os anunciantes que viram a migração da Tv aberta para a paga como fonte de lucro. Voce paga muito por uma TV de última geração e se quiser aproveitá-la tem que pagar muito por uma recepção melhor e mais ainda por uma seleção de programas do seu interesse.Todo mundo ganha ? Não, voce só gasta e alimenta todo esse processo. Aí veio a Internet. Que bom? Não, pois as organizações já descobriram formas de ganhar mais dinheiro ainda com a sua permanência nas redes sociais. Eh! O negócio é relaxar e aproveitar o que voce ainda pode "Curtir" sem pagar, ou melhor pensando que não está pagando ao "Curtir" pois você pode ainda não pagar mas já tem alguém ganhando muito dinheiro com a sua "curtição". Acho que o melhor é também tentar ganhar alguma coisa nessa novela, pelo menos para pagar a prestação da TV, a assinatura,e o provedor. Abraços"

 Uma citação em 14/03/2013
Descobri que minha vida está completa quando observei que em 100 % do meu tempo ativo eu passo cuidando dos meus bichos e as pessoas que eu amo não precisam mais dos meus cuidados, só do meu amor.

A Caminhada

Seu Juvenal fez 70 anos.
Após 55 anos de trabalho, finalmente seu Juvenal merece a sua esperada aposentadoria que consegue depois de um longo processo de solicitações, espera de respostas, cálculos injustos enfim, aquela “via crucis” que todos os aposentáveis nesses pais sofrem para conseguir sua parca remuneração que o acompanhará ate a sua morte.
Já em pleno gozo desse ócio, seu Juvenal dedica-se a uma caminhada matinal acompanhado apenas da sua sacola de supermercado onde carrega uma toalha para enxugar seu suor merecido e saudável que visa manter seu coração pelo menos em forma nos seus sessenta e poucos.
Numa dessas constantes caminhadas ele passa por um local onde está em crescimento uma comunidade de baixa renda (antigamente chamava-se “favela”). Ele nota que sobre um muro existem cinco meninos que o observam. Ele dá um discreto sorriso como se desejasse àquela petizada um sincero “Bom dia!”. Os meninos, aparentando timidez, não respondem. Seu Juvenal segue sua caminhada ignorando esse encontro.
Antes de chegar em casa ele passa no mercadinho como sempre faz.
Na caminhada seguinte, dois dias depois, ele passa pelo mesmo local e lá estão os mesmos garotos que agora o observam e comentam algo entre si sorrindo com o encanto dos inocentes.
Seu Juvenal devolve o sorriso e segue gastando as suas calorias.
Num outro dia cai uma pequena garoa que não impede seu Juvenal de fazer o seu exercício diário e passando por aquela comunidade fica surpreso quando vê que os simpáticos meninos assim que o vêem, descem do muro, caminham em sua direção de forma alegre e jovial que só as crianças sabem como fazer. O cercam e um deles, talvez o menor, finalmente lhe diz alguma coisa:
- E ai "vô"? Tudo bem? Vai pagar o pedágio hoje?
Seu Juvenal fica surpreso e pára na frente dos meninos que ainda o cercam e diz:
- Não entendi!
O menor, já não aparentando aquela inocência de dias atrás rebate:
- Qual é "vô”? Você usa a nossa área para passear e tem que nos pagar esse pedágio ou você acha que estamos aqui só para ver o seu desfile? Vai passando a taxa p’ra. nós.
Seu Juvenal explica humildemente que não tem o hábito de caminhar com qualquer dinheiro e solicita aos guris que aguardem até o dia seguinte, pois hoje não poderia fazer nada por eles. Os guris perguntam o que ele carrega na sacola. Ele abre a mesma e mostra a toalha e uma caixa de Bombom que leva para suas netas e entrega a toalha suada que provoca asco ao menor que diz que não precisa dela e a joga no chão que por sinal naquele local era imundo. Os garotos pegam o Chocolate saem correndo rindo e dizendo: -Até amanhã, "vô"!
Seu Juvenal recolhe a sua toalha e segue em frente cumprindo a sua rotina.
No dia seguinte a rotina se repete e no mesmo lugar estão os meninos que ao verem seu Juvenal o cercam e a historia se repete. Seu Juvenal novamente diz que não tem dinheiro, pois gastou o que tinha para comprar outros cinco Bombons para as netas, pois os de ontem ele haviam perdido e as meninas ficaram muito tristes.
Os meninos riram e disseram: - Ta legal "vô". Vai passando os docinhos assim mesmo, pois são muito bons. Seu Juvenal entrega-os. Os meninos correm e dizem: - Até manhã "võ"! Seu Juvenal dá um sorriso em resposta, acena e continua a caminhada.
Dias depois antes da caminhada seu Juvenal para no mercadinho e observa na banca de jornal a seguinte manchete no Extra.
“Cinco crianças inocentes morrem envenenadas ao brincar no lixo da favela.”
Seu Juvenal comenta com um outro freguês. “Puxa, que notícia trágica!”.
Dobra seu saco de plástico, põe debaixo do braço e segue sua saudável caminhada.

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O Fazendeiro esportista

Carlos Alberto, repórter sênior do jornal “A Noticia” de Belo Horizonte tomou um atalho para chegar mais rapidamente à feira anual daquela pequena cidade do interior da qual seu patrão, o Comendador Solimões, chefe supremo e presidente do jornal tinha o orgulho de lá ter nascido e passado sua feliz infância.
Apesar da irrelevância daquele evento, Carlos havia pensado melhor e resolveu não contrariar o chefe que o intimara a ser o reporte voluntário que iria cobrir aquele festival matuto que ninguém conhecia.
Voltando ao atalho vemos uma Fiat 147 parada com muita fumaça sob o capo e um motorista desesperado caminhando até a porteira de uma fazenda a fim de conseguir ajuda ou um telefone para pedir um reboque até a cidade mais próxima que seria a terra natal do comendador.
Ao chegar na fazenda foi recebido por um jagunço que o levou até ao “Coronel”, o dono das terras que foram invadidas pela Fiat da esquadrilha da fumaça pilotada pelo intrépido “brigadeiro” Carlos Alberto.
O coronel fazia uma figura muito interessante, reunindo as características estereótipas do arrogante latifundiário e da total falta de conhecimento da língua portuguesa, isto é, falando como um verdadeiro matuto do interior trocando os pronomes, falando errado e inventando palavras ridículas como o Odorico Paraguaçu (“Aquele prefeito da novela “O bem Amado”. Lembra?” - Deixemos os "entretantos" e vamos ao "finalmente").
Carlos foi bem recebido com toda a hospitalidade mineira e após telefonar para o seguro reparou na parede da sala da casa grande onde havia várias armas dispostas como um leque.
O coronel observando o interesse do reporte naquelas espingardas e bacamartes encheu o peito ao dizer que era o maior colecionador de armas antigas da região e também era praticante de Tiro.
-"Sô campião de tiro ao Álvaro" falou o coronel.Sutilmente o corrigi: -"Tiro ao alvo"
falei eu.- "É isso que eu disse" falou o coronel.
Pegou um trinta e oitão que parecia o revolver do Clint Eastwood naquele filme de gangsteres dos anos 30 e acariciando-o começou a contar suas façanhas pirotécnicas ligadas aos tiros que havia dado na sua vida desde pequeno.
Durante essa conversa Carlos notou que num dos cantos do salão estava sentado um caboclo de meia idade com uma cara de sofredor de time que perdeu o campeonato por pênalti.
Ele estava em péssimo estado de saúde , todo enfaixado com curativos nas pernas , braços, tronco, bunda etc. Carlos perguntou ao coronel quem era aquele coitado.
O coronel sorriu mostrando seus únicos dois dentes na gengiva inferior e comentou.
“-Eu num dishe que era campião de tiro uai!”.
Pegando o trinta e oitão, colocou duas balas no tambor, botou uma na agulha e gritou p'ro caboclo que já levantara e saíra correndo capengando como podia.
“ – Vamo nessa caboco ! Pode correr que num adianta, Álvaro!”
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O Futebol do domingo.
São seis horas da manhã. Em pleno domingo a turma toda já está reunida na porta da igreja de São Pedro no Encantado.
O padre Hans Fritz que outrora fora atleta na Alemanha que por alguma razão desconhecida veio parar como pároco na nossa comunidade tinha duas paixões fora das atividades paroquiais. Uma era o nosso time juvenil de futebol (MSPFC) (Mocidade de São Pedro) com camisas e tudo e a outra é que ele adorava mecânica cujo conhecimento era aplicado no Ônibus da Paróquia que também era o veículo oficial do nosso time. Um antigo Lotação que misturava Mercedes Benz com Magirius Deutch sei mais lá o que e que só vivia enguiçado, quer dizer: manutenção permanente executada pelo Padre Fritz e seus coroinhas.
Depois da chamada geral, com todos do time presentes ,veio a esperada ordem para o embarque, pois jogo tinha hora marcada e já estávamos em cima da hora.
O embarque foi um sucesso. Muita algazarra e todo o time com confiança na vitória sobre a Mocidade de São João (Sim, aquele lá do Meriti) e claro, num campo neutro, lá pros lados de Deodoro.
O padre Fritz que daqui a duas horas seria o técnico Hans, agora era o nosso motorista que orgulhosamente deu a partida no "mercedão".
"Chique! Chique! Chique ! Toinh oinh oinh oinh!" e nada do busão pegar. Novas tentativas e nada. Nenhum sinal de fumaça. Alguém grita: - É falta de gasolina! Outro responde: - Deixa de ser burro essa treco é movido a Diesel. Outro rebate: - Então tá faltando Diesel. O Padre se desespera e manda todo o mundo calar a boca, depois manda alguns dos atletas descerem do lotação e empurrar.
Primeiro foram dois. O Bus nem se mexeu. Depois foram quatro. A mesma coisa.
E assim, de repente, todo o time já estava no lado de fora fazendo aquele estranho aquecimento dos músculos dos braços, das costas, das pernas, etc. Tentando empurrar aquela jamanta até a “distante” ladeira da Rua Guilhermina.
Finalmente na ladeira o Padre freia o Ônibus, abre a porta e manda todo o mundo entrar.
Ah! Outra algazarra! Todo o mundo a bordo! E lá se foi o bólido descendo a ladeira abaixo.
Os tiros que ouvi daquele motor velho e enferrujado devem ter acordado metade do Encantado, mas finalmente entre a algazarra dos atletas, os tiros e a fumaça preta poluindo a Rua Guilhermina, o Lotação pegou e lá fomos nós para Deodoro com toda a alegria e já devidamente aquecidos para disputa dominical com o pessoal da baixada Fluminense.
Você pensa que acabou a história? Que nada.
O veiculo enguiçou na Piedade, em Quintino, em Cascadura, em Madureira, em Osvaldo Cruz, em Bento Ribeiro, em Marechal Hermes, ah não, em Marechal Hermes paramos para abastecer. Outra confusão. O padre esqueceu a carteira na igreja, Tivemos que fazer uma vaquinha para colocar a gasolina, digo , o óleo Diesel.
Na saída do posto outra aventura. Mais uma vez êle também não quis pegar.
Em todas as paradas a cena foi a mesma:
1- Todo mundo sai, todo mundo empurra.
2- Tiros e fumaça preta
3- Algazarra
4- Todo mundo entra
5- “Vamo embora minha gente”
Finalmente chegamos ao destino com algumas horas de atraso. Sorte nossa que a a Mocidade de São João chegou depois da gente e alegaram que tiveram um probleminha com a condução. Coitados.
Pra finalizar, no final da tarde de domingo alguém comentou com o Padre o seguinte.
-Padre Fritz . Foi bom, Tudo bem. Ganhamos o Jogo. Mas da próxima vez não
precisamos levar o seu Lotação, Tá bem?

Ah! Nem te conto a volta.

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O enfermeiro do quarto cinco
Uma profissão admirável é a enfermagem, principalmente quando vemos no profissional um exemplo de dedicação, paciência e ternura durante o atendimento ao seu paciente.
Mesmo o mais valoroso enfermeiro pode ter um dia em que alguma coisa inadequada acontece como foi o caso do assistente de enfermagem que estava recebendo uma crítica severa do médico de plantão durante o seu turno de serviço. Assim aconteceu:
-Pois é senhor Amélio. Esse remédio deveria ser dado ao paciente há duas horas atrás. E por sua incompetência todos os procedimentos médicos pré-cirúrgicos desse caso foram desperdiçados. Esbravejava o Dr. Saboya contra o diminuto Sr. Amélio que não dera o medicamento ao paciente do quarto cinco que por sinal fizera muito sucesso quando na sua internação provocou cochichos das enfermeiras que o reconheceram como aquele famoso lutador de Box Evander Hollyfield que massacrou o nosso Maguila no inicio do primeiro round. Bem, essa é uma outra estória. Voltemos à cena da bronca.
O Sr. Amélio cabisbaixo aceitava a reclamação do médico e após ouví-la falou ao doutor em tom bem baixo e grave.
-Dr.Saboya. Se coloque no meu lugar. Às sete horas entrei no quarto cinco e acordei o paciente para lhe dar o remédio. Este com um tremendo mau humor acordou, olhou para mim com uma cara de Rottweiller segurou o remédio que era um pequeno supositório e perguntou-me.
-O que eu faço com isso?
Doutor! Na hora eu pensei em responder, porém pensei bem, sai calado e fechei a porta na esperança que ele soubesse o que fazer com aquilo.
No meu lugar o senhor responderia?
O médico coçou o queixo, observou o paciente e resmungou.
É! Tens razão! Desculpe pela bronca.
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A Cura da Dengue
São nove horas de uma manhã de verão agitada na cidade tropical.
Todos os órgãos de defesa pública , hospitais , clínicas particulares, forças armadas estão de prontidão e agindo de forma incansável para atender a enorme demanda de pessoas atingidas pela pior epidemia de Dengue que já se ouviu no país.
Infelizmente outro setor público que também aumentou a sua atuação na cidade foi o dos cemitérios que não param de receber novos inquilinos despejados de suas vidas devido `a essa praga que só o prefeito parece não dar a devida importância ao fato.
Ele, o prefeito, se limita apenas a discutir o problema estatístico para provar que ainda não estamos no estado de epidemia ou viajando para o nordeste onde foi pedir ao Santo que levasse todos os mosquitos Aedes Aegypti numa enorme nuvem em direção ao oceano e ainda sugeriu que todos habitantes da cidade usassem calças compridas e camisas sociais para se protegerem do mosquito da Dengue , inclusive nas praias .
Alheio a essa futrica político-social observamos num laboratório de pesquisas de uma universidade local vários cientistas debruçados sobre seus estudos procurando obter uma solução definitiva para o problema que em menor ou maior grau esta presente em todos os verões desde que um navio americano nos trouxe o famigerado mosquito, bem ,essa é outra estória.
Um dos cientista faz uma observação no mínimo curiosa :
“ Por que o moquito Aedes Aegypti não morre ou passa mal quando pega Dengue ?
Houve um silêncio geral. Cada professor olhou para o lado esperando uma resposta do colega que não vinha , ouviu-se apenas um “OHHHH!
Talvez aí estivesse a solução do problema.
Imediatamente todos começaram a pesquisar o mosquito tentando encontrar as suas defesas para esse mal pois era apenas o portador e nada sofria com o tal vírus.
Já estavam no caminho da descoberta quando o prefeito soube da pesquisa e rapidamente resolveu interferir na universidade, evidentemente buscando para si os holofotes que acenderiam ao se divulgar essa notícia.
Alguns cientistas eufóricos com os resultados já comentavam a liberação da vacina imediatamente para interromper a epidemia . Outros mais cautelosos queriam fazer mais testes para aumentar e segurança e eficácia . O prefeito dizia que esses cientistas eram da oposição e queriam que a vacina só fosse utilizada na próxima gestão que provavelmente não seria mais do seu partido.
Afinal de contas, “poder é poder” e venceram os primeiros. A vacina foi colocada a disposição da população e com o maior alarde internacional foi anunciada o fim daquela epidemia pois realmente as estatísticas mostraram o sucesso daquela descoberta.
Todos os estados e paises que tinham o Aedes Aegypti solicitaram a vacina e todos viverem felizes para sempre ;
quer dizer;
até que um dia numa famosa praia tropícal no verão seguinte já sem Dengue uma menininha virou para a mãe e perguntou :
- Mamãe que são essas listras pretas e brancas que estão aparecendo nas nossas pernas e , olha só , na pernas e braços dos outros banhistas também? e olha que engraçado aquelas anteninhas e o enormes bicos pontudos !


Adoro Kafka !


Esse Texto Não é Meu mas achei interessante disponibilizá-lo nesse local.
MÃE DE ANTIGAMENTE:
Coisas que nossas mães diziam e faziam do seu jeito e impondo limites.
Era uma forma, hoje condenada pelos educadores e psicólogos, mas funcionava. .
Minha mãe ensinou a VALORIZAR O SORRISO...
'ME RESPONDE DE NOVO E EU TE ARREBENTO OS DENTES!'
Minha mãe me ensinou a RETIDÃO...
'EU TE AJEITO NEM QUE SEJA NA PANCADA!'
Minha mãe me ensinou a DAR VALOR AO TRABALHO DOS OUTROS...
'SE VOCÊ E SEU IRMÃO QUEREM SE MATAR, VÃO PRA FORA. ACABEI DE LIMPAR A CASA!'
Minha mãe me ensinou LÓGICA E HIERARQUIA...
'PORQUE EU DIGO QUE É ASSIM, E PONTO FINAL! QUEM É QUE MANDA AQUI?'
Minha mãe me ensinou o que é MOTIVAÇÃO...
'CONTINUA CHORANDO QUE EU VOU TE DAR UMA RAZÃO VERDADEIRA PARA VC CHORAR!'
Minha mãe me ensinou a CONTRADIÇÃO...
'FECHA A BOCA E COME!'
Minha Mãe me ensinou sobre ANTECIPAÇÃO...
ESPERA SÓ ATÉ SEU PAI CHEGAR EM CASA!'
Minha Mãe me ensinou sobre PACIÊNCIA...
'CALMA!... QUANDO CHEGARMOS EM CASA VOCÊ VAI VER SÓ!'
Minha Mãe me ensinou a ENFRENTAR OS DESAFIOS...
'OLHE PARA MIM! ME RESPONDA QUANDO EU TE FIZER UMA PERGUNTA!'
Minha Mãe me ensinou sobre RACIOCÍNIO LÓGICO...
'SE VOCÊ CAIR DESSA ÁRVORE VAI QUEBRAR O PESCOÇO E EU VOU TE DAR UMA SURRA!'
Minha Mãe me ensinou MEDICINA...
'PÁRA DE FICAR VESGO MENINO! PODE BATER UM VENTO E VOCÊ VAI FICAR ASSIM PARA SEMPRE!'
Minha Mãe me ensinou sobre o REINO ANIMAL...
'SE VOCÊ NÃO COMER ESSAS VERDURAS, OS BICHOS DA SUA BARRIGA VÃO COMER VOCÊ!'
Minha Mãe me ensinou sobre SEXO...
'E COMO VOCÊ ACHA QUE VOCÊ NASCEU?!'
Minha Mãe me ensinou sobre GENÉTICA...
'VOCÊ É IGUALZINHO AO SEU PAI!'
Minha Mãe me ensinou sobre minhas RAÍZES...
'TÁ PENSANDO QUE NASCEU DE FAMÍLIA RICA É?'
Minha Mãe me ensinou sobre a SABEDORIA DE IDADE...
'QUANDO VOCÊ TIVER A MINHA IDADE, VOCÊ VAI ENTENDER!'
Minha Mãe me ensinou sobre JUSTIÇA...
'UM DIA VOCÊ TERÁ SEUS FILHOS, E EU ESPERO QUE ELES FAÇAM PRÁ VOCÊ O MESMO QUE VOCÊ FAZ PRA MIM!'
Minha mãe me ensinou RELIGIÃO...
' É MELHOR REZAR PRA ESSA MANCHA SAIR DO TAPETE!'
Minha mãe me ensinou o BEIJO DE ESQUIMÓ...
'SE RABISCAR DE NOVO, EU ESFREGO SEU NARIZ NA PAREDE!'
Minha mãe me ensinou CONTORCIONISMO...
OLHA SÓ ESSA ORELHA! QUE NOJO!'
Minha mãe me ensinou DETERMINAÇÃO...
'VAI FICAR AÍ SENTADO ATÉ COMER TODA COMIDA!'
Minha mãe me ensinou habilidades como VENTRÍLOGO...
NÃO RESMUNGUE! CALA ESSA BOCA E ME DIGA POR QUE É QUE VOCÊ FEZ ISSO!'
Minha mãe me ensinou a SER OBJETIVO...
EU TE AJEITO NUMA PANCADA SÓ!'
Minha mãe me ensinou a ESCUTAR ....
'SE VOCÊ NÃO ABAIXAR O VOLUME, EU VOU AÍ E ARREBENTO ESSE RÁDIO!'
Minha mãe me ensinou a TER GOSTO PELOS ESTUDOS..
'SE EU FOR AÍ E VOCÊ NÃO TIVER TERMINADO ESSA LIÇÃO, VOCÊ JÁ SABE!'
Minha mãe me ajudou na COORDENAÇÃO MOTORA...
JUNTA AGORA ESSES BRINQUEDOS!! PEGA UM POR UM!'
Minha mãe me ensinou os NÚMEROS...
'VOU CONTAR ATÉ DEZ. SE ESSE VASO NÃO APARECER VOCÊ LEVA UMA SURRA!'
"Brigadão Mãe!"
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Confissão

A qualquer leitor

Desde quando eu era criança, ouvia uma frase com palavras que , naqueles momentos, não faziam muito sentido para mim.
"Deus escreve certo por linhas tortas"
Até há poucos anos me parecia ser apenas uma frase feita com algum sentido de efeito fonético para ilustrar crenças ditadas por religiosos tanto cristãos ou não.
Precisei ter algumas experiências muito pessoais para realmente entender a fundo o significado dessas palavras.
Não me considero pessoa religiosa apesar de ter crescido num ambiente onde predominavam as crenças católicas e principalmente as experiências ligadas ao
espiritismo, experiências estas sempre presente em pessoas da minha família que de alguma forma expressavam fenômenos ditos mediúnicos.
Sempre fui muito cético em relação a esses fenômenos buscando sempre uma razão materialista para esses eventos que eu acreditava poderem ser efeitos
psicológicos individuais ou coletivos.
Com o passar do tempo me afastei totalmente da religião mas tinha no meu íntimo uma certa crença em alguma coisa, mesmo não sabendo expressar,
que, de alguma forma influenciava na minha vida em momentos especiais fossem eles positivos ou negativos.
Também me tornei egoísta, e egocêntrico e o pior; é que isso não me incomodava.
Em muitas situações negativas aconteciam sempre eventos que de alguma forma me auxiliavam a tornar essas situações negativas em
positivas. Simplificando : Furar pneu em frente a um borracheiro, Perder a carteira , voltar horas depois procurando e achar alguém que a encontrou e guardou para mim.
Dormir no volante e não acontecer nada de mais.
Achava isso estranho e pensava : " Puxa vida!!! Tive muita sorte." Isso aconteceu em muitas ocasiões, em situações cotidianas ou situaçoes mais graves envolvendo risco de vida.
No fundo eu receava que essa "sorte " pudesse um dia " me abandonar pois eu não me sentia grato por essas coisas. Achava que era apenas "sorte".
Em paralelo tinha uma curiosidade sobre assuntos espirituais : Vida após a morte,kardecismo,Culturas e religiões orientais e até mesmo melhores explicações sobre a religião Cristã pois essa era a minha formação e me era difícil aceitar outras crenças senão as baseadas na minha formação.
Apesar de me considerar um Cristão tinha muitas dúvidas sobre a realidade dessa crença , principalmente as coisas que aprendi nos catecismos da minha infância.
Busquei respostas em várias experiências fora dos alicerces católicos e vi que precisava ter uma experiência física para ter as respostas que eu procurava mesmo sem saber quais eram as perguntas adequadas.
Me identifiquei com a doutrina kardecista , porém essa só me dava respostas literárias às minhas dúvidas, precisava de algo mais palpável.
Resolvi participar de um seminário de Projeciologia . Li muito a respeito e fiz as experiências iniciais desse processo. Tive experiências interessantes envolvendo sonhos , controle desses sonhos, e até experiências fora do corpo (porém ainda tinha dúvidas se eram experiências reais de projeciologia ou se eram apenas sonhos controlados por técnicas que aprendi nos seminários, enfim, apesar das experiências , ainda não tinha as respostas que eu procurava.
Tomei conhecimento do movimento Ateísta. Li a respeito e conclui que eles também estavam errados pois observei que no fundo eles também tinham apenas uma crença que era " Não acreditar em nada".Isso não me convenceu.
Continuei na mesma e com todas as características de personalidade que já citei.
Em determinado momento agi concientemente errado e no meu íntimo desafiei a mim mesmo uma prova espiritual onde , de alguma forma eu pagaria por aquele erro. A resposta veio rápida.
Aconteceu uma circunstância que para mim foi uma reposta clara do tipo:
"Errei,e por isso estou pagando por esse êrro específico de uma forma muito doloroso em determinado momento e logo a seguir um sentimento de que tive muita "sorte" por não ter acontecido algo pior".
Mesmo assim não me transformei positivamente após aquela circunstância e novamente me vi na mesma situação de antes, claro que em circunstâncias diferentes porém com os mesmos sentimentos envolvendo egoísmo , intolerância , soberba e até mesmo covardia. Nesse momento tive consciência do meu comportamento negativo e novamente fiz o mesmo desafio.
"Não deu outra".
Imediatamente aconteceu o mesmo fenômeno anterior.Conclui: Não foi coincidência. Para mim foi uma resposta que eu só poderia obter de alguma coisa fora de mim com total conhecimento sobre a minha vida apesar das decisões serem tomadas só por mim.Fica muito difícil para mim descrever essas experiências de forma explícita porem afirmo que elas realmente aconteceram dessa forma e a minha conclusão foi:
Obtive as resposta que eu precisava porque eu entendi as perguntas que deveria fazer. Fiz as perguntas, obtive as respostas corretas apesar do sofrimento que foi intenso porém curto e suportável.
Aprendi muito com as respostas que obtive e agora sei que só depende de mim continuar de forma mais positiva e vi claramente as mudanças que tenho que fazer para isso e no fundo da questão conclui também que as minhas crenças duvidosas estavam corretas. Existe sim uma consciência fora de mim que de alguma forma influencia a minha vida e eu preciso estar em comunhão com essa consciência para viver melhor não importa se a minha própria consciência continua após a morte ou não.So espero ter coragem suficiente para mudar o que for preciso e aceitar o que for inevitável de uma forma justa e sem qualquer sentimento de mágoa.
Vai ser dificil .
Mas sei agora que esse é o caminho.

Fiz esse texto com uma emoção que nunca tive antes. Não quero convencer ninguém. Apenas tentei expressar um sentimento que eu tive nesse momento. Registrei para não perder essa emoção.

Grato.

Eu
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lembrete
PS. pessoal : Apenas para não cair no esquecimento resolvi enumerar os últimos casos vivenciados:
1- A Invasão dos 4
2- O Falso sequestro
3- O fim da conta
4- O escape da J.


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"A VIDA e a CERTEZA ( para o próprio )

A vida consciente é um conjunto de eventos felizes e infelizes, sofredores e prazeirosos que levam a um final doloroso e à morte.
Feliz aquele que tem a certeza de que a vida seja apenas um evento transitório para a consciência.A fé apenas não é suficiente.
Infeliz aquele que não tem ESTA certeza.
Não importa a verdade pois, durante a vida, muito poucos terão esta ou aquela certeza.
As vezes me sinto como esses "muito poucos".As vezes me sinto como a maioria.
Por isso ainda sofro..."
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Recebi esse email do amigo Zé.
Gostei do texto e inseri no Blog.



O apartamento contíguo ao meu foi alugado há mais ou menos 1 ano. Os novos inquilinos que vieram são uma famíla de 4 pessoas. A mulher, 2 filhos, 1 de uns 8 anos e outro de uns 12 e o marido. No começo tentaram azucrinar com um rock e congêneres em som bem alto. Tendo eu respondido com uma boa missa de Vivaldi e algumas fugas e tocatas de Bach , em volume na mesma altura, eles se tocaram. Não se puseram em fuga mas a coisa se acalmou.
Depois teve o menino, o mais novo, que tocava minha campainha e quando eu abria a porta ele ficava me fitando, olhos arregalados, expressão divertida. Pensei que Gabriel , esse seu nome, fosse meio retardado. Com o tempo , vi que não. É o contrário ! Esperto demais.É estranho, mas ele queria isso mesmo: ficar olhando para mim. Até o desculpei perante a mãe dele um certo dia. Ela disse que ia chamar a atenção dele. Pela forma com que ela falou, ponderei:
- Tudo bem, senhora,acho que ele gosta de mim, senhora, não precisa se preocupar. Tudo bem.
Desculpei-o pelas campainhadas. Acabaram parando. Aí vieram as marcas de bolas nas paredes do corredor comum. Coisa do mais velho, talvez ou de um menino de outro apartamento.
Mais recentemente, marcas de pneus de bicicleta na parede próxima à minha porta. Aí já estava dando no saco !
Há poucos dias, eu estava "atacado", quando ouço uma barulhada do lado de fora. De bobeira abri a porta. Eram os 2, o maior com sua bicicleta. Eu não tinha o que dizer mas o menor ingenuamente, creio, perguntou por que eu havia aberto a porta. Cheio de bronca explodi:
-Que que você tem com isso...que estou abrindo minha porta ??!!
O garoto saiu em disparada. Depois me arrendi de ter dado aquele esporro no garoto. Hoje liguei o interfone. Gabriel atende. Me desculpo e digo que não estava brabo com ele. Me vi aos 73 pedindo desculpas a uma criança. Me senti bem com isto. Sou generoso, pensei. Pedi que ele então chamasse a mãe dele (eu queria também me desculpar com ela, o que fiz). Só que ouvi claramente quando Gabriel, gritando, chamou a mãe para atender ao interfone:
- Mãe, é o velhinho...
José

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Não é meu ( Recebi sem a autoria) , gostei e coloquei no blog)

O Estranho
Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu um estranho, recém-chegado à nossa pequena cidade.
Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com este encantador personagem, e em seguida o convidou a viver com nossa família.
O estranho aceitou e desde então tem estado conosco.
Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial.
Meus pais eram instrutores complementares:
Minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas o estranho era nosso narrador.
Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ele sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir, e me fazia chorar.
O estranho nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora me pergunto se ela teria rezado, alguma vez, para que o estranho fosse embora).
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas o estranho nunca se sentia obrigado a honrá-las.
As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… Nem por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse. Entretanto, nosso visitante de longo prazo, usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.
Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas o estranho nos animou a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência pelo estranho.
Repetidas vezes o criticaram, mas ele nunca fez caso aos valores de meus pais, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que o estranho veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era ao principio.
Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida de meus pais, ainda o encontraria sentado em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu nome?

Nós o chamamos Televisor...

Nota:

Pede-se que este artigo seja lido em cada lar.

Agora tem uma esposa que se chama Computador
e um filho que se chama Celular!
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Recebi do meu primo,   Pena não se sabe quem é o autor.
 
Pergunta:
Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão "no frigir dos ovos"?
Resposta:
Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.
   E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.    Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.
   Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe.            Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.
   Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas, como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão. 
   Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou. 
   O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco.     Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente. 
    Por outro lado, se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco... 
   A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois, quando se junta a fome com a vontade de comer, as coisas mudam da água pro vinho. 
   Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar.    Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.
Entendeu o que significa “no frigir dos ovos”?

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Autor desconhecido:

Um professor estava diante de sua classe de filosofia e tinha alguns itens na sua mesa em sua frente.

Quando a aula começou, ele sem dizer uma palavra pegou num frasco de maionese grande e vazio e começou a enchê-lo com bolas de golfe.
Ele então perguntou aos alunos se o vidro estava cheio.
Eles concordaram que estava.
O professor, então, pegou uma caixa de fósforos e despejou dentro do vidro. Ele agitou-o levemente.
Os palitos de fósfoforo rolaram para os espaços entre as bolas de golfe.
Ele então perguntou novamente se o vidro estava completo.
Eles concordaram que estava.
O professor pegou uma caixa com areia e despejou dentro do frasco de maionese.
Claro, a areia preencheu todo o resto.
Ele perguntou novamente se o vidro estava cheio ..
Os alunos responderam com um unânime 'sim'.
O professor em seguida pegou duas cervejas que estavam debaixo da mesa e despejou o conteúdo do frasco preenchendo todos os espaços vazios entre a areia.
Os estudantes riram ..
'Agora', disse o professor como os risos, 'eu quero que vocês reconheçam que este frasco é a VIDA.
As bolas de golfe são as coisas importantes --- sua família, seus filhos, sua saúde, seus amigos e suas paixões favoritas --- e se tudo estivesse perdido, elas continuariam ali, sua vida ainda estaria cheia.
Os palitos de fósforos são as outras coisas que importam, como o seu emprego, sua casa e seu carro ..
A areia é todo o resto --- as pequenas coisas.
"Se você colocar a areia primeiro no vidro ", ele continuou," não há espaço para os palitos de fósfoforo e as bolas de golfe.
O mesmo vale para a vida.
Se gastar todo o seu tempo e energia com as pequenas coisas, você nunca vai ter espaço para as coisas que são importantes para você.
Preste atenção às coisas que são determinantes para a sua felicidade.
Gaste tempo com seus filhos.
Gaste tempo com seus pais.
Visite seus avós.
Cuide da sua saúde.
Leve o seu cônjuge para jantar fora.
Haverá sempre tempo para limpar a casa e cortar a grama.
Tome cuidado com as bolas de golfe primeiro --- as coisas que realmente importam.
Defina suas prioridades.
O resto é só areia.
Um dos estudantes levantou a mão e perguntou o que a cerveja representava.
O professor sorriu e disse: "Estou feliz que você perguntou."
A cerveja só mostra que não importa quão cheio sua vida possa parecer, há sempre espaço para um par de cervejas com um amigo!


Textos escritos por um amigo da IBM (Marcio Linhares) com muita criatividade e bom humor

O Padrinho

Marcio Linhares




       
Pois é. A gente passa o tempo olhando para fora da janela e nem sempre vê as coisas acontecendo assim do ladinho da gente. Eu andava pensando em ler algumas historias pitorescas acontecidas por ai quando me dei conta de que isso é o que não faltou durante a vida da gente. Muitas lembranças. Muitas marcas. Risos. Imensas gargalhadas.

        Houve um tempo em que a camaradagem era risonha e franca. Até certo ponto.

        Garoto novo,  recebeu a notícia alvissareira de que iria ser pai. Se babou todo. A Firma em peso acompanhou essa gravidez. Ele ficou grávido. Angustiado. Mas feliz. Imensamente feliz.

        Em chopinho comemorativo exagerou na contagem e não resistiu: convocou seu gerente para ser o padrinho do rebento que estava a caminho. O escolhido não se conteve de alegria: era a primeira vez que recebia essa homenagem. Aliás, até comentou que por algumas vezes já havia se insinuado para irmãos e primos mas nunca tinha sido aceito. E, magoado, dizia que era um eterno incompreendido pois já havia ouvido "à boca pequena"  (ou seria "ouvido" pequeno?) que sua turma o tinha em conta de grande biriteiro... Ingratidão. Mas agora tudo estava  resolvido. Alguem confiou nele e aquilo merecia um porre, certo? Tomou de pleno direito.

        Nosso jovem papai é que começou a tourear umas dificuldades quando comentou em casa esse seu gesto de fraqueza... A futura mamãe, que não olhava com bons olhos o tal compadre, custou a engolir o desatinado gesto do marideco. Mas encaixou. O tempo regulamentar se esgotou e na data prevista nasceu o pimpolho. Aliás, pimpolha. Festas, parabéns, charutos, fraldinhas e outros equipamentos fizeram parte da semana.

        Passados os primeiros dias, já se programou uma reunião a caráter  para se conhecer a herdeira, assim como levar os parabéns à feliz mamãe.

        E reunião que se prezasse para aquela turma tinha que ter cervejotas, um escocês de boa indole e estirpe, um poquer amigo e toda uma tarde para desenrolar esse assunto. Assim dito, assim feito.
Sabado marcado, turma bem concentrada e seja o que  Deus quiser. Churrascão pra ninguém botar defeito, tira-gosto preparado pelas mulheres da turma e um sol de rachar, para esquentar a moringa de todos.

        Noitinha adentrando, todos já "calibradíssimos" quase não conseguiam segurar as cartas no poquerzinho amigo junto com o uísque da rebatida. O Padrinho, feliz da vida, resolve sair da mesa para fazer um pipizinho.  Entre a sala e o toalete, ele se lembra da grande honra e resolve dar mais uma corujada na sua afilhada de tanto orgulho. Entra no quarto, pé-ante-pé, testemunha um soninho angelical, não resiste e resolve dar um terno beijo de padrinho na princesa. Perdeu o controle: a revolta dos intestinos falou mais alta e ele, sem domínio, cobriu sua prenda daquele vômito de borbotões... Com a sutil delicadeza e inconsciência que só os bêbados regulamentares têm, ele se empertigou, limpou o rostinho lindo da lindeza, puxou o cobertorzinho e voltou impávido para a mesa de jogo.

        Passados alguns soluços, eis que entra sala adentro, tal qual locomotiva, desembestada morro abaixo, a mãe amantíssima, a futura comadre, a anfitriã da tarde que, com uma intuição ao mesmo tempo feminina, materna e divina, baba uma tonitroante pergunta:

        - "Quem foi o filho da puta que vomitou na minha filhinha???????"

        Fez-se silêncio sepulcral e todos os olhos se dirigiram para aquele que ainda tinha manchas na camisa... O padrinho ainda na defensiva resolveu por panos quentes:

        - "Deve ser ninguém não, ora, neném vomita mesmo..."

        A réplica veio já com um cortante olhar que buscava armas no ar:

        - "Ah, é? E neném vomita rodela de tomate? Salaminho?. Queijo provolone e azeitona, seu filho da puta!?!?!

        Até hoje se sabe que esse padrinho às vezes é visto perambulando nas redondezas da casa de seus ex-compadres...

vvv







Conceição


Vendedor tem que ter tato. Vendedor tem que ser perspicaz. Tem que ter boa memória. Tem que ser... vendedor! Mas isso é um longo e penoso exercício de observação, aprendizado, treinamento, tempo, tempo e mais tempo. Senão suas façanhas se transformam em páginas do folclore.

        Eis que um jovem rapaz, recém iniciado na promissora carreira de vendedor de máquinas de escrever, certo dia recebe um chamado de um interessado em adquirir uma daquelas modernas máquinas elétricas. Verifica o  chamado e vê que o local é um tradicional colégio religioso da cidade. Ao chegar no tal colégio dá de cara com uma simpaticona coroa (para seus olhos de vinte e poucos anos) que o recebe, informando que o Padre que deveria atendê-lo não está mas o assunto poderia ser tratado com ela mesma. O jovem garoto, no afã de fazer bons negócios, ser produtivo e racionalizar seu precioso tempo, não chega a prestar atenção nos gulosos olhares que a pantera lhe lançava...
Juventude é assim mesmo. Nem sempre se está atento para  o salão onde a festa realmente ocorre. Vagueia pelos corredores... Mas deixa estar.

        Vida nova. Quota grande. E a perspectiva de um negócio faz com que nosso herói parta para papagaiar as vantagens da maravilhosa máquina. Distribui folhetos coloridos do mágico equipamento e,  impertubável, continúa sem olhos para as gulodices da dona... Dona aliás, como já observado, apenas para seus jovens e distraídos olhos de poucos anos em flor. Na verdade, uma saudável balzaqueana no fulgor e calor de seus irrequietos quase quarenta anos de labutosas pelejas pelos bares da vida. Mas nosso jovem só via a quota...
Como quem está na guerra não abandona as armas, nossa bela coroa vai á luta e parte para um ataque mais  direto. Frontal. Diz que conhece o gato. Não se lembra de qual telhado. Nosso garoto começa a dar suas coordenadas: seria da Faculdade de Ciências Econômicas? Do Colégio Clemente Faria? Dos bailes do Guarujá? Do edifício onde funcionava a firma.??? Coquetemente houve uma possível concordância  em alguns pontos pois a fera era rodada nos bailes da Belô de grandes amores. Distraidíssimo esse adormecido galã saiu do encontro pensando onde poderia ter conhecido a Conceição, aliás um nome bem comum na sua memorabilia.

        Começou a mastigar suas lembranças, recordações, registros. Sua etapa seguinte com a Conceição seria apenas no inicio da semana seguinte.  Mas a tarefa o deixava irriquieto. Chegado o dia da volta, do novo encontro, ele pôs-se novamente  a mergulhar nas lembranças para encontrar o porto daquele barco. Memória boa. Cuca fresca. Vontade férrea. Ele encontrou a resposta.
Entrou lépido para o encontro e sapecou na coroa:

        - "Me lembrei de onde nós nos conhecemos: você foi minha professora no primário, no Grupo Escolar Cesário Alvim!"

        Desnecessário dizer que não vendeu a máquina e iniciou seu longo e grande aprendizado com memória boa, cuca fresca, vontade férrea e sutileza de elefante...


vvv










       
       

Amanhã só Deus sabe...


 A vida do vendedor é uma constante luta pelo aprimoramento do processo. É a busca pela rapidez, velocidade, multiplicação de nossos recursos... E tudo se faz em nome dessa busca.

Motocicleta! Rápida, valente, máscula, dominante, ágil. Maravilha...

        Juntar essa sede de buscar resultados, com a motocicleta dá em  casamento perfeito. Quantas visitas se pode fazer a mais, dispensado do trabalho de procurar a vaga, de respeitar os cânones legais do transito... A imaginação voa. A motoca permite tudo isso.

        Pois é. Pensado: feito. Eis o vendedor  montado em seus cavalão japonês: Suzuki! 380 cc! Pronto para a luta.

        O problema é que nem sempre se tem tempo para as burocracias nossas de cada dia. A moto não tem a documentação adequada? Não, não tem... Depois se cuida disso. Na verdade falta documentação de transferência, de regularização de importação,  propriedade, e habilitação para dirigir o veiculo... Bobagem. Depois se cuida disso...

        A quota urge e chama. O cliente não pode esperar. O território é imenso e difícil... Quem sabe nas férias se cuida disso.

        Pois vamos à luta! O Adjunto do Diretor de grande banco chama urgente para atender o gosto do Chefão. Esse tem fama... Chamou, corre lá que a fera é brava! Mas é também a grande chance de se chegar ao nível mais alto de decisão, o que poderá render frutos maiores e em grandes quantidades.

        Visita longa. Formalíssima. O homem é alemão dos pés à cabeça. E a cabeça por dentro e por fora... O encontro, entretanto, termina muito bem, com marcações de passos seguintes promissores.

        Na saída, a respiração ainda ofegante. Mas satisfeito. Valeu. Marcou a presença e garantiu a continuidade de contatos em alto nível.

        A valente Suzukinha espera na porta do Banco. Com ar de vitória,  nosso heroi monta na bichona e parte para o seu dia que promete muito e que apenas se iniciou com bons presságios.

        Cruzamento perigoso esse da Afonso Pena com Amazonas, pô! Toda a cidade passa por aqui pelo menos uma vez por dia. Gente da terra e visitantes. E que visitantes... Chegou em Belô para tentar a vida, primeiro ponto de referencia é a praça Sete. E a mineirada passa por ali todo tempo, tal como se estivesse ainda nos saudosos pastos das terras deixadas: boissonsando.

        O intrépido e motorizado vendedor atravessa a Praça. Sinal fecha, ele pára e a turma passa. Sinal abre mas a mineirada não respeita a combinação: ele quer passar e os passantes, como o próprio nome já diz, também, apesar do sinal fechado. Ele acelera, passante avança, ele freia, passante reflui.

        Arrancada definitiva e o tal sonso passante resolve seguir em frente também... Agora sem perdão: piloto prum lado, motoca pra outro, e o passante estatelado no chão... E o coitado do assustado motoqueiro coberto de razão... Mesmo porque todo cuidado é pouco quando se sabe 100% irregular no centro da cidade...

        Depois do susto, uma rápida limpadinha no terno e um esporro monumental no sonso meio tonto que cambaleia até o meio-fio para cuidar do galo que cresce na canela:
         - "Seu irresponsável! Não vê que o sinal estava aberto para mim, pô! Eu atravessei e você saltou na frente, pô! Todo mundo está de prova que você fez merda, pô!"

        E nessa verborragia autodefensiva o confuso vendedor vê o perigo se aproximando: o PM que cuidava do pedaço, a uns 50, 70 metros nota o rolo e começa a se dirigir para o local.

        Atento, não titubeia: levanta a motoca, pergunta se está tudo OK e, nervosamente, saca um cartão de visitas e entrega para o acidentado com uma recomendação entre confusa e magnânima:

        - "Você fez uma grande merda. Eu estou muito atrasado (isso com um olho no peixe e outro no gato, ou seja no PM que continuava a vir), tô vendo que não é nada sério mas se você precisar de alguma coisa me dá uma ligada, pô!" E, olímpicamente,  se manda antes da chegada do PM...

        Fim de tarde, dia longo, trabalho duro, nosso herói (!) chega à firma para finalizar suas atividades diárias: caderneta de relatório de visitas e registros dos contatos iniciados naquele dia:

         - Putz, onde eu fui meter aquele cartão do  Sr. Adjunto, pô!

vvv


A Conquista

       

Certos vendedores são eternos conquistadores. Conquistam seus territórios. Seus clientes. As secretárias dos clientes... E o que mais pintar na sua frente. E toda hora é hora de caça. No coquetel, aborda o cliente potencial. No almoço, a secretária do Executivo e, nas horas vagas, outras tais que pintarem na frente...

        Dois simpáticos vendedores da Belo Horizonte sempre lembrada, em visita ao badalado Minas Tenis Clube deparam, de repente, com uma situação super agradável: intervalo de ensaio do famoso "Holliday On Ice" que piruetava pelas Minas Gerais. Coisa bonita. Mulheres lindas. Roupas minúsculas. Tesão em alta.

        Sem medo das dificuldades várias, tipo barreira de idioma, incongruência de atividades, não refrescaram e partiram para uma abordagem de conquista. Conseguiram "reserva" no programa de duas estrelinhas deslumbradas que começavam naquela temporada sua volta ao mundo. Talvez por isso tão fácil... (ciúmes do narrador? É possível...)

        Logicamente, curta temporada oferece shows todas as noites. Qualquer tentativa de uma aventura furtiva para aquelas ferinhas teria que ser pós-espetáculo... Mas uma conquista desta vale todos os sacrifícios! Depois do show, meia-noite no hotel da trupe.  Apesar das aparências, showbis americano também manera nas despesas e o tal hotel era um 2,5 estrelas. Com boa vontade... Localização bandida. Perto da zona... do agrião. Mas conquista é conquista e se for preciso invadir território adversário isso será feito!

        Nossos já citados simpáticos, e agora no calor da noite que promete, elegantes vendedores-conquistadores se mandam para a vigília de espera e esperança. Para tanto, uma cervejinha no boteco ao lado do hoteleco. Barra meio pesada. Território meio desconhecido para profissionais de sucesso...

        Entre agitados e nervosos, eles ficam aguardando e saboreando a cervejota no balcão. Apesar de vendedor e conquistador, um dos nossos heróis é bem chegado num receiozinho... Começa a comentar a chance de algum daqueles mal encarados freqüentadores ali presentes, resolver dar uma estranhada na dupla... o que faria com que todo o programa imaginado, ardente ou on-the-rocks, desse em  água. O negócio é que, quando se imagina alguma coisa, o fantasma acaba tomando forma. Os dois começaram a imaginar que estavam sendo encarados, que tinha neguinho bêbado enciumado, que a camisinha de griffe famosa azedava o clima que se respirava no ambiente... E  por aí afora.

        Pra disfarçar o nervosismo, o mais valente resolve dar uma mijadinha. Ainda pensando  na belicosidade das caras presentes começa a imaginar o "plano de ação” caso tudo acontecesse mesmo:  "ação fulminante, porrada incessante, e sem diálogo!"  O caso é que o capeta atenta mesmo. No que sai porta afora do banheiro do boteco  ele vê, de longe, seu parceiro de conquistas ser "peitado" por um desconhecido.

        Nervoso, se encaminha para o lado deles e vê o "agressor" dar um passo atrás meio titubeando, voltar e dar nova peitada no indefeso amigo. Sem nenhuma dúvida partiu para o plano: deu uma porrada na orelha do indivíduo e, antes que ele respirasse ou voltasse para trás para ver de onde partia a carga, levou um bicudo na bunda. O bar inteiro não entendeu nada quando os dois fugiram em desabalada carreira, pois a única reação do agressor-agredido foi deixar escapar, se desdobrando com seu peculiar  ruído, uma daquelas bengalinhas escamoteáveis, de cego...

vvv


O Gerente



 Idos tempos. Tempos idos. Mas inesquecíveis.

        Poderíamos dizer que a informática tinha  romantismo... Tempos de "Cérebros Eletrônicos"!!!

        Estou relembrando os estonteantes anos sessenta!!! Quanta velocidade nas máquinas! Quanta capacidade de memória! E o "Aquário"??? Era como se chamava o  Centro de Processamento de Dados, o CPD... E dentro do aquário tinha outro: a sala do  Gerente do CPD.

        É, ele era um cara importante pacas...  Muitos tinham certeza que ele era um cara de QI altíssimo (e QI era o máximo!). O tal Gerente do CPD, ou melhor, A TURMA do CPD era tão atrevida que ousava até usar barba!!!

        Idos tempos... Mas de tudo fica um pouco.  Nem que seja apenas lembranças...
A gente busca no fundo do baú algumas lembranças fantásticas. Quase inacreditáveis...

        Num distante dia de 1963, uma empresa  com dinheiro disponível resolveu entrar nesse tal mundo dos "cérebros eletrônicos". Convincentemente, o Representante do fabricante dos computadores mais famosos do mundo mostrou à empresa que era chegada a hora da modernidade. O futuro tinha chegado ontem de tarde e ninguém ainda tinha percebido. Era a hora de entrar na era mágica.

        Como eu disse antes, eram tempos de romantismo. "O que faz o computador?" Perguntava-se nos corredores.  Silenciosamente algum diretor ousava  responder:
- "Computa." E isso bastava.

        Nos "bastidores" dessa trama o corajoso  investidor quase num pacto de cumplicidade  buscava  no Representante a certeza de ter tomado uma decisão correta. E dividia a responsabilidade:

        - "Meu prezado, cabe  a você trazer para a empresa o tal Gerente do CPD que você conhece. Cabe a você me assessorar na implantação dos sistemas, contratar os  programadores, cuidar dos meus programas. Cabe a você etc, etc, etc."

        Aliás, o ansioso Representante, na hora de  assinar o contrato, prometeu tudo. Afinal, seriam seis meses até a data da entrega. Haveria tempo bastante para atender as promessas.

        Mas o ponto crucial seria o tal Gerente do CPD! Esse sim seria a figura principal, e sobre ele a promessa foi de dedo cruzado:

         -"Eu conheço o melhor Gerente de CPD da cidade e ele vai trabalhar para vocês."

        Isso na verdade foi a razão final para o contrato ser assinado e entregue ao nosso amigo representante, vendedor e, a partir daquele dia, head-hunter...

        Está certo que promessa é dívida, mas promessa para longo prazo pode-se neglicenciar  um pouquinho. Afinal seis meses é uma longa estrada...

        Apesar de estarmos falando dos longínqüos idos dos 60´s, também naquela época o tempo passava, voava e corria feito água de enxurrada pós-tempestade: célere. A contagem regressiva transcorreu sem que o  nosso já agora ocupadíssimo Representante se desse conta de  lembrar da tal dívida... E no que distraiu foi pego, "de repente", pela quinzena que antecedia a entrega do computador,  ...e pela convocação imediata dos já quase computonautas,  eufóricos para uma reunião geral da diretoria  no fim da tarde do dia seguinte. Nesta ele deveria se apresentar com quem? Isso mesmo: com o Gerente do CPD...

        Uma vontade imensa, deslumbrante, fantasmagórica de morrer se apoderou dele.

        -"E agora? Esqueci do trato e não tenho o tal Mago que foi o ponto da decisão da compra!!!"

        Mas o nosso amigo, como já sabemos, era um grande representante, vendedor e head-hunter, certo? Pois agora era só questão de encontrar a tal cabeça em cima de ombros convincentes.

        Tomou o telefone, pegou sua caderneta de  endereços e partiu para a caçada. Em vão. Não existia um mísero Gerente de CPD desempregado (bons tempos aqueles...) NA TERRA,  naquele maldito dia. Já, já, seria a sua cabeça que estaria a prêmio...

        Fim do dia, desespero em alta, nosso herói toma o caminho de casa certo que aquela noite seria uma noite de cão. Na ida para a toca parou no velho e conhecido posto de gasolina  onde sempre  abastecia. Num gesto mecânico entregou as chaves para o frentista e solicitou  que enchesse o tanque. Com o olhar perdido nas luzes bruxuleantes (naqueles tempos as luzes bruxuleavam!) acompanhou um vagalume zonzo que pousou no ombro do frentista. Daí fez-se a luz! Numa análise rapidíssima ele percebeu que o frentista era um rapaz bem  apessoado, cabelos cortados e penteados, barba feita e que, fora daquele local, poderia passar perfeitamente bem por um... GERENTE DE CPD!!!

        Pensado. Feito. A abordagem foi direta e sem direito de "defesa" para o rapaz:

        - "Meu filho, você quer ser Gerente de  CPD?"

        Para uma pergunta tão direta e enigmática a resposta tinha que ser uma só:

        - "!!!???"

        É claro que essa resposta foi prontamente  entendida como um sim e o nosso head-hunter imediatamente passou para os pontos seguintes da questão. Explicou ao já futuro  Gerente de CPD o primeiro passo: a reunião do dia seguinte. E nela uma missão clara: entrar mudo e sair calado. Qualquer pergunta feita a ele seria prontamente respondida pelo apresentador do Gerente.  Salário ele não deveria se preocupar pois seria vinte vezes o que ele ganhava enchendo os tanques e o saco dos fregueses do posto.

        Ah, tinha um ponto: a reunião seria de terno e gravata e isso não era problema pois ele tinha um terno novinho e lindo em casa e teria o maior gosto em emprestá-lo, além de oferecer a camisa e ensinar a dar o nó na  gravata. Melhor que aquilo tudo só pão com ovo!!!

        Talvez por total falta de chance de recusar a oferta, nosso amigo ex-frentista e  futuro-Gerente-de-CPD catatônicamente acabou achando a coisa mais natural do mundo  marcar o encontro no dia seguinte na casa do nosso  Representante, vendedor, Head-Hunter e, a partir daquele dia, "Fado-Madrinho" de Gato Borralheiro...

        Parece mentira mas atendendo às  recomendações do guru e mentor, mantendo-se no mais caloroso silencio, nosso frentista nasceu naquele dia, numa reunião de  diretoria, como um novo Gerente de CPD...

        Os quinze dias passaram ligeiríssimos. Houve pouco tempo para começar a ouvir falar de bits, bytes, memória, discos, cartão perfurado, classificadora, e todas aquelas maravilhas existentes no moderníssimo mundo dos cérebros eletrônicos de antanho. E passaram mais quinze, e os primeiros trinta. Como muitos sabiam pouco, poucos saberiam muito.  Nosso ex-frentista tomou gosto pela gravata, camisinha branca, terninho escovado, salário transbordante e pulou de cabeça no aprendizado. Com muito esforço e dedicação transformou-se naquilo que contrataram: um grande Gerente de CPD. De barba e tudo.

        Tempos idos. Tempos românticos.

        Ah, a propósito: nosso ex-frentista hoje é um dos diretores da tal empresa...

vvv


















Michilin


A barreira da língua já foi mais séria. Hoje todo mundo é, pelo menos, bilingüe. Mas há algum tempo atrás, não. O inglês era desejável. Outra  língua já seria luxo. Isso fazia com que certos amigos nossos passeassem pelo português,  mas escorregavam catastróficamente em  outros idiomas que porventura se aventurassem. Quando se aventuravam! O  fato é que alguns se emudeciam  completamente quando saíam do planeta  Brasil e, quando se arriscavam a tentar falar  algo em língua estrangeira, se transformavam  em bisonhos índios de filme americano tipo,  "eu querer uan cloque", ou seja; não passavam do clássico "my name is..."

        Na verdade, esses alguns eram pessoas muito especiais. Tinha um que o simples fato de sair do Brasil o tornava quase autista! Tinha  dificuldades para entender até o português! Isso fazia com que a Convenção Internacional, anual, da firma, fosse ao  mesmo tempo céu e inferno...

        Em 1982 a Convenção foi em Buenos  Aires. A princípio isso era, mais ou menos,  bem visto pelo nosso amigo, afinal espanhol era o português falado pelo Cantiflas, certo? Errado. Isso foi descoberto já no avião,  quando foi interpelado por um “cucaracha” se   poderia se assentar em seu lugar "en la butaca de la ventana"... O mundo veio por terra pois a partir dali ele já achava que o mexicano na verdade era um marciano com passagem pela  Grécia para aprendizados lingüístiscos... Sem  entender nada amarelou um sorriso e fingiu dormir todo o tempo da viagem para evitar que os dois tivessem que monologar... Talvez na  Argentina, quem sabe, mais pertinho do Brasil  se falasse o espanguês/portunhol ou o que o  valha. Ledo engano.

        Na "aduana" (?) um funcionário já passou  gritando: "Boletos de vacuna en la mano,  señores!" E ele concluiu que realmente estava entrando num mundo ininteligível... Daí para  decidir se agarrar a alguém como muleta foi  um pulinho. Nós dois estávamos no mesmo  apartamento e a partir daquele instante passei a ter um colega xipófago. Coladinho em mim.  E de boquinha que só se abria raramente, e  para comer.
Olhos sempre assustados, nosso  amigo navegava pelo Sheraton Hotel de  Buenos Aires olhando tudo de segunda mão,  ou seja; se você vai eu também vou, se você viu eu vi também. Nesse trem nosso amigo foi ficando comodista. Treinou os dedinhos para mostrar ao garçon que do prato pedido as porções seriam duas, que a opção de lazer  seria comum aos dois, que os valores a pagar  em cada conta seriam iguais. Ali eu via nascer  um mais-que-perfeito pastiche de Marcel  Marceau em performances castelhanas.

        Mas tudo cansa. E aquele reflexo ao meu  lado começava a me incomodar. Daí, que tal  tentar dar uma "amestrada" no garoto? Insistia  para que ele escolhesse o menu (mesmo apontando), mudava meu pedido quando ele  arriscava  o "da-me dos" e ainda encorajava-o  a tentar falar as obviedades.

        Isso não era nenhuma sacanagem: era  uma tentativa honesta (e cansada) de mostrar  ao meu dileto amigo que se cego-mudo-surdo  sobrevive no mundo ele também tinha alguma  chance...

        Esta grande chance chegou num dia em que  ele de repente se viu sem "moneda" e precisou  fazer câmbio. Logicamente a primeira alternativa dele foi me solicitar que fosse fazê-lo por ele. Era uma coisa tão trivial que  eu me neguei e me dispus, no  máximo, acompanhá-lo até a recepção do hotel, não sem antes, Claro, instruí-lo, passo a passo, o que fazer:

        -"Diga ao recepcionista que você quer  CAMBIAR MONEDA, POR FAVOR. Entregue- lhe sua nota de vinte dólares. Assine o recibo (O BOLETO!) que vai receber. Pegue sua grana.  Diga MUCHAS GRACIAS e cai fora que sua  missão está terminada com êxito! Ainda assim  nosso catatônico amigo pediu, como auxílio  final, que estivéssemos juntos na operação...  Tudo bem. Se é por uma boa causa, vai-se ao  sacrifício.

        Instruções na cabeça, notinha de vinte  dólares na mão, dirigiu-se ele à recepção do  Hotel. Dava pra perceber que a angústia ainda  passeava pelo semblante do, agora, quase independente, livre e solto turista em terras  estrangeiras!

        Ao mesmo tempo se via também uma  vontade impaciente de resolver esse medão desnecessário. Sabia o script, era só atuar.

        - "A sus ordenes, Señor.", Atendeu-o o  recepcionista.

        - "Eh, CAMBIAR MONEDA, POR FAVOR"  (Certinho, certinho!)

        - "Quanto quieres?" (essa não estava no  script mas deu para entender  pois lhe soou  "muito" familiar...) A resposta foi extender,  silenciosamente, seus vinte dólares. Grana recolhida, eis que o recepcionista lhe passa o  tal BOLETO, mas EXPLICANDO!!!!

        - "Su firma, Señor." Pela experiência anterior  da "familiaridade" do termo ele não  teve duvida e  tascou lá: IBM do Brasil Ltda...

        Já ia saindo quando o recepcionista o interpelou:

        - "No, señor, solamente su apelido."

        Impávido ele olhou para o recepcionista,  para o boleto, para a caneta e já confundido  com o pedido estranho não teve duvida e  escreveu junto à "FIRMA": MICHILIN...

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A hora do Angelo


As grandes camaradagens existiram em todos  os tempos. O chopp do final do expediente, o  papo furado no cafezinho, as piadas trocadas e  disseminadas na hora do almoço, a purrinha...

        Sempre se tem um minuto a mais, uma  hora extra para se trocar uma idéia e uma  chance de marcar um programinha para comemorações variadas. Às vezes esse  programinha surge inesperadamente, mas  ainda assim é encarado como bem-vindo e sempre dá pé.

        Uma certa sexta-feira que, à princípio,  estava sem nada previsto chegava ao fim quando um colega convocou-me para um choppinho rápido: "em pé" segundo ele. Na  verdade seria sentado, num barzinho novo que   um amigo comum inaugurara recentemente nas  vizinhanças do escritório, já numa fase de futuros planos. A certas convocações não se  pode dizer não...  e fomos nós "aos trabalhos". 

        Naquele dia em verdade, eu tinha a  intenção de chegar em casa mais cedo e partir
para algum programa mais dómestico talvez  até um cineminha com a mulher amada... Não tinha nada combinado em casa mas, de qualquer maneira, à principio, combinei com o  amigo do chopp que seriam apenas uns dois  chopinhos rápidos pois eu tinha ônibus do Condomínio para casa e os horários eram rígidos. Combinamos os dois chopps mesmo  sabendo  que,  tacitamente, esses chopps poderiam até  dar outras crias...

        Dito e feito. Perdi o onibus das 18:30, das 19:30 e o das 20:30, ao encontrar outro parceiro  que arrebanhava a turma para uma  comemoração: festa surpresa pelo  aniversário de outro amigo da turma. Claro  que essa chamada encontrou eco imediato no  seio desses dois desocupados biriteiros de sexta-feira.

        O passo seguinte seria apenas cada um dar  uma ligadinha para casa avisando, sutilmente,  que "um valor maior se alevantava..." e cair na  esbórnia. Conta encerrada e paga, tomamos o  caminho de casa, ou melhor, da casa onde continuaríamos a bebericar nossas cervejotas. Na cabeça a idéia de "em chegando lá" ligar  para "as patroas" (a minha odiava ser  "pensada" assim).

        Acontece que os primeiros chopps já  começavam a fazer efeito e simplesmente nem  eu e nem o Angelo lembramos de fazer a tal  ligação pra casa. Erro crasso. Danoso.

        Hoje me lembro de um filme de Buñuel (“O Anjo Exterminador”)  onde os convidados em uma festa, de repente,  se viam aprisionados por uma força estranha e  ninguém conseguia sair do ambiente  encantado onde ela transcorria. Lembro disso  porque o clima da reunião estava exatamente  igual: ninguém ia embora. A festa corria  alegre  e solta. Cervejinhas, uísque honesto,  salgadinhos cem por cento e um papo furado  de primeiríssima qualidade! Ali, resolvemos  todos os problemas nacionais. A  Seleção Brasileira formou o melhor time de todos os  tempos e fizemos um raio X das melhores e  piores qualidades das mais lindas  mulheres do momento.

        Eis que de repente o meu encanto quebrou... "descobri" que já eram mais de 4 horas da madruga... O caminho de casa era  longo. O esquecimento do telefonema avisando  em casa sobre o paradeiro no princípio da  noite, prometia. A chegada em casa exigiria pé-ante-pé e  prometia chuvas e trovoadas...

        Despedida rápida aos donos da casa, saída  à francesa para o resto da turma e um rápido  alerta ao amigo da primeira hora:
        - "Angelo, são quatro da matina e não  avisei em casa... Estou me mandando  e seja o  que Deus (ou "minha Deusa") quiser..."

        Angelo, com o choque do horário também  teve seu encanto quebrado e, por ter incorrido  no mesmo lapso, resolveu também se mandar. 

        Saímos rapidinho. Na rua peguei um táxi
para a Barra da Tijuca e ele, outro, para a Praça XV,  onde pegaria sua barca para Niterói. É claro  que quando cheguei em casa o tempo estava  fechado...

        Mal recostada na poltrona da sala com  TODAS as lâmpadas da casa acessas,  caderneta de telefones dos amigos nas mãos,  as crianças dormindo no tapete, telefone sem  fio no chão, rosto redondo e inchado de tanto  chorar, a minha queridinha me aguardava...  Mas foi com um ódio tremeluzente no olhar  que a minha amada mulher, assim que soube o que aconteceu  me deu o mais monumental  esporro que um jovem, sério e simpático marido relapso pode receber. Mostrou toda a  culpa que eu teria se ela morresse do coração,
já que havia ligado para TODOS os hospitais da  cidade, tinha sido destratada ao telefone por  alguns "gentis" policiais que atendiam nos  distritos da cidade e ainda tinha sido alvo de  chacota do funcionário do IML que lhe disse  que "os maridos sumidos de sexta-feira  normalmente não iam pra lá não, voltavam pra  casa no fim da madrugada com histórias bem  convincentes..."

        Aquela raiva monumental azedou todo o  fim de semana. E ela estava coberta de razão. 

        Fiquei morrendo de vergonha pela distração e, no máximo, me permiti rir quando  lembrei de um outro experiente colega que  sempre dizia que em sua casa, em situações  semelhantes, sua mulher só falava com ele de joelhos: - "Sai de baixo  dessa cama, se você é  homem, seu verme!" Eu me via o verme com  minha mulherzinha se ajoelhando para falar  comigo... mas não  saía de baixo da cama...

        Mas como todo mundo sabe não há mal  que sempre dure e nem bem que nunca se  acabe, apesar do fatídico fim de semana, a "prazerosa" segunda feira chegou para  desanuviar o ambiente. No primeiro cafezinho   já encontrei o Angelo meio ressabiado e parti  para, num fôlego só, contar todo o acontecido.  O amigo Angelo ficou calado todo o tempo e somente no fim, quando eu lhe perguntei se a  bronca da madrugada foi tão brava quanto a minha, é que ele, depois de uma longa tragada no cigarro, disse que não, que sua  bronca só aconteceu no sábado:

        - "Na madrugada de sexta-feira não teve  problema nenhum. Distraí, descansei e  entreguei os pontos: adormeci na barca... Só acordei  ás  9:00 da manhã do sábado já lá pela quarta ou quinta viagem de travessia da Baía e em  direção ao Rio...

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Lógica Lusitana



No fim do ano de 1992 eu li uma  notícia informando que encerrava suas  atividades a última fábrica de máquinas de escrever dos Estados Unidos... Imaginar que  num pequeno espaço de tempo toda uma  tecnologia é superada nos faz pensar.

        Vender máquinas de escrever foi uma  atividade interessante.

        Nos primórdios dos tempos dos  processadores de texto, fins dos 60’s início dos 70’s, o máximo que se  poderia imaginar nas empresas modernas era  uma máquina de escrever elétrica! Isso porque  as máquinas eletrônicas de datilografia  poderosa estavam banidas do mercado  brasileiro em função da reserva de mercado  para a informática. Daí o máximo que se  poderia almejar era uma máquina elétrica, de  esferinha e com correção automática...

        O mercado era imenso, mas muito difícil.  De todo o universo instalado de máquinas no  país, menos de 8%  era de máquinas elétricas.  Esse era o desafio: vender máquinas elétricas  num mundo de lápis, canetas esferográficas e  máquinas manuais.

        Vontade de ter suas máquinas  maravilhosas todos tinham, mas o preço  incomodava os interessados. Era nessa hora que o vendedor tinha  que partir para uma ação específica. Tinha que  ser criativo, procurar alternativas que pudessem auxiliar a venda,  o convencimento  sobre as vantagens da máquina e tudo o mais  que pudesse agregar à sua tenacidade, garra e  vontade de vender.

        Nesse exercício diário de busca de  alternativas surgiu num certo momento a   idéia de mostrar as vantagens de uma  operação casada: vantagens tecnológicas e  vantagens financeiras.

        Os profissionais mais interessados  imediatamente viram as possibilidades de se  vender quantidades maiores de máquinas se  se agregasse a essas quantidades vantagens  econômicas e financeiras. Esse caminho  apontava para o LEASING, o arrendamento  mercantil que começava a dar suas caras no mundo econômico-financeiro brasileiro de maneira mais  popular.

        Se a onda é boa você tem que estar na  crista dela, certo?

        Muito bem, todos passaram a estudar o  leasing, suas vantagens, suas possibilidades e  maneiras de abordar possíveis clientes de  múltiplas máquinas, pois essa operação exigiria um volume de dinheiro maior. Lições tomadas, vamos colocá-las em prática. Ao  Campo!
O perfil do cliente que deveria ser  motivado para essa operação seria aquele que  tivesse potencial de compra de uma dúzia de  máquinas para cima. Conhecí  uma vendedora da melhor qualidade: era  capaz de vender brasa pro capeta!
Essa  mulher saiu a campo e encontrou um  tradicional homem de negócios dono de uma  empresa de ônibus que a recebeu para  conhecer seus produtos. Era um lusitano de boa cepa, desses que chegou no Brasil,  puxou carga em feira, morou em pensão, comeu de marmita e, com todo esforço e louvor, obteve o  sucesso. Homem calejado. Sem estudo mas  com toda a experiência que a tal Universidade  da Vida oferece para quem pula de cabeça no mundo.

        Era um vitorioso empresário. Mas como cresceu, viveu. Lápis na orelha, olhos abertos e toda a atenção em quem estava do outro lado  da mesa, pois a vida lhe ensinou que para sobreviver lobo come lobo...

        E a nossa amiga super-vendedora estava  exatamente mostrando a ele como o mundo  era maravilhoso! A máquina era fantástica. A  empresa era fantástica, crescendo como  crescia. E os financiamentos no mundo de hoje  eram fantásticos pois ele, aquele calejado e  astuto empresário, poderia agora ter TODAS as  máquinas da empresa trocadas por máquinas  elétricas de esferas, corretivas, super  modernas e com mil vantagens como poderia  ser visto: ele não desembolsaria nadica de  nada; o banco que estaria fazendo o  financiamento para ele é quem pagaria ao  fabricante. Como ele não ia comprar nada (já  que o banco é que comprava) ele não  imobilizaria seu patrimônio e, portanto, não  pagaria imposto de renda! Pelo USO das maquinas ele só teria as contraprestações  mensais, o que era uma imensa vantagem pois  poderiam ser descontadas integralmente,  como despesas do imposto de renda! E ainda, no fim de três anos, ele seria o  proprietário   das máquinas pela módica quantia de Cr$1.00, cada!!!

        Nosso experiente amigo lusitano remexeu-se na cadeira, coçou o cocoruco da cabeça com  o lapis de detrás da orelha e  resolveu aplicar  seus conhecimentos para encerrar a reunião, com uma observação pela qual se pautou a  vida toda:

         - " Minha filha, m'ajude a pensaire: 'ste  negócio é muito bom para sua empresa que  vende as máquinas. É muito bom para você  que ganha a comissão ao vendeire as  máquinas para o banco. É muito bom para o  banco que vai recebeire as tais prestações com  juros, como você m'splicou. E é muito bom para mim que só tenho vantagens e no fim  ainda fico com as maquinetas. Só não entendo  uma coisa: quem é que se fode nesta história toda?  Em toda minha vida eu  aprendí a só fazer negócios sabendo quem se fode primeiro..."

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Tati-bi-tati “in english”


O fato de não se saber uma língua  estrangeira não chega a ser nenhum grande  problema. Mas certas situações acontecidas por essa razão acabam deixando lembraças  curiosas e divertidas.

        Em 1975 houve uma Convenção nas Bahamas. Um grupo de colegas  começou a se formar para esticar para a  Flórida após a Convenção. Era um grupo  grande, cerca de quinze a vinte pessoas vindos  de Brasília e Belo Horizonte que se encontrariam com outros de Rio e São  Paulo.

        Dessa turma toda talvez uns dois ou três  falassem inglês, uns quatro se defendiam e os  outros estavam dispostos a prestar muita atenção...

        Saída do Rio de janeiro á noite já com  encontros de pessoas de outras partes do país,  no aeroporto. Alí mesmo já começávamos a  estabelecer e solidificar os planos  de continuidade da viagem. A primeira coisa a ser  vista era a divisão do grupão em grupinhos  menores (que, pelo menos, se acomodassem  em carros adequados).  A idéia era formar uns
três grupos em três carros e de preferência em  números pares, para dividir apartamentos  quádruplos nos motéis da Florida afora, se possível.

        A excitação era transparente nos olhos de  boa parte dessa turma. Alí se encontrava um  bom número de colegas que estavam  debutando em andanças internacionais. Tudo  era novidade. Passaporte, dólares, presença  em eventos deste tipo. Era uma lua de mel. E, nesses casos, como se sabe,  a "noiva" sempre  ficava super nervosa (naquele tempo... 1975...  a noiva ainda ficava nervosa com certas  coisas...)

        Pois muito bem,  embarque geral e o avião  com o mais perfeito clima de ônibus escolar  em excursão ao parque. Todos a bordo, sono  pouco e agitação demais! Os estoques de bebidinhas do avião se esvaíram  completamente. Era uma festa!

        A partir do embarque, a idéia era desligar  o reloginho da preocupação e curtir tudo sem  qualquer idéia de perder tempo, dormir,  etc.
        Vôo fretado, eis que dá 5:00 da manhã e  aterrisa-se em Freeport, Bahamas! A turma  quase se atropela para respirar o  ar  Bahamense (parece coisa de Barra Mansa...)  Um mineiro entusiasmado chega do alto da  escada e dá seu grito de guerra:

        -"Eh,  Bahamas! Aqui Zé Lambreta! De Pimenta pro MUNDO!!!”

        Mas como sempre, esse tipo de viagem tem  seus percalços e por  mais que se tente  planejar devidamente, acaba sofrendo pequenas dificuldades. Acontece que na data  de início dessa Convenção dos países latinos,  encerrava-se a Convenção do Canadá. E como  seria tudo no mesmo hotel, viu-se de repente este grupo que chegava tendo que aguardar a  saída dos canadenses do Hotel onde seria o  Evento. Mas em outros tempos, dinheiro não  era o problema. O hotel definitivo não está  disponivel? Coloca a "garotada" em outro para  descansar das "estafantes" horas de vôo,  e  pronto. Dessa maneira se disponibiliza o  Hilton Hotel de Freeport por umas seis horas e depois muda a turma toda novamente.

        Como tudo era festa vamos para o hotel  alternativo. No traslado  já se tinha a decisão unânime de estar  imediatamente a postos para o que desse ou viesse. Todo  mundo na praia assim que chegasse.

        Check-in feito, cada para seu aposento.
O nosso Zé Lambreta resolve já  fazer uso de todas as facilidades à mão e liga  para o apartamento de outro colega. A telefonista pergunta-lhe se pode  ajudá-lo. Ele, impávido, busca do fundo do baú  seu inglês de colégio e lasca na mocinha:

        - " Plis, rrrroom TRI TIÚ FOR."

        Fez-se um silencio. O Zé Lambreta  resmunga alguma coisa e complementa com  um quase inaudível "TANQUIÚ",e comenta que o nosso parceiro era rapidissimo mesmo: já havia ido pro mar e  nem chamou ninguém... Achando estranho verifica-se se a ligação não havia sido  truncada. Alguém liga novamente, pede o "room 324"  e recebo o retorno da operadora:

        - " A or C, mister?"

        Descobre-se que o outro apartamento está na  parte "C" do Hotel (como o nosso) e tem-se  completada a ligação com o tal rapidinho na ponta da linha...
 Ainda sem entender direito o que aconteceu com o Zé, pergunta-se a ele o que  a operadora havia lhe dito, fazendo-o entender  aquela mensagem truncada. Singelamente ele  repete o diálogo:

        -"Eu disse: room 324. A telefonista  respondeu: 'Go to Sea, Mister'. Eu agradecí e  desliguei..."

        Pois é. Ouvidos nervosos ouvem o não dito (ou o inaudito?)... Confudiu "A or C" com "Go to Sea"...

        Na continuidade dessa viagem, aí já na tão  sonhada Flórida, formamos os grupos. Dois. O  nosso tinha "apenas" nove pessoas... Para transportar essa tropa alugou-se um Station wagon Gran Torino; Carro  confortabilíssimo... para seis pessoas,  confortável para sete mas um insuportável inferno para nove, com suas respectivas bagagens...

        Em verdade ao se montar a bagagem  geral no rack do carro transformava-se o veículo  numa bela "BOTA": quatro metros de carro  embaixo e mais uns dois em cima... Viramos  uma atração exótica: por onde passávamos éramos alvos de fotos, além de feições de espanto e  exclamações.

        Tendo em vista todas essas dificuldades,  estabeleceu-se regras de convivência:  rodízio geral de todos a cada parada, mínimo  de compras de grande volumes (um dos  participantes comprou um "Mickeyzinho" de  um metro de altura . Aliás, esse Mickey passou  sempre a ser acomodado, sentado, no topo da  bagagem), proibido tirar os tênis e respirar o  mínimo possível... A cada parada um era destacado para ficar "de vigia" no carro...

        Num certo momento, decorridos oito ou  nove dias de viagem (imaginem o tamanho da  "torre" sobre o carro!) foi dado o "alerta  máximo" para toda a tripulação: a partir  daquele momento era PROIBIDO comprar  qualquer coisa que não coubesse no  bolso (se  o bolso já não estivesse muito cheio). Dito isso  fomos nós fazer a última incursão num dos  shppings  de Orlando. Designado o "guarda" de  plantão, saíram os outros oito abestalhados  consumidores vorazes para  APENAS VER nos momentos finais. Pouco a pouco a turma foi  voltando para o carro com o último  chaveirinho, meia dúzia de cartões postais,  mais uma canetinha de lembrança, coisas  assim, respeitando o trato. Oito já estavam em  volta do carro, postergando o martírio de estar  lá dentro e no aguardo do último dos  moicanos: bonachão colega que achava que se  as coisas não tem remédio... remediadas  estão! De costas para a entrada do Mall vejo  dois colegas olhando para lá, lívidos. Um não  resiste e explode uma exclamação:

        - " O que que aquele maluco vem trazendo naquela caixa???"
        Todos se voltam e vêem nosso solitário  retardatário caminhando com dificuldades  para equilibrar um imensa caixa de cerca de  um metro cúbico em seus braços. Uns  começam a babar de ódio, outros ficam  mudos. A distancia é bastante para que as  cabeças pensantes resolvam aguardar para  questionar sobre a caixa e lembrar da  PROIBIÇÃO de novos volumes. Antes de  qualquer pergunta (ou agressão) ele já foi se defendendo e se explicando:

        - " Eu sei que era proibido comprar mais.  Mas eu não tive culpa. A culpa é do inglês que  eu não entendo direito nem pra falar nem prá  ouvir... Eu vi uns copos de cristal e lembrei que minha noiva sempre  dizia que era seu sonho, pra nossa casa,  quando nos casarmos. E a gente vai se casar mês que vem. Perguntei à vendedora, o  preço dos copos, ela me disse o preço unitário, aí eu quis  perguntar o preço do jogo todo, falando pra  ela: "All". Acho que ela não entendeu direito,  embrulhou tudo e me deu  a nota para pagar  no caixa. Eu fiquei meio sem jeito de dizer não,  paguei e vim embora..."

        Conquistou, alí, seu “direito” de ir para  o aeroporto de taxi...  Com os  copos, o  Mickey e o resto da bagagem...

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 Saudades da Aurora da Minha Vida


Cada especialista tem uma  ferramenta própria para desempenhar suas  funções.

        O vendedor de máquinas de escrever tinha  uma tarefa importante ao instalar a máquina  para o cliente: dar as devidas instruções de  uso. Nessa instalação era suposto um teste  geral de funcionamento do equipamento onde  se verificava dispositivos, funções, teclas,  teclado, qualidade de impressão, etc. Aliás  para se fazer o teste de qualidade de  impressão usava-se uma frase, em inglês, que utiliza todas as teclas de letras do teclado. "The  quick brown fox jumps over the lazy dog ç".  Números, acentos, sinais gráficos eram  digitados após essa frase.

        Nos idos de 1973 estava ocorrendo uma  automação de escritórios de uma forma incipiente. Na verdade era  o "estado da arte" da época: máquinas de  escrever, elétricas, de esferas de tipos e com  correção automática!

        As grandes empresas ou aquelas que  estavam com um enfoque de modernização de  seus escritórios partiam para esse tipo de  equipamento de uma maneira rápida. O  vendedor, naquele  momento, procurava tirar o máximo de  proveito... E para isso valia quase tudo, desde  que dentro de parâmetros comerciais éticos.  Entre esse "quase tudo" porque não usar o  charme da juventude, certo?
Numa  grande empresa que iniciava seu  projeto de  modernização de seu parque de máquinas. O  contato principal, em termos de decisão na  empresa, passava pela Superintendência Administrativa que era dirigida por um  executivo bastante dificil de ser acessado. Entretanto, sua secretária era uma pessoa  bastante simpática, com quem comecei a ter  um relacionamento muito positivo. Logo no inicio identifiquei uma  certa carência na moçoila no viço dos seus quarenta e poucos (?) aninhos presumidos... Resolvi investir neste flanco... 

        Charme vai, charme vem, ela sempre  facilitava a minha circulação na empresa, o  acesso aos níveis executivos mais importantes,  e informações sobre o andamento de solicitações e outras situações que  contribuíam para o meu atingimento de objetivo de vendas dentro da  tal empresa. Eu marotamente administrava  certos interesses e esperanças veladas  alimentadas pela minha adorável  colaboradora. Tínhamos um acordo tácito de  que alguma grande realização deveria ser  comemorada de maneira especial. Eu via essa  grande realização se materializando num  fantástico pedido de algumas dezenas ou, quem sabe, centenas, de máquinas... Ela  imaginava outras coisas...

Eu alimentava  suas esperanças, sempre  fortalecendo a idéia que num pedido especial ela,  com certeza, seria aquinhoada com u’a  máquina... também. Acontecia que o grande  pedido nunca saía e a tal "comemoração"  deixava nossa querida amiga impaciente... 

Mas eis que um certo dia eu recebo um recado  urgente da nossa amiga dizendo que havia  chegado a hora da comemoração: um fato muito importante havia acontecido e que eu  deveria ir ao encontro dela imediatamente. 

        Juntei minha pasta e corri para o cliente,  afinal parecia que a hora era chegada. Os  pedidos aumentavam e o ultimo já havia sido  de 18 maquinas numa só tacada! Iamos chegar  na centena...
        Dirigí-me à sua sala. Fui recebido cheio de  alegria, sorrisos, e olhares cúmplices...

        - "Meu vendedor predileto, chegou o dia de  comemorar! Minha máquina nova chegou!  Merece comemoração!"

        Eu juro que ouvi essa "comemoração"  como a palavra mais gulosa já ouvida. Tudo  soava meio fantasioso. Por acaso o chefe  estava em viagem naquele dia e ela informou-me que poderíamos gastar todo o tempo  necessário... A coisa começando a ficar meio  preta, comecei a praticar um certo diálogo de  surdos. O que ela falava eu não entendia. O  que ela ouvia eu não tinha falado...

        Mas tudo bem. Vamos às obrigações básicas. Instalação  do equipamento. Verificação geral de tudo e estou pronto a dar a instrução de uso. Ela, imediatamente,  revirando os olhos, disse que queria as  minhas instruções ao “seu ladinho”... e puxou uma cadeira  para perto da dela. Mostrei-lhe o beabá geral e  lógico de tudo: dispositivo, função, benefício.  Ela nervosa querendo ultrapassar todas as  barreiras rapidíssimo. Eu ganhando tempo. 

        Mas eis que dou o trabalho por encerrado  e digo que ela está completamente apta a  operar aquela maravilha tecnológica da era  moderna, não esquecendo de lembrar (sem  maldade) o quanto ela já não havia sofrido  batucando velhas Remingtons e Letteras manuais. Mas minha entusiasmada amiga não  se dá por vencida e, percebendo que a minha  fuga estava próxima, resolve apertar a  marcação. Diz que quer fazer alguns testes  mas não abre mão de minha presença ali, ao  lado dela. Sem saída, concordo. Permaneço  sentando  enquanto ela pega uma folha de  papel em branco, começa a inserir na máquina  ao mesmo tempo em que faz uma perguntinha cheia de afirmações:

        - "Romântico do jeito que você é, você deve  gostar de poesia, acertei?"

        Meio sem entender o bote e pensando na  defensiva digo que sim apesar de não "praticar  muito" o esporte da leitura ou da produção poética. 

        Ela rebate de bate-pronto dizendo que não  tem importância pois ela adora, conhece  muitas e "vivenciou" outras que, inclusive,  queria compartilhar comigo. E lascou lá,  parafraseando Casimiro de Abreu, de sua  lavra:

                Ah, que saudades que tenho
                Da Aurora da minha vida.
                Amores que tive, não quiz ter...
                Amor tão perto, deixa-me lívida...

        Obrado isto, ela com um lânguido olhar  me pede para avaliar seu verso "nascido alí,  naquele instante!" e também escrever "qualquer  coisa" para ela ver.

        Encurralado no fundo da armadilha,  respirei fundo e tasquei num só rompante:

        - "THE QUICK BROWN FOX JUMPS OVER  THE LAZY DOG Ç"

        Expliquei-lhe que precisava treinar bem  aquela frase pois tinha que testar mais 15  maquinas naquele dia e, sem dar chance de  revide, saí quase atropelando o mundo. Antes  que aquela raposona saltasse sobre esse  cachorrão que vos fala...

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Reunião de Pais


No dia-a-dia atribulado desses  tempos nem sempre se consegue sintonizar  com tudo.

        Há algum tempo atrás amigo meu sentiu  na carne as dificuldades dessas atribulações.  De repente recebeu a convocação para  participar de uma reunião programada pelos  catequistas de sua paróquia, pois seu filho  estava se preparando para a Primeira  Comunhão e ele, cristão e pai participativo, deveria estar presente em reuniões  informativas para os pais.

        Chegado o dia, sua esposa lembrou-o do  compromisso, alertando que os dois deveriam  estar juntos. Completamente atarefado  ele não  ficou muito atento à hora e entrou, como de  costume, pelo fim do expediente afora, nos  afazeres do escritório. Num certo momento  recebeu uma ligação de sua mulher, aflita,  pois ele não chegava e a reunião estaria  começando em pouco tempo. Ao perceber o  lapso já quase irrecuperável, combinou com  ela que deveriam se encontrar lá na tal reunião, recolhendo rapidamente as  informações sobre local, hora e como chegar.

        A reunião estava marcada para o Centro  Comunitario da Paróquia do bairro que, na  verdade, tinha várias atividades todas as  noites. Com as informações dançando na  cabeça, se dirigiu para lá relembrando  vagamente o combinado com a esposa: ela  estaria indo na frente, se encontrariam lá e  caso ele chegasse e a reunião já houvesse  começado não se preocupasse que se  encontrariam no  final.

        Vaga difcil, calor incomodativo, cansaço regulamentar transbordante, esse  amigo  entra  pelo Centro afora procurando a tal  reunião. Primeira sala que vê movimento   enfia a cabeça mansamente e vê um razoável  grupo de homens e mulheres sentados  assistindo um apresentador proferir uma  palestra. A grosso modo conclui que aquele é  um perfeito grupo de pais amantíssimos, como  ele, se preparando para a primeira comunhão  de seus pimpolhos.

        Com um aceno amigo e afetuoso, o  palestrante lhe faz um gesto para que entre e  tome assento. Vendo que sua presença  interrompe a atenção do grupo ele entra e,  num relance rápido de olhos, ao não localizar  sua companheira resolve se assentar no fundo da  sala para não incomodar os demais.

        A princípio estranha apenas a variedade  de faixas etárias presentes, mas imagina que  alí deve ter pais, mães, avós, avôs. E pensa,  com seu fecho-eclair, que sua presença alí é  burocrática, na verdade ele não faz mais a  menor idéia da ultima vez que freqüentou a  igreja e vê a situação como uma obrigação à  cumprir... Pensando isso atentou pouco ainda  para o discurso estranho que falava de força de  vontade, determinação, coragem, vitória,  testemunho.... Assim pensando desligou-se  em devaneios e dos devaneios acabou se  jogando nos braços de Morfeu...

        Dormiu. Dormiu pesadamente. De  repente se viu acordado por solícito colega de  reunião que lhe informa o fim do encontro.  Completamente vexado sai rapidamente para  ver onde se  encontra sua mulher que, com certeza, deveria estar por alí e também não o  viu. Na saída é puxado pela esposa amada,  junto ao padre da paróquia, que o interpela  com ares de impaciência e dúvida:

        - "Porque você não veio à nossa reunião? E o que  você fazia  na sala da reunião dos Alcoólicos Anônimos?"

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Moeda Corrente


Jogo de cintura. Esse é o nome do jogo!

        Dizem que o brasileiro é quem tem o maior  molejo, malemolência e remelexo na face do planeta. Mas é a vida que se leva por aqui que  faz isso. Se não fosse isso, como nos íamos entender o tamanho do sorriso na cara do  peão que se dependura nas apodrecidas  estruturas dos trens suburbanos de segunda  a sábado e ainda encontra vontade para se  dependurar lá de novo para ir para a geral do  Maracanã  no domingo?

        Dá prá imaginar um peão gringo? Não.  Definitivamente não dá. Agora, também é de  morrer de rir  ver a cara de um  oriundo da  grigolândia quando se depara com um  habitante desse patropi praticando esse jogo  de cintura.

        Um bom exemplo é a situação em que se viu uma amiga, vendedora bambambam e  cobra criada nas andanças de norte a sul  dessa nossa terra. Entrou para visitar um  cliente de longa data, de sua empresa, e  defrontou-se com uma fera ferida. Esse cliente se  encontrava  insatisfeito há longo e tenebroso verão. Aliás digo verão  porque, segundo ela, ele transpirava, ou melhor, derretia-se completamente em pleno  abril com o ar condicionado parado, por defeito. Como europeu observador ele comentava que  o Rio de Janeiro só tinha duas estações: verão e INFERNO... Naqueles dias de abril  estávamos deixando o INFERNO e entrando no  verão...

        O defeito no ar condicionado só servia  mesmo para aumentar a impaciência, nervosia  e mal humor do nosso amigo d'além mar. Ele  espumava de ódio por várias razões e uma  delas era o mal atendimento que andava  recebendo da assistência técnica da empresa  que minha amiga representava. Ou seja: ela  chegou na pior hora que poderia imaginar.  Teria que rebolar... Mas isso não era problema  para essa tal cobra criada. Afinal ela era uma  dessas vencedoras.

        Batalhadora. Nordestina da melhor cepa  foi criada praticando tudo aquilo que falamos  no princípio da história: jogo de cintura,  malemolência, molejo e remelexo. Rebolar  para ela era mole, mole.
        Entrou se apresentando como a nova  representante na área. Pronta para o que  desse e viesse. Queria estar ali para resolver  todos os problemas (e, lógico, vender o que  pudesse...).

        Mas nosso gringo irritado não  refrescou. Vendo uma oportunidade tão de  bandeja assim, tomou distância e partiu para o ataque.  Xingou da mãe do presidente da empresa ao  filho da vendedora. Ela, boa cabrita, não  berrava. Aguardava a fera amansar para o  contra-ataque. O caso é que ninguém  conseguia segurar a irritação do gajo. Ela  respirou fundo, deu mais tempo e continuou a  repetir que a partir daquele momento tudo se  modificaria, agora ela estava a postos para  fazê-lo o cliente mais feliz e bem atendido do  mundo. Mas continuou tomando broncas. Era  irreversível a situação de insatisfação daquele  "ex-cliente"... Passados uns trinta minutos de  incessantes reclamações, e já entrando num  círculo vicioso que não levaria a nada, a minha vendedora predileta viu que naquele dia o  assunto estava encerrado e a única saída era agradecer, despedir e tentar voltar  em outra  oportunidade.

        Tentou resfriar os ânimos do gringo e  começou a se despedir já meio incomodada  com a saravaida de bordoadas que recebeu  todo o tempo. Para encerrar a visita, retirou um  cartão de visitas da pasta e disse ao visitado que quando ele quizesse poderia chamá-la  para voltarem a discutir qualquer assunto  relativo aos negócios das duas empresas. Sem  entender que suas broncas já haviam cansado  ele ainda encontrou uma maneira mal-educada de finalizar a idéia de sua  insatisfação: disse que jamais voltaria a ter  contatos com qualquer pessoa da firma representada pela nossa amiga e como prova  do que dizia rasgou o cartão da moça em mil pedacinhos. Como nordestina acostumada a  não levar desaforo pra casa, ela cresceu pra  cima do gringo repreendendo:

        -"Pô, meu senhor, rasgar o cartão já é  desrespeito! Cada cartão custa 5 pratas, ora!"

        O gringo, ainda babando de ódio, não teve  duvida. Para expulsá-la o mais rápido possível  sacou uma nota de 10 da carteira, jogou  sobre a mesa e complementou:

        -" 'Stá lá, sanhorita, 'stá pago teu cartão!  Ponha-se daquí para fora!"

        Num gesto de malícia final e escracho ela  não teve duvida: pegou a nota de dez, puxou  outro cartão e disse para o gringo:

        -"Tudo bem. Não tenho troco, fica com outro cartão...

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Gol Contra


Elementos. Isso. Elementos são fatores fundamentais para se analisar uma situação e tomar ação. E você tem que buscá-los sempre. Onde estiverem. Não importa como. Pessoas astutas fazem isso muito bem. Nem bem entram num ambiente,  imediatamente fazem o esquadrinhamento geral do território. Tomar conhecimento de cada coisa, detalhe, marcas, pode ajudar. São os elementos fundamentais para municiar  alguma batalha.

        Batalha é o que se enfrenta todos os dias no esforço continuado de  vender. E batalha arrebata e arrebanha todos os escalões da força de vendas.

        Um amigo meu era Gerente de Filial de uma Unidade especializada na área de finanças. E, todo mundo sabe, dinheiro entra muito fácil neste tipo de empresa, mas para sair... Tem-se que suar sangue.

        Normalmente estas Unidades de Negócios da área de finanças são aquelas de onde se espera os maiores volumes de vendas. Tem muito dinheiro correndo. Tem muita oportunidade de negócios. Tem muita necessidade de fazer mais dinheiro...

        Vai-se à luta. Tarefa árdua. Batalhas duras. Guerra tenebrosa. De qualquer maneira é aquela história: herói é quem volta do front com a vitória ou um de seus troféus.

Esse amigo assestou as baterias para os seus alvos no princípio do ano quando se fez o planejamento de conta de cada potencial cliente de sua Unidade. Cada Instituição tinha lá sua análise detalhada: potencial de compra identificado, estratégias de mercado pesquisadas, ações de mercado acompanhadas com o mais refinado faro marketiano. Acontece que, apesar disto tudo, algumas ficavam sempre recalcitrantes: exigiam uma atenção redobrada. E é um trabalho hercúleo chegar nos homens de decisão e obter sua atenção,  cumplicidade e concordância.

        Nosso amigo entendia disto muito bem.  Sempre absolutamente atento, não deixava sair de sua mira as chances que vislumbrava. No tal planejamento das contas do princípio do ano identificou uma empresa que tinha tudo para dar frutos no decorrer daquele  ano. Tinha que ficar atento. Fazer trabalho meticuloso. Trabalhar afinadinho para obter seus contratos que, certamente, seriam cruciais para os objetivos de quota.

        Essa empresa era da Paraíba e tinha uma sucursal muito importante no Rio. Tão importante que o Diretor Regional era figura do mais alto cenário político daquele Estado. Estava ali como Diretor do Banco, poderia estar como Secretário de Estado em mandatos seguintes. E sabia disso. E se dava os tratos.

        O responsável pelo cliente na Filial ficou atento a todas as dicas. Trabalho profissional, atenção total e muito suor. Mas o cabra do lado de lá era duro na queda. Desconfiado. Pouco afeito às tecnicidades de seu negócio. Muito político.

        Se o jogo é político... politiquemos! Reuniões técnicas com os técnicos,  financeiras com os financistas e reuniões cordatas e políticas com os pessoal de relacionamento  e políticos.... Mas visita executiva exige nível executivo. E o representante convocou aquele nosso amigo atento, o Gerente da Filial, para uma delas.

        Fizeram a preparação para a reunião:  perfil da empresa, perfil do negócio, perfil do executivo. Aí foi estudado o perfil, o frontal, o retrato falado e de corpo inteiro do visitado. Quase tudo. Homem importante: diziam que de Diretor Regional já estava encomendado para assumir a Presidencia da Instituição num retorno à Paraíba... E homem sério. Sisudo. Nem parecia  esses bons nordestinos bonachões que nós encontramos todos os dias por aí afora.
Para nosso Gerente isso não era problema. Ele era conhecido por todos por seu constante bom humor, descontração e capacidade de colocar todos aqueles que com ele se relacionava em imediato estado de camaradagem e interação. Seria tarefa fácil lidar com o Paraibano, afinal, além de toda a relação social deste encontro, a solução técnica era de primeiríssima! E tocaram para reunião.  Vamos buscar o contrato!      

        O Paraibano aguardava.  Nossa turma: Gerente, Representante, analistas, técnicos, uma comitiva de alto gabarito, se dirigiu confiante. Recebidos pela secretária aguardaram alguns minutos, tempo bastante para aquele esquadrinhamento de ambiente que falávamos no início desta história. Neste vislumbre não passou despercebido o assunto tratado em francas risadas por alguns assessores na ante-sala do nosso executivo: o 3X1 que o Flamengo havia “enfiado” no Fluminense no dia anterior, ensolarado domingo. Com sua dor tricolor ainda se fazendo sentir registrou o fato. Em pouco tempo foram introduzidos no gabinete do visitado. Apresentações de praxe, rapa-pés, sorrisos acrílicos e o convite para todos se acomodarem à mesa de reuniões. Nesses rápidos instantes nosso amigo tricolor não pôde deixar de perceber no canto da sala uma imensa bandeira rubro-negra em imponente companhia da bandeira brasileira. Entendeu logo que o caminho do “quebra-gelo” era por alí: futebol. Ainda a considerar que o Diretor trajava uma vistosa camisa com as nuances vermelha e preta... Já sentou puxando um papo animado até demais.

        - “Belo domingo o de ontem, heim, Doutor?”

        - “É foi um domingo muito agradável.” - Respondeu.   

        - “Deixou nossa “Nação” no auge da felicidade, não é mesmo?

        - “!?!?”

        Sem perceber ainda a guarda aberta continuou na tentativa de criar o “algo em comum” entre eles.

        - “O Mengão deixou todos nós nas nuvens, né?”

        - “Eh... o Mengão...”

        - “Aquela bandeirona vai  todos os domingos ao Maraca ou “temos” uma especial em casa para essas ocasiões?”

        O Diretorzão,  meio reticente, faz um esforço para entrar no clima:

        - “O senhor é flamenguista?”

        - “Mas é claro! Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!” - Responde. (Achando que, a partir daí,  o papo deslancha).

        - “Aquí no Rio eu tenho minhas simpatias, mas é pelo Fluminense...  Flamengo, nem na Paraíba...”

        Sem entender nada, nosso Gerente de plantão tenta perceber o que está acontecendo e repassa suas observações: o papo dos assessores, a  camisa do Diretor, a Bandeira no canto da sala que, inclusive, permite se vislumbrar nas suas dobras rubro-negras a sílaba final  ...GO.  E retruca meio ressabiado.

        - “Mas se o senhor é fluminense, por que aquela bandeira do Flamengo alí no canto?”

        Sem disfarçar o mal-estar, o Diretor começa a entender e explica pacientemente:

        - “Não. Não é a bandeira do Flamengo, não. É a bandeira gloriosa da Paraíba. Com seu dístico heróico: NÉGO...” - E, meio desconfortável, começa a dar inicio à reunião para a qual se prepararam...

        Até hoje a turma toda da Filial relembra o fato de que exatamente no dia que valia a pena ser Tricolor, nosso amigo e valoroso Gerente da Filial achou de dar uma de Flamenguista... O que custou outras longas delongas e outras milongas até a obtenção daquele contrato fatídico...

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O Homicído do Cão


 Homem sério... que mistério. Muito riso... pouco siso... Minhas velhas tias Neném, Neneca e Ziroca, nos recônditos do interior mineiro, viviam repetindo estas máximas.  Elas sabiam das coisas. Macróbias e sábias  velhinhas do alto de seus setenta, oitenta, noventa anos estavam sempre a postos, prestando atenção ao mundo. E pontificavam sempre: “Lé com lé, cré com cré...” Ou seja, no popular: não mistura que dá merda...

        Pode ser uma mistura explosiva o encontro de pessoas sérias além da conta com outras que acham que é melhor perder o amigo a perder a piada. Debaixo do véu da firma passaram personagens de todos os tipos. Sorrizonhos, sorumbáticos, dispersivos, enigmáticos, seriíssimos e nem tanto.

        Tivemos oportunidades de conviver com clowns e prussianos. Aliás foi o encontro destes dois que gerou uma das situações mais hilariantes.

        Naquela mesma turma em que vicejou o “Padrinho” e aquela nordestina de outras histórias, conviveram numa mesma época  algumas pessoas inesquecíveis. Seus tipos deixaram lembranças, marcas, saudades, e só nos resta rememorar.

        Pois bem, colega do “Padrinho” que era um bonachão, na mesma Filial, existiu  um outro gerente que era a antítese do clima daquela turma. Enquadrava-se exatamente no termo usado anteriormente: Prussiano. Sulista. Originário das colônias germânicas do sul do Brasil saiu de lá para “comandar o mundo” e fazer sua vida.

        Moço super bom. Mas sério. Sério, não. Seriíssimo. Fez toda sua carreira pautado nisto: seriedade. Mas era tanta, mas tanta, mas tanta, que a turma toda passava boa parte do tempo tentando achar uma maneira de quebrar aquela seriedade toda. Valia tudo. Até mesmo levá-lo a sério.

        Liderava uma equipe de sete profissionais. Essa turma era capaz de tudo. Até vender, pois se isso não acontecia nosso pruss..., quer dizer, nosso amigo, seria capaz até de tentar implementar um campo de concentração para aqueles degenerados... Mas eles vendiam. E com isso obtinham o “direito” de exercitar às raias do inconcebível o jogo de tirar o moço do sério... Aquela Filial tinha cinco equipes com seus Gerentes e seus profissionais. Coisa de umas cinquenta pessoas. E parecia que sério só ele. Praticante. Os outros... bem.

        Conta a lenda que certo dia em reunião de equipe nosso prus..., perdão, nosso gerente sério achou que um certo profissional não dava a atenção devida que deveria dar a uma certa região do estado e resolveu pedir uma ação mais objetiva. Trabalho dirigido. Concentrado. Local. Lá. Onde a onça tinha que beber água. E, mais que isso, para demonstrar sua preocupação e ao mesmo tempo sua solidariedade, pediu um programa de visitas às cidades da região. E aí entra a solidariedade: ele iria junto fazer aquele Bye Bye Brasil no interland estadual. Estariam ombro-a-ombro pelas estradas da vida. Na verdade a solidariedade era necessária pelas circunstâncias: fim de ano, quota vencendo, e o seu profissional havia acabado de ter o carro roubado. Daí iriam no carro do gerente... 

        Compromisso feito. Compromisso assumido. Programaram a viagem e foram à luta.  Viagem boa. Bem sucedida. Muitas visitas, negócios feitos, outros levantados, perspectivas animadoras. Finda a maratona retornam no fim da semana para o repouso merecido dos  guerreiros. Pé na estrada que o fim de semana promete. Tem a turma. Tem churrasco. Tem futebol, pensa o vendedor feliz da vida. Tem uma caminhada ligeira, tem organização de trabalho para a semana seguinte, tem algumas outras obrigações, pensa nosso... gerente.

        E pensando vão e pensando vem.  Estradinha com uns buracos, mas meio vazia. E vazia, deixa nosso piloto meio descuidado. Tão descuidado que num momento  inesperado  um cachorro sai do meio do mato em desabalada carreira e se lança na frente do carro. Tragédia. O quadrúpede estúpido é atropelado... A reação é parar. O dois saem do carro observam o pobre coitado do cachorro dar os últimos uivos e suspiros já à beira da estrada e não vêem nada a fazer. Verificam o carro que sofreu uma mínima avaria e seguem em frente.

        Mas não mais que umas centenas de  metros à frente eles se defrontam com um posto da Polícia Rodoviária. Neste exato momento desperta o demônio tentador no nosso feliz vendedor. Começa  a aterrorizar o “criminoso”, o atropelador do cão, o coitado e tenso motorista que ainda não se recuperou do susto de um quase acidente de estrada por causa de um cachorro desatento.  E começa a dizer que ele tem que se afastar rapidamente pois um “atropelamento de cão” não deixa de ser um atropelamento... daí é fé em Deus e pé na tábua e rezar para não serem parados! Longe de um raciocínio lúcido nosso sério amigo concorda que aquilo pode ser verdade e é com imenso alívio que ultrapassa aquele fatídico posto.

        No sábado, já no choppinho da turma,  a história é contada sob risadas, gargalhadas e, sob os eflúvios etílicos, os amigos começam a maquinar alguma coisa para infernizar mais um pouco o nosso amigo gerente.  E vem aquela história de muito riso e pouco siso: como multiplicar o “sufôco” da sexta anterior para o piloto desastrado? Alguém sugere:

        - “Porque não NOTIFICÁ-LO judicialmente pelo atropelamento???”

        É uma idéia. Necessita refinamento e articulação. O que fazer, ou melhor, COMO fazer?
       
        Mentes malignas são criativas. Viajam. Imediatamente alguém lembrou que um documento “oficial” precisava ser utilizado, mas não era disponível. Se não estava disponível poderia ser “criado”, certo? Certíssimo!

        Um dos melhores produtos da firma era uma máquina de composição gráfica. Com ela se preparava as matrizes, para a impressão em offset,  de formulários. Estava resolvida a questão. Toda a “documentação legal” poderia ser criada para o “processo”.

        Na segunda-feira, na Filial, o caso foi contado para alguns outros que imediatamente encamparam a idéia e passaram a ser sócios na trampa... Fim de expediente, reuniram-se na sala de demonstrações e foram “aos trabalhos”... Compuseram um documento que, com boa vontade, poderia passar por uma “NOTIFICAÇÃO JUDICIAL”!!! Produziram ainda um “AUTO DE INFRAÇÃO RODOVIÁRIA” (?) e estava preparado o “imbroglio”...

        Preencheram o documento: nome, endereço, marca do carro, crime cometido, prazos, e, para sofrimento maior do nosso amigo, nenhum ponto de referência para onde ele deveria se dirigir. Simplesmente ele era um criminoso que poderia ser julgado a revelia e condenado pelo crime de “homicídio” qualificado de um cão. Sem considerar que no documento se falava do ato desumano de abandonar o ser à sua própria sorte á beira do caminho. Anti-cristão, até. Isso feito foi-se além: envio pelo correio...

        Passados dois ou três dias, nosso amigo chama o seu funcionário e colega de desdita na sua sala e relata o fato.

        - “Veja você que absurdo! “Fomos” vistos e “recebemos” uma Notificação Judicial pelo acontecido!”

        Imediatamente, e quase sem conter o riso,  o sacana autor da idéia  já  saltou nas tamancas:

        - “Epa! Alto lá, cara pálida, quem cometeu  o “crime” foi você, pô! Eu estava apenas no carro.”

        Procurando se defender ou se apegar em alguma tábua de salvação/solidariedade, o serião se descontrolou e passou a dizer que “os dois” eram responsáveis pois se ele também “fugiu,” e que seu crime era, no mínimo, de conivência ou omissão.  “Um dos dois”, bradava ele, em busca de colega de cela...

        Marotamente, o sacana ainda deixou o nervosismo do nosso sulista aumentar ainda mais dizendo que nada daquilo poderia ser verdade, pois ele afirmaria estar dormindo na hora e que o carro nem dele era. De qualquer maneira, ele tentaria ajudar pedindo um auxílio a um cunhado “advogado dos bons” e cheio de macetes para este tipo de problemas. 

        -“Deixa comigo que eu vou tentar aliviar alguma coisa de seu malfadado ato...” Amenizou. E deixou o moço sério mais uma noite às claras.

        Dois dias depois ele voltou com o resumo das “conversações” com o advogado bambambam em atropelamento de cachorro.

        - “Negócio seguinte: a sua situação é muito crítica por que o cachorro era de um amigo do Chefe do Posto da Polícia Rodoviária e tinham  testemunhas tão sérias quanto ele!  Sem contar o fato de que é muito fácil pessoas “importantes” assim conseguirem quantas testemunhas quiserem.”

         Resumindo a ópera: o alemão tava ferrado... Palpitações, goles d’água, cafezinho  e nosso amigo martirizado suplicava num fiapo de voz:

        - “Mas não tem nem um jeitinho? Era um simples cão, meu Deus! Inconsequente! Saltou feito um bólido na frente do meu veículo!  Nem uma saída no código penal???”

        A essa altura do campeonato todos da Filial já participavam das marchas e contramarchas que se sucediam. E quase sem conseguir conter o riso. Apenas nosso amigo sério levava a coisa a sério, como era sempre de seu feitio. E neste antro sempre tinha alguém para botar mais e mais lenha na fogueira. Começaram a dar um ar de recriminação.

        - “Mas como? Como uma pessoa séria como ele poderia PENSAR em soluções daquele tipo??  Jeitinho??? Era por isso que a Nação não prosperava. Só “criminosos” buscam jeitinhos ou saídas nas fímbrias da lei. Tsk, tsk, tsk...”

        E ele retorquia:

        - “Não quero melindrar a lei! Quero apenas uma solução justa! Não tive culpa!!!”

        E mais sacanas, interferiam:

        - “Sei não... Dura lex sed lex...”

        Inferno. Insônia. Insanidade. Impagável situação. Somente no momento em que nosso amigo chegou às raias da síncope apareceu uma alma caridosa para resgatá-lo deste inferno astral em que se viu colocado de repente.  Disse-lhe que o problema estava sanado, pois com a entrada do mês de dezembro chegavam as férias forense e neste ínterim ele poderia sanar a perda do dono do cão  com a doação de outro cão.  Quando ele soltou um profundo suspiro de alívio a turma que estava em volta não resistiu mais e soltou uma estrondosa gargalhada... Ele olhou no olho de cada um e de repente se deu conta que tudo aquilo não passava de um degenerado complô...E ele, a vítima... Soltou seu único  comentário:

        - “Vocês não são sérios...”

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Cala-te Boca...

 

Em boca fechada não entra mosquito... Quem fala demais, dá bom dia a cavalo... A palavra é de  prata, o silêncio é de  ouro... 

        Essas eu aprendi com aquelas tias maravilhosas, das entranhas das Minas Gerais. Mas, diga-me  lá, quantas máximas como estas,  fazendo a apologia  com a  força da palavra, todos nós não conhecemos? 

        Sábios sempre chamaram  atenção para a certeza de que palavras ditas não mais nos pertence. Pertencem aos ouvidos que as ouviram. Em tempos de gravadores (t’esconjuro, Juruna!), de vídeos, de escutas secretas, os cuidados precisam ser muito maiores.

        Bons tempos aqueles que os únicos cuidados eram não deixar com que os segredos nossos de cada dia não caíssem em ouvidos de Neidinhas para não rolar em  bocas de Matildes...

        Isso aí tudo  no mundo das fofocas, dos comprometimentos pessoais, de certas respeitabilidades.

        No mundo dos negócios as coisas se fiam por documentos. Sempre. Ou melhor: quase sempre. Ainda existem aquelas pessoas que se fazem fiar (olha o termo aí...) pelo FIO do bigode. Mesmo que não use este peludo adereço. Mas isso de fio de bigode  era coisa do passado. Hoje nem tanto. De qualquer maneira  isso sempre foi muito marcante. Falou tá falado, se vendeu o pai entrega empacotado!

        Chegou em Minas começa logo a treinar pitar um cigarrinho de palha, a esculhambar os cuidados com o Colesterol (manda torresmo!),  a apreciar a pinguinha e a não ter vergonha de apreciá-la... Aliás, teve um Gerente da Filial que promoveu um intercâmbio maravilhoso por lá nos idos de oitenta. Como havia um grupo  grande de pessoas de outros estados, regiões, morando em Belo Horizonte, ele criou a Confraria do São Bento (o bairro no qual um boa partes destas pessoas viviam). Mensalmente havia um encontro, um almoço ou um jantar, na verdade uma reunião “gastronômica” na casa de um que apresentava sua especialidade. Variava de Barreado a belas Lasanhas, passava por um jantar japonês, tardes de Dobradinhas com Feijão Branco (cozinha portuguesa!) e tipicidades mineiras como Feijão Tropeiro, Tutús a Mineira e outras delícias. Isso sim era de deixar todos de boca aberta... Sem se  preocupar com os mosquitos... E com bom proveito.

        Nesses encontros, sempre pantagruélicos, todos se esmeravam na criatividade e sabor. Foi num desses encontros que se começou um hábito bem interessante. Um dos comensais levou para um dos almoços uma pinga boa. De “cabeça”. Coisa fina. E todo mundo partiu para apreciar a coisa rara. Aplausos. Congratulações. Minutos de silêncio e reverências. Logicamente a partir daí sempre um, ou mais de um, aparecia com uma “daquelas”. Supimpa. Incomparável. E a coisa danou de entusiasmar uns e outros, que começaram a se dar ares de conhecedores empedernidos. Ficava até chato ver caras compungidas fazendo avaliações “técnicas”.

        Como falei no princípio a palavra é de prata... e o silêncio é de ouro. Deixem-me agora jogar fora umas pepitas e fazer uma confissão moleca: por duas vezes apresentei uma cachaça absurdamente velha e especial , de origem “das mais nobres e respeitáveis” que  foram avaliadas e apreciadas como tal. Entrego meu ouro hoje: Pessoal,  a pinga era de supermercado...  Afinal eu era prata da casa... E nem usava bigode...

        Mas esses comentários aí só servem para provar que se eu tivesse mantido minha boquinha fechada, todos aqueles  poderiam morrer felizes com a certeza de terem experimentado “certa vez” a melhor pinga mineira...

        Palavras ao vento. Depois desta era, veio outro Gerente que acabou tendo a  honra de inaugurar a nova séde da firma nas Minas Gerais. Prédio imponente. Robusto. Marcante. Tornaria um marco na cidade. Essa inauguração tinha que ser nos conformes. Como diriam os Wilsons Frades, os Paulos Cesares de Oliveiras, quer dizer, os Ibrahins Sueds da  nossa progressista  Beagá, “tout le monde” dos negócios, da política, da sociedade “pontificariam” naquele “open house”. 

        Programação perfeita. Coquetel. “Tour” pelas instalações e, como não poderia deixar de ser, um big “show-room” com o “estado da arte” da tecnologia que se entregava ao mundo e se disponibilizava também para a mineirada respeitável.

        Para aliviar o tecnicismo, tinha que se ter  um “appeal” especial. E assim foi feito. Prepararam umas demonstrações lúdicas, outras práticas e algumas inovadoras. Entre essas, criou-se um programa que pretendia suportar as obras sociais da esposa do Governador. Era um programa onde a pessoa poderia chegar e interagir com um terminal de computador e tomava conhecimento das realizações do serviço voluntário de assistência social da Primeira Dama do Estado e, passo contínuo, participava dos programas fazendo  doações. A idéia era magnífica. Seria uma surpresa para a mulher do Governador, para o Governador, para os demais políticos, empresários etc. Seria o máximo. A imprensa estaria presente. A repercussão seria  fantástica. Ensaiou-se tudo. Todos os funcionários deveriam dominar o sistema para demonstrá-lo, aos convidados mas o “Gran Finale” seria a demonstração desta maravilha para a Primeira Dama do Estado feita pessoalmente pelo Gerente da Filial. Esse clima parece sem sentido hoje em tempos de multimídias, internets e realidades virtuais mas naqueles tempos era papa finíssima!

        E todos se prepararam.  Tudo transcorreu absolutamente nos trinques.  Maravilha.  Se a iluminação era feérica, os sorrisos potencializavam os lux. A felicidade transbordava.

        Eis que chegou o momento. A Primeira Dama do Estado foi informada de que a empresa faria uma contribuição muito importante para o programa de serviço voluntário de assistência social que ela liderava. Deram-lhe pinceladas rápidas sobre  a “mágica” e disseram-lhe que o Gerente da Filial lhe faria uma demonstração específica sobre o programa em questão. Acorreram todos para o “show-room”. Convidados e imprensa. Um leve nervosismo, até natural, tomou conta do nosso amigo Gerente. Ele abriu um sorriso e introduziu a convidada principal nas generalidades do programa. Máquina ligada, consultou informações, viu estatísticas, listou participantes dos programas e foi para a parte final que, com certeza, deixaria nossa benemérita feliz: a tela de doações para o consulente finalizar sua passagem pelo terminal tornando-se um participante do programa social do Estado.

        Entrou na tela e, demonstrando como funcionava, prencheu os dados da firma. Razão social, endereço, CGC, Inscrição Estadual, Municipal, e todas burocraticices que assolam uma empresa séria legalmente constituída. A Primeira Dama curiosíssima. Seus assessores e assessoras,  puxa-saqueando legal, emitiam “ohs”, e “ahs” a toda mudança de tela. Maravilhavam-se. Clima ideal para o tal “Gran Finale”. Chega a tela da doação. O apresentador resolveu exemplificar com uma doação “fictícia”: dez mil sacos de feijão... No  que explode a tela com a “notícia,” a primeira Dama não se contém e de “bate-pronto” entende que aquela era a doação da empresa... E sorriu. E exclamou felicidades. E mostrou para toda imprensa presente, já sem dar a menor chance ao nosso Gerente de terminar a demonstração... como demonstração...

        Ficou a “doação”.

        Palavra de honra ali se cumpria... E cumpriu...

        A Filial foi inaugurada com um débito de dez mil sacos de feijão... 

        Palavras ao vento... Não nos pertencem mais...  Ainda que sejam palavras tecladas ao vento... E, nas Minas Gerais, falou tá falado. Não se muda o recado...

      Reveja-se o Plano Operacional...

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What???


Tem prêmios que, apesar de ótimos, deixam marcas...  têm-se que ter muito cuidado para manuseá-lo. 

        Por mais que muitos não achem ou não digam, ir viver no exterior é meio amedrontador. Pode ser a barreira da língua. Pode ser a preocupação de pintar uma solidão na multidão. Pode ser o medo de se descobrir (e se assustar). Mas ainda assim é tentador. E tudo se faz para aproveitar oportunidades deste tipo. 

        Se a coisa é a trabalho, já é bom. Se  for de férias, ótimo. Agora, se for  a trabalho, por um bom tempo, por conta da firma... Hummmm! Maraviiiilha!!!

        Esta última hipótese é a designação para função no exterior. Como o céu: alguns chamados, poucos  escolhidos.  Designado tem uma aura especial. Não caminha: desliza. Não fala: Emana opinião.

        Aquele tempo que se  passa em designação no exterior flui como uma benfazeja época de preparação para um retorno espetacular. Mais  nível, com certeza.  Quem sabe uma diretoria?   Vale o “sacrifício”.        Depois tem o retorno. Uma boa poupança.  Histórias. Lembranças. Alívios...

        Teve um conhecido nosso que, de repente, se viu “bafejado”. Foi  convidado para a tal designação. Nos States. Nem sonhava com a possibilidade. Mas ela veio. Fez os planos. Fez as malas. Foi fazer a América.

        Situação mais ou menos fácil: recém-divorciado. A grana iria entrar em boa quantidade, e se via com todas as chances de praticar outro esporte que o tornara bastante famoso: a paquera...  Mas isto extra-expediente, pois a oportunidade de carreira não poderia ser afetada por sua “testicocefalia”... ele era conhecido...  tinha que se cuidar...

        As coisas transcorriam mais ou menos sob controle. O tempo ia passando e a jornada sendo cumprida.

        Acontece entretanto que, por mais que se pretenda estar inserido naquela sociedade, o latino (hispano, pois, nao?) sempre se via meio alijado. Era a mulher da lavanderia, mal encarada e descortês. Era o vizinho “local”, de nariz torcido. Era a polícia que  sempre se liga muito mais no estrangeiro-latino que nos outros.  Nosso herói (?) desta história tem as feições meio índias, o que sempre o destacava na multidão WASP. Mas com cuidado sempre se  pode tourear situações desconfortáveis. Depende de cada um.

        A razão do sucesso do jogo está exatamente no fato de que o jogador sempre TEM CERTEZA que um dia vai dar aquele Royal Straight Flash. E com certeza um dia ele acontece. Só não se sabe quando. Como a sorte, o azar também pinta um dia. E nosso amigo esperava o primeiro sempre: jogando na loteria. E ficava  na dele esperando que o azar jamais pintasse no seu pedaço. Mas da mesma maneira que num dos testes ele ganhou uns caraminguás, seu dia de cão também apareceu.

        Num belo verão brasileiro, seu filho, depois de fazer por merecer, recebeu de prêmio as férias dos sonhos: todo o período em sua companhia: nos States! Passaram juntos dois meses inteirinhos. Céu-inferno. Findo o período, o resto das vontades foram todas feitas num exercício final de expurgação dos pecados. Cinco Reeboks? Vontade feita. Vinte bonés da NBA? Tudo bem. Coleção completa dos cards dos roqueiros de plantão? Também pode. E, para finalizar aquilo que seria o barato maior quando a “tchurma”  fosse vê-lo em casa no retorno deste Jedi: uma placa de carro (AMERICANA!), para pendurar na parede, como o troféu-mor de sua passagem triunfante pelas terras gringas. Pai sofre. Sacou sua placa dianteira, pois naquelas paragens ela não era exigida nem obrigatória. Ouvira dizer...

        Embarcou o pimpolho de volta à terra brasilis e se viu novamente tal divorciado. Livre! Só contas a pagar...

        Retornando do aeroporto lembrou de recompor a despensa depois da passagem do furacão adolescente que entupiu sua geladeira de M&M’s, Tropicana, CherryCoke e todas as outras besteiras que essa turma adora e que nem sempre bate com sabores adultos tipo, queijos, vinhos, cervejotas e pickles. Pensando assim, se mandou para o supermercado da cidade.

        A cidade era bem pequena,  bonitinha,  organizada e absurdamente tranquila. Gracinha. O supermercado no mesmo estilo. Compras feitas, nosso amigo já no caixa vislumbra um monumento feminino que ele ainda não tinha notado pelas redondezas. Redondezas da cidade, pois as “redondezas” da lebre ele notou imediatamente. Ligou o bit da testicocefalia. Endoideceu. Imediatamente se pôs em posição de “sobrevôo razante.” A mulher parecia personagem de comercial de Bardhal. Louraça tipo gasolina americana: alta com bustão...  Mas estava de saída...
Tinha que ser o super flash: um raio. Ela já se mandava para o estacionamento. Ele pagou e foi atrás. Ávido. Babante. Priápico. Tudo posto no carro, eis o nosso amigo pensando na estratégia de abordagem. E distraiu. De dentro do carro olhou pelo retrovisor para um lado e para o outro.Tudo limpo. Olhou novamente e saiu de ré, já se esquecendo dos dois meses de tumulto e alegria, céu-inferno que havia acabado de terminar e as imensas possibilidade de um paraíso com Eva e tudo se desenhando em seu futuro. Distração pode ser fatal. De repente, se assustou com um pequeno tranco e o barulho de um débil grito. Olhou para fora e viu uma velhinha absolutamente colorida estatelada no chão quase atrás de seu carro.  Saindo do veículo,  já viu  várias pessoas correrem para socorrer a pobre velhinha. Só aí descobriu que acabava de atropelar a colorida e provecta transeunte... Coisa leve. Esbarrãozinho. Mas, em terras de Tio Sam, coisa das mais graves. A cabeça rodando, ele percebe que, como um milagre,   “todos os populares”, em linguagem policial,   começam a acorrer à cena do crime. Como num passe de mágica também já começam a chegar as guarnições policiais do condado: uma, duas, três, cinco, nove.... todas! Todas!! Todas!!!

        E a cabeça  a zoar. O inglês já não fica tão inteligível. Os policiais parecem cada vez maiores e mais amedrontadores. Dois deles se aproximam já dando “uma geral” no carro. Olha frente, traseira, interior, exterior. E... pânico! Um frio percorre a espinha. A placa! O filho levou a placa que ele achou que jamais iria precisar! E os policiais imediatamente notariam a falta!

        Eis que os policiais dirigem-se a ele, interpelando e  tascam de primeira:

        - “Your driver’s license, please?”

        “Ah, meu Deus, eu tinha certeza que ia dar errado,” pensou ele, e já partiu para arranjar desculpa, e se enrolando completamente. Nem o inglês saía mais, aliás, nem saía e nem entrava.

        - “What?”

        - “Your driver’s license, please?”

        Gaguejando começou a explicar que não tinha mais...

        - “Eh... Dei de presente para o meu filho, eh...”

        O policial não entendeu nada...

        - “O senhor deu sua driver’s license de presente para o seu filho?”

        - “What?”

        - “O Senhor deu sua driver’s license de presente para seu filho??”

        Rateando e tentando processar o nervosismo, procurou amenizar a explicação:

        - “É. Ele é o único garoto da sua turma, no Brasil, que não tem...”

        - “Garoto? Seu filho é garoto? Que idade tem ele?”

        -  “What?”

        - “GAROTO? Seu filho é um garoto? Que idade tem ele?”

        - “Eh...Onze anos. Eh... mas parece treze...”

        - “Are you crazy? O que ele vai fazer com sua driver’s license, mister?

        - “What?”

        - “ARE YOU DEAF?  ARE YOU CRAZY?? O que ele vai fazer com sua driver’s license, mister???”

        A ira do policial começava a aflorar. A capacidade do coitado do nosso amigo, de perceber o que rodava em volta cada vez mais escorria pelo ralo...  Tentou explicar em três minutos, seus últimos dois meses mas finalizava ainda com uma resposta  tatibitati.
        - “Eh... Pendurar na parede de seu quarto para decoração... No Brasil... Como um troféu, sabe? Eh...”

        Sem chance. O policial tem certeza que está dialogando com um marciano, um aloprado, mais um hispano pirado,  daqueles que de vez em quando aparecem em filmes da HBO... E chama o chefe. E explica. E não encontra explicação.

        - “Tenente, este Brazilian Citizen DEU sua driver’s license de presente para o filho brasileiro que ele acaba de embarcar no aeroporto, para o Brasil. E o filho tem onze anos, parece treze, e vai pendurar a sua (dele) driver’s license na parede para decorar o quarto já que o sonho de todo garoto brasileiro de treze anos é pendurar uma driver’s license na parede...”

        O Tenente olha sintomaticamente para nosso amigo,  que de tão embaraçado já não consegue entender mais nem olhar, e tenta entender alguma coisa, antes do clássico “Teje preso”, explicando:

        - “Mister, não foi muita irresponsabilidade dar sua driver’s license de presente para seu filho  levar para o Brasil? O senhor não tinha presentes mais adequados? Umas flâmulas, uns bonés, uns posters, ou quem sabe, talvez, até a sua própria LICENCE PLATE,  já que aqui na América o senhor não é obrigado a mantê-la no seu veículo e, isso sim, é sonho de adolescente pendurar em parede de quarto?

        - “Era  isso...”

vvv
















O Padrinho.....................................................................3

Conceição......................................................................9

Amanhã, Só Deus Sabe................................................13

A Conquista.................................................................19

O Gerente....................................................................24

Michilin.......................................................................32

A Hora do Angelo.........................................................38

Lógica Lusitana...........................................................45

Tati-bi-tati “In English”..............................................51

Saudades da Aurora de Minha Vida.............................60

Reunião de Pais...........................................................67

Moeda Corrente...........................................................71

What???......................................................................77

Gol Contra...................................................................87

O “Homicídio” do cão..................................................95

Cala-te Boca ..............................................................106

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Aguardando a aprovação do amigo:


Postagem no Facebook

Justin Bieber, quer aprender a compor, toma essa...

Projeto Manhattan
Imagine quando tudo isto começou
Nos dias mortais da guerra
Uma arma que decidiria o placar
Quem quer que a descobrisse antes
Estaria certo de fazer a pior possível
Que eles já tiveram...

Imagine onde estava o homem que começou tudo isto
Um cientista andando de um lado para o outro
Em cada nação sempre disposto a explorar
Construir o maior bastão
Para ganhar a manha da vitória --
Mas não era só isso...

Refrão:
A grande explosão destruiu e abalou o mundo
Abateu o sol
O fim estava começando e atingiria a todos
Quando a reação em cadeia estivesse feita
As grandes explosões tentaram impedi-las
Tolos tentam almejar isto
As esperanças dependem de um mundo sem fim
Não importa o que os descrentes possam dizer

Imagine o lugar onde tudo isto começou
Eles se reuniram pela terra
Para trabalhar no sigilo do deserto
Todos os garotos inteligentes
A brincar com seus brinquedos grandões
Mais do que eles tinham imaginado ganhar

Refrão 2:
A grande explosão destruiu e abalou o mundo
Abateu o sol
As esperanças dependem de um mundo sem fim
Não importa o que os descrentes possam dizer

Imagine onde estava o homem que começou tudo isto
O piloto do Enola Gay*
Voando para longe da zona de impacto, naquele dia de Agosto
Todos os poderes que ainda estavam por vir, e o curso da história
Estariam mudados para sempre

Refrão:
A grande explosão destruiu e abalou o mundo
Abateu o sol
O fim estava começando e atingiria a todos
Quando a reação em cadeia estivesse feita
As grandes explosões tentaram impedí-las
Tolos tentam alemjar isto
As esperanças dependem de um mundo que não acabe
Não importa o que os descrentes possam dizer

Refrão 2:
A grande explosão destruiu e abalou o mundo
Abateu o sol
As esperançãs dependem de um mundo sem fim
Não importa o que os descrentes possam dizer
vvv