Desabafo de um telePCespectador.
"TV é uma coisa que foi inventada para entreterimento e informação do telespectador e se transformou num aparelho que utiliza você (audiência) em troca de muito dinheiro do anunciante e do governo (patrocinador) que faz uma organização (Rede de televisão) ganhar muito mais dinheiro às suas custas e em troca te dá um minutinhos de entreterimento e informação entre muitos minutões de propaganda e manipulação. Um dia inventaram uma tal de TV paga para melhorar alguma coisa para voce (Telespectador) mas a tal organização queria mais dinheiro e as melhoras foram diminuídas para pegar mais dinheiro com os anunciantes que viram a migração da Tv aberta para a paga como fonte de lucro. Voce paga muito por uma TV de última geração e se quiser aproveitá-la tem que pagar muito por uma recepção melhor e mais ainda por uma seleção de programas do seu interesse.Todo mundo ganha ? Não, voce só gasta e alimenta todo esse processo. Aí veio a Internet. Que bom? Não, pois as organizações já descobriram formas de ganhar mais dinheiro ainda com a sua permanência nas redes sociais. Eh! O negócio é relaxar e aproveitar o que voce ainda pode "Curtir" sem pagar, ou melhor pensando que não está pagando ao "Curtir" pois você pode ainda não pagar mas já tem alguém ganhando muito dinheiro com a sua "curtição". Acho que o melhor é também tentar ganhar alguma coisa nessa novela, pelo menos para pagar a prestação da TV, a assinatura,e o provedor. Abraços"
Uma citação em 14/03/2013
Descobri que minha vida está completa quando observei que em 100 % do meu tempo ativo eu passo cuidando dos meus bichos e as pessoas que eu amo não precisam mais dos meus cuidados, só do meu amor.
A Caminhada
Seu Juvenal fez 70 anos.
Após 55 anos de trabalho, finalmente seu Juvenal merece a sua esperada aposentadoria que consegue depois de um longo processo de solicitações, espera de respostas, cálculos injustos enfim, aquela “via crucis” que todos os aposentáveis nesses pais sofrem para conseguir sua parca remuneração que o acompanhará ate a sua morte.
Já em pleno gozo desse ócio, seu Juvenal dedica-se a uma caminhada matinal acompanhado apenas da sua sacola de supermercado onde carrega uma toalha para enxugar seu suor merecido e saudável que visa manter seu coração pelo menos em forma nos seus sessenta e poucos.
Numa dessas constantes caminhadas ele passa por um local onde está em crescimento uma comunidade de baixa renda (antigamente chamava-se “favela”). Ele nota que sobre um muro existem cinco meninos que o observam. Ele dá um discreto sorriso como se desejasse àquela petizada um sincero “Bom dia!”. Os meninos, aparentando timidez, não respondem. Seu Juvenal segue sua caminhada ignorando esse encontro.
Antes de chegar em casa ele passa no mercadinho como sempre faz.
Na caminhada seguinte, dois dias depois, ele passa pelo mesmo local e lá estão os mesmos garotos que agora o observam e comentam algo entre si sorrindo com o encanto dos inocentes.
Seu Juvenal devolve o sorriso e segue gastando as suas calorias.
Num outro dia cai uma pequena garoa que não impede seu Juvenal de fazer o seu exercício diário e passando por aquela comunidade fica surpreso quando vê que os simpáticos meninos assim que o vêem, descem do muro, caminham em sua direção de forma alegre e jovial que só as crianças sabem como fazer. O cercam e um deles, talvez o menor, finalmente lhe diz alguma coisa:
- E ai "vô"? Tudo bem? Vai pagar o pedágio hoje?
Seu Juvenal fica surpreso e pára na frente dos meninos que ainda o cercam e diz:
- Não entendi!
O menor, já não aparentando aquela inocência de dias atrás rebate:
- Qual é "vô”? Você usa a nossa área para passear e tem que nos pagar esse pedágio ou você acha que estamos aqui só para ver o seu desfile? Vai passando a taxa p’ra. nós.
Seu Juvenal explica humildemente que não tem o hábito de caminhar com qualquer dinheiro e solicita aos guris que aguardem até o dia seguinte, pois hoje não poderia fazer nada por eles. Os guris perguntam o que ele carrega na sacola. Ele abre a mesma e mostra a toalha e uma caixa de Bombom que leva para suas netas e entrega a toalha suada que provoca asco ao menor que diz que não precisa dela e a joga no chão que por sinal naquele local era imundo. Os garotos pegam o Chocolate saem correndo rindo e dizendo: -Até amanhã, "vô"!
Num outro dia cai uma pequena garoa que não impede seu Juvenal de fazer o seu exercício diário e passando por aquela comunidade fica surpreso quando vê que os simpáticos meninos assim que o vêem, descem do muro, caminham em sua direção de forma alegre e jovial que só as crianças sabem como fazer. O cercam e um deles, talvez o menor, finalmente lhe diz alguma coisa:
- E ai "vô"? Tudo bem? Vai pagar o pedágio hoje?
Seu Juvenal fica surpreso e pára na frente dos meninos que ainda o cercam e diz:
- Não entendi!
O menor, já não aparentando aquela inocência de dias atrás rebate:
- Qual é "vô”? Você usa a nossa área para passear e tem que nos pagar esse pedágio ou você acha que estamos aqui só para ver o seu desfile? Vai passando a taxa p’ra. nós.
Seu Juvenal explica humildemente que não tem o hábito de caminhar com qualquer dinheiro e solicita aos guris que aguardem até o dia seguinte, pois hoje não poderia fazer nada por eles. Os guris perguntam o que ele carrega na sacola. Ele abre a mesma e mostra a toalha e uma caixa de Bombom que leva para suas netas e entrega a toalha suada que provoca asco ao menor que diz que não precisa dela e a joga no chão que por sinal naquele local era imundo. Os garotos pegam o Chocolate saem correndo rindo e dizendo: -Até amanhã, "vô"!
Seu Juvenal recolhe a sua toalha e segue em frente cumprindo a sua rotina.
No dia seguinte a rotina se repete e no mesmo lugar estão os meninos que ao verem seu Juvenal o cercam e a historia se repete. Seu Juvenal novamente diz que não tem dinheiro, pois gastou o que tinha para comprar outros cinco Bombons para as netas, pois os de ontem ele haviam perdido e as meninas ficaram muito tristes.
Os meninos riram e disseram: - Ta legal "vô". Vai passando os docinhos assim mesmo, pois são muito bons. Seu Juvenal entrega-os. Os meninos correm e dizem: - Até manhã "võ"! Seu Juvenal dá um sorriso em resposta, acena e continua a caminhada.
Dias depois antes da caminhada seu Juvenal para no mercadinho e observa na banca de jornal a seguinte manchete no Extra.
“Cinco crianças inocentes morrem envenenadas ao brincar no lixo da favela.”
Seu Juvenal comenta com um outro freguês. “Puxa, que notícia trágica!”.
Dobra seu saco de plástico, põe debaixo do braço e segue sua saudável caminhada.
...............................................................
O Fazendeiro esportista
Carlos Alberto, repórter sênior do jornal “A Noticia” de Belo Horizonte tomou um atalho para chegar mais rapidamente à feira anual daquela pequena cidade do interior da qual seu patrão, o Comendador Solimões, chefe supremo e presidente do jornal tinha o orgulho de lá ter nascido e passado sua feliz infância.
No dia seguinte a rotina se repete e no mesmo lugar estão os meninos que ao verem seu Juvenal o cercam e a historia se repete. Seu Juvenal novamente diz que não tem dinheiro, pois gastou o que tinha para comprar outros cinco Bombons para as netas, pois os de ontem ele haviam perdido e as meninas ficaram muito tristes.
Os meninos riram e disseram: - Ta legal "vô". Vai passando os docinhos assim mesmo, pois são muito bons. Seu Juvenal entrega-os. Os meninos correm e dizem: - Até manhã "võ"! Seu Juvenal dá um sorriso em resposta, acena e continua a caminhada.
Dias depois antes da caminhada seu Juvenal para no mercadinho e observa na banca de jornal a seguinte manchete no Extra.
“Cinco crianças inocentes morrem envenenadas ao brincar no lixo da favela.”
Seu Juvenal comenta com um outro freguês. “Puxa, que notícia trágica!”.
Dobra seu saco de plástico, põe debaixo do braço e segue sua saudável caminhada.
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O Fazendeiro esportista
Carlos Alberto, repórter sênior do jornal “A Noticia” de Belo Horizonte tomou um atalho para chegar mais rapidamente à feira anual daquela pequena cidade do interior da qual seu patrão, o Comendador Solimões, chefe supremo e presidente do jornal tinha o orgulho de lá ter nascido e passado sua feliz infância.
Apesar da irrelevância daquele evento, Carlos havia pensado melhor e resolveu não contrariar o chefe que o intimara a ser o reporte voluntário que iria cobrir aquele festival matuto que ninguém conhecia.
Voltando ao atalho vemos uma Fiat 147 parada com muita fumaça sob o capo e um motorista desesperado caminhando até a porteira de uma fazenda a fim de conseguir ajuda ou um telefone para pedir um reboque até a cidade mais próxima que seria a terra natal do comendador.
Ao chegar na fazenda foi recebido por um jagunço que o levou até ao “Coronel”, o dono das terras que foram invadidas pela Fiat da esquadrilha da fumaça pilotada pelo intrépido “brigadeiro” Carlos Alberto.
O coronel fazia uma figura muito interessante, reunindo as características estereótipas do arrogante latifundiário e da total falta de conhecimento da língua portuguesa, isto é, falando como um verdadeiro matuto do interior trocando os pronomes, falando errado e inventando palavras ridículas como o Odorico Paraguaçu (“Aquele prefeito da novela “O bem Amado”. Lembra?” - Deixemos os "entretantos" e vamos ao "finalmente").
Carlos foi bem recebido com toda a hospitalidade mineira e após telefonar para o seguro reparou na parede da sala da casa grande onde havia várias armas dispostas como um leque.
Voltando ao atalho vemos uma Fiat 147 parada com muita fumaça sob o capo e um motorista desesperado caminhando até a porteira de uma fazenda a fim de conseguir ajuda ou um telefone para pedir um reboque até a cidade mais próxima que seria a terra natal do comendador.
Ao chegar na fazenda foi recebido por um jagunço que o levou até ao “Coronel”, o dono das terras que foram invadidas pela Fiat da esquadrilha da fumaça pilotada pelo intrépido “brigadeiro” Carlos Alberto.
O coronel fazia uma figura muito interessante, reunindo as características estereótipas do arrogante latifundiário e da total falta de conhecimento da língua portuguesa, isto é, falando como um verdadeiro matuto do interior trocando os pronomes, falando errado e inventando palavras ridículas como o Odorico Paraguaçu (“Aquele prefeito da novela “O bem Amado”. Lembra?” - Deixemos os "entretantos" e vamos ao "finalmente").
Carlos foi bem recebido com toda a hospitalidade mineira e após telefonar para o seguro reparou na parede da sala da casa grande onde havia várias armas dispostas como um leque.
O coronel observando o interesse do reporte naquelas espingardas e bacamartes encheu o peito ao dizer que era o maior colecionador de armas antigas da região e também era praticante de Tiro.
-"Sô campião de tiro ao Álvaro" falou o coronel.Sutilmente o corrigi: -"Tiro ao alvo"
falei eu.- "É isso que eu disse" falou o coronel.
Pegou um trinta e oitão que parecia o revolver do Clint Eastwood naquele filme de gangsteres dos anos 30 e acariciando-o começou a contar suas façanhas pirotécnicas ligadas aos tiros que havia dado na sua vida desde pequeno.
Durante essa conversa Carlos notou que num dos cantos do salão estava sentado um caboclo de meia idade com uma cara de sofredor de time que perdeu o campeonato por pênalti.
-"Sô campião de tiro ao Álvaro" falou o coronel.Sutilmente o corrigi: -"Tiro ao alvo"
falei eu.- "É isso que eu disse" falou o coronel.
Pegou um trinta e oitão que parecia o revolver do Clint Eastwood naquele filme de gangsteres dos anos 30 e acariciando-o começou a contar suas façanhas pirotécnicas ligadas aos tiros que havia dado na sua vida desde pequeno.
Durante essa conversa Carlos notou que num dos cantos do salão estava sentado um caboclo de meia idade com uma cara de sofredor de time que perdeu o campeonato por pênalti.
Ele estava em péssimo estado de saúde , todo enfaixado com curativos nas pernas , braços, tronco, bunda etc. Carlos perguntou ao coronel quem era aquele coitado.
O coronel sorriu mostrando seus únicos dois dentes na gengiva inferior e comentou.
“-Eu num dishe que era campião de tiro uai!”.
Pegando o trinta e oitão, colocou duas balas no tambor, botou uma na agulha e gritou p'ro caboclo que já levantara e saíra correndo capengando como podia.
“ – Vamo nessa caboco ! Pode correr que num adianta, Álvaro!”
...................................................
O Futebol do domingo.
São seis horas da manhã. Em pleno domingo a turma toda já está reunida na porta da igreja de São Pedro no Encantado.
O padre Hans Fritz que outrora fora atleta na Alemanha que por alguma razão desconhecida veio parar como pároco na nossa comunidade tinha duas paixões fora das atividades paroquiais. Uma era o nosso time juvenil de futebol (MSPFC) (Mocidade de São Pedro) com camisas e tudo e a outra é que ele adorava mecânica cujo conhecimento era aplicado no Ônibus da Paróquia que também era o veículo oficial do nosso time. Um antigo Lotação que misturava Mercedes Benz com Magirius Deutch sei mais lá o que e que só vivia enguiçado, quer dizer: manutenção permanente executada pelo Padre Fritz e seus coroinhas.
Depois da chamada geral, com todos do time presentes ,veio a esperada ordem para o embarque, pois jogo tinha hora marcada e já estávamos em cima da hora.
O embarque foi um sucesso. Muita algazarra e todo o time com confiança na vitória sobre a Mocidade de São João (Sim, aquele lá do Meriti) e claro, num campo neutro, lá pros lados de Deodoro.
O padre Fritz que daqui a duas horas seria o técnico Hans, agora era o nosso motorista que orgulhosamente deu a partida no "mercedão".
"Chique! Chique! Chique ! Toinh oinh oinh oinh!" e nada do busão pegar. Novas tentativas e nada. Nenhum sinal de fumaça. Alguém grita: - É falta de gasolina! Outro responde: - Deixa de ser burro essa treco é movido a Diesel. Outro rebate: - Então tá faltando Diesel. O Padre se desespera e manda todo o mundo calar a boca, depois manda alguns dos atletas descerem do lotação e empurrar.
Primeiro foram dois. O Bus nem se mexeu. Depois foram quatro. A mesma coisa.
E assim, de repente, todo o time já estava no lado de fora fazendo aquele estranho aquecimento dos músculos dos braços, das costas, das pernas, etc. Tentando empurrar aquela jamanta até a “distante” ladeira da Rua Guilhermina.
Finalmente na ladeira o Padre freia o Ônibus, abre a porta e manda todo o mundo entrar.
“-Eu num dishe que era campião de tiro uai!”.
Pegando o trinta e oitão, colocou duas balas no tambor, botou uma na agulha e gritou p'ro caboclo que já levantara e saíra correndo capengando como podia.
“ – Vamo nessa caboco ! Pode correr que num adianta, Álvaro!”
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O Futebol do domingo.
São seis horas da manhã. Em pleno domingo a turma toda já está reunida na porta da igreja de São Pedro no Encantado.
O padre Hans Fritz que outrora fora atleta na Alemanha que por alguma razão desconhecida veio parar como pároco na nossa comunidade tinha duas paixões fora das atividades paroquiais. Uma era o nosso time juvenil de futebol (MSPFC) (Mocidade de São Pedro) com camisas e tudo e a outra é que ele adorava mecânica cujo conhecimento era aplicado no Ônibus da Paróquia que também era o veículo oficial do nosso time. Um antigo Lotação que misturava Mercedes Benz com Magirius Deutch sei mais lá o que e que só vivia enguiçado, quer dizer: manutenção permanente executada pelo Padre Fritz e seus coroinhas.
Depois da chamada geral, com todos do time presentes ,veio a esperada ordem para o embarque, pois jogo tinha hora marcada e já estávamos em cima da hora.
O embarque foi um sucesso. Muita algazarra e todo o time com confiança na vitória sobre a Mocidade de São João (Sim, aquele lá do Meriti) e claro, num campo neutro, lá pros lados de Deodoro.
O padre Fritz que daqui a duas horas seria o técnico Hans, agora era o nosso motorista que orgulhosamente deu a partida no "mercedão".
"Chique! Chique! Chique ! Toinh oinh oinh oinh!" e nada do busão pegar. Novas tentativas e nada. Nenhum sinal de fumaça. Alguém grita: - É falta de gasolina! Outro responde: - Deixa de ser burro essa treco é movido a Diesel. Outro rebate: - Então tá faltando Diesel. O Padre se desespera e manda todo o mundo calar a boca, depois manda alguns dos atletas descerem do lotação e empurrar.
Primeiro foram dois. O Bus nem se mexeu. Depois foram quatro. A mesma coisa.
E assim, de repente, todo o time já estava no lado de fora fazendo aquele estranho aquecimento dos músculos dos braços, das costas, das pernas, etc. Tentando empurrar aquela jamanta até a “distante” ladeira da Rua Guilhermina.
Finalmente na ladeira o Padre freia o Ônibus, abre a porta e manda todo o mundo entrar.
Ah! Outra algazarra! Todo o mundo a bordo! E lá se foi o bólido descendo a ladeira abaixo.
Os tiros que ouvi daquele motor velho e enferrujado devem ter acordado metade do Encantado, mas finalmente entre a algazarra dos atletas, os tiros e a fumaça preta poluindo a Rua Guilhermina, o Lotação pegou e lá fomos nós para Deodoro com toda a alegria e já devidamente aquecidos para disputa dominical com o pessoal da baixada Fluminense.
Você pensa que acabou a história? Que nada.
O veiculo enguiçou na Piedade, em Quintino, em Cascadura, em Madureira, em Osvaldo Cruz, em Bento Ribeiro, em Marechal Hermes, ah não, em Marechal Hermes paramos para abastecer. Outra confusão. O padre esqueceu a carteira na igreja, Tivemos que fazer uma vaquinha para colocar a gasolina, digo , o óleo Diesel.
Na saída do posto outra aventura. Mais uma vez êle também não quis pegar.
Em todas as paradas a cena foi a mesma:
1- Todo mundo sai, todo mundo empurra.
2- Tiros e fumaça preta
3- Algazarra
4- Todo mundo entra
5- “Vamo embora minha gente”
Finalmente chegamos ao destino com algumas horas de atraso. Sorte nossa que a a Mocidade de São João chegou depois da gente e alegaram que tiveram um probleminha com a condução. Coitados.
Pra finalizar, no final da tarde de domingo alguém comentou com o Padre o seguinte.
-Padre Fritz . Foi bom, Tudo bem. Ganhamos o Jogo. Mas da próxima vez não
precisamos levar o seu Lotação, Tá bem?
Ah! Nem te conto a volta.
...........................................................
Os tiros que ouvi daquele motor velho e enferrujado devem ter acordado metade do Encantado, mas finalmente entre a algazarra dos atletas, os tiros e a fumaça preta poluindo a Rua Guilhermina, o Lotação pegou e lá fomos nós para Deodoro com toda a alegria e já devidamente aquecidos para disputa dominical com o pessoal da baixada Fluminense.
Você pensa que acabou a história? Que nada.
O veiculo enguiçou na Piedade, em Quintino, em Cascadura, em Madureira, em Osvaldo Cruz, em Bento Ribeiro, em Marechal Hermes, ah não, em Marechal Hermes paramos para abastecer. Outra confusão. O padre esqueceu a carteira na igreja, Tivemos que fazer uma vaquinha para colocar a gasolina, digo , o óleo Diesel.
Na saída do posto outra aventura. Mais uma vez êle também não quis pegar.
Em todas as paradas a cena foi a mesma:
1- Todo mundo sai, todo mundo empurra.
2- Tiros e fumaça preta
3- Algazarra
4- Todo mundo entra
5- “Vamo embora minha gente”
Finalmente chegamos ao destino com algumas horas de atraso. Sorte nossa que a a Mocidade de São João chegou depois da gente e alegaram que tiveram um probleminha com a condução. Coitados.
Pra finalizar, no final da tarde de domingo alguém comentou com o Padre o seguinte.
-Padre Fritz . Foi bom, Tudo bem. Ganhamos o Jogo. Mas da próxima vez não
precisamos levar o seu Lotação, Tá bem?
Ah! Nem te conto a volta.
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O enfermeiro do quarto cinco
Uma profissão admirável é a enfermagem, principalmente quando vemos no profissional um exemplo de dedicação, paciência e ternura durante o atendimento ao seu paciente.
Mesmo o mais valoroso enfermeiro pode ter um dia em que alguma coisa inadequada acontece como foi o caso do assistente de enfermagem que estava recebendo uma crítica severa do médico de plantão durante o seu turno de serviço. Assim aconteceu:
-Pois é senhor Amélio. Esse remédio deveria ser dado ao paciente há duas horas atrás. E por sua incompetência todos os procedimentos médicos pré-cirúrgicos desse caso foram desperdiçados. Esbravejava o Dr. Saboya contra o diminuto Sr. Amélio que não dera o medicamento ao paciente do quarto cinco que por sinal fizera muito sucesso quando na sua internação provocou cochichos das enfermeiras que o reconheceram como aquele famoso lutador de Box Evander Hollyfield que massacrou o nosso Maguila no inicio do primeiro round. Bem, essa é uma outra estória. Voltemos à cena da bronca.
O Sr. Amélio cabisbaixo aceitava a reclamação do médico e após ouví-la falou ao doutor em tom bem baixo e grave.
-Dr.Saboya. Se coloque no meu lugar. Às sete horas entrei no quarto cinco e acordei o paciente para lhe dar o remédio. Este com um tremendo mau humor acordou, olhou para mim com uma cara de Rottweiller segurou o remédio que era um pequeno supositório e perguntou-me.
-O que eu faço com isso?
Doutor! Na hora eu pensei em responder, porém pensei bem, sai calado e fechei a porta na esperança que ele soubesse o que fazer com aquilo.
No meu lugar o senhor responderia?
O médico coçou o queixo, observou o paciente e resmungou.
É! Tens razão! Desculpe pela bronca.
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A Cura da Dengue
São nove horas de uma manhã de verão agitada na cidade tropical.
Todos os órgãos de defesa pública , hospitais , clínicas particulares, forças armadas estão de prontidão e agindo de forma incansável para atender a enorme demanda de pessoas atingidas pela pior epidemia de Dengue que já se ouviu no país.
Infelizmente outro setor público que também aumentou a sua atuação na cidade foi o dos cemitérios que não param de receber novos inquilinos despejados de suas vidas devido `a essa praga que só o prefeito parece não dar a devida importância ao fato.
Ele, o prefeito, se limita apenas a discutir o problema estatístico para provar que ainda não estamos no estado de epidemia ou viajando para o nordeste onde foi pedir ao Santo que levasse todos os mosquitos Aedes Aegypti numa enorme nuvem em direção ao oceano e ainda sugeriu que todos habitantes da cidade usassem calças compridas e camisas sociais para se protegerem do mosquito da Dengue , inclusive nas praias .
Alheio a essa futrica político-social observamos num laboratório de pesquisas de uma universidade local vários cientistas debruçados sobre seus estudos procurando obter uma solução definitiva para o problema que em menor ou maior grau esta presente em todos os verões desde que um navio americano nos trouxe o famigerado mosquito, bem ,essa é outra estória.
Um dos cientista faz uma observação no mínimo curiosa :
“ Por que o moquito Aedes Aegypti não morre ou passa mal quando pega Dengue ?
Houve um silêncio geral. Cada professor olhou para o lado esperando uma resposta do colega que não vinha , ouviu-se apenas um “OHHHH!
Talvez aí estivesse a solução do problema.
Imediatamente todos começaram a pesquisar o mosquito tentando encontrar as suas defesas para esse mal pois era apenas o portador e nada sofria com o tal vírus.
Já estavam no caminho da descoberta quando o prefeito soube da pesquisa e rapidamente resolveu interferir na universidade, evidentemente buscando para si os holofotes que acenderiam ao se divulgar essa notícia.
Alguns cientistas eufóricos com os resultados já comentavam a liberação da vacina imediatamente para interromper a epidemia . Outros mais cautelosos queriam fazer mais testes para aumentar e segurança e eficácia . O prefeito dizia que esses cientistas eram da oposição e queriam que a vacina só fosse utilizada na próxima gestão que provavelmente não seria mais do seu partido.
Afinal de contas, “poder é poder” e venceram os primeiros. A vacina foi colocada a disposição da população e com o maior alarde internacional foi anunciada o fim daquela epidemia pois realmente as estatísticas mostraram o sucesso daquela descoberta.
Todos os estados e paises que tinham o Aedes Aegypti solicitaram a vacina e todos viverem felizes para sempre ;
quer dizer;
até que um dia numa famosa praia tropícal no verão seguinte já sem Dengue uma menininha virou para a mãe e perguntou :
- Mamãe que são essas listras pretas e brancas que estão aparecendo nas nossas pernas e , olha só , na pernas e braços dos outros banhistas também? e olha que engraçado aquelas anteninhas e o enormes bicos pontudos !
Adoro Kafka !
Todos os órgãos de defesa pública , hospitais , clínicas particulares, forças armadas estão de prontidão e agindo de forma incansável para atender a enorme demanda de pessoas atingidas pela pior epidemia de Dengue que já se ouviu no país.
Infelizmente outro setor público que também aumentou a sua atuação na cidade foi o dos cemitérios que não param de receber novos inquilinos despejados de suas vidas devido `a essa praga que só o prefeito parece não dar a devida importância ao fato.
Ele, o prefeito, se limita apenas a discutir o problema estatístico para provar que ainda não estamos no estado de epidemia ou viajando para o nordeste onde foi pedir ao Santo que levasse todos os mosquitos Aedes Aegypti numa enorme nuvem em direção ao oceano e ainda sugeriu que todos habitantes da cidade usassem calças compridas e camisas sociais para se protegerem do mosquito da Dengue , inclusive nas praias .
Alheio a essa futrica político-social observamos num laboratório de pesquisas de uma universidade local vários cientistas debruçados sobre seus estudos procurando obter uma solução definitiva para o problema que em menor ou maior grau esta presente em todos os verões desde que um navio americano nos trouxe o famigerado mosquito, bem ,essa é outra estória.
Um dos cientista faz uma observação no mínimo curiosa :
“ Por que o moquito Aedes Aegypti não morre ou passa mal quando pega Dengue ?
Houve um silêncio geral. Cada professor olhou para o lado esperando uma resposta do colega que não vinha , ouviu-se apenas um “OHHHH!
Talvez aí estivesse a solução do problema.
Imediatamente todos começaram a pesquisar o mosquito tentando encontrar as suas defesas para esse mal pois era apenas o portador e nada sofria com o tal vírus.
Já estavam no caminho da descoberta quando o prefeito soube da pesquisa e rapidamente resolveu interferir na universidade, evidentemente buscando para si os holofotes que acenderiam ao se divulgar essa notícia.
Alguns cientistas eufóricos com os resultados já comentavam a liberação da vacina imediatamente para interromper a epidemia . Outros mais cautelosos queriam fazer mais testes para aumentar e segurança e eficácia . O prefeito dizia que esses cientistas eram da oposição e queriam que a vacina só fosse utilizada na próxima gestão que provavelmente não seria mais do seu partido.
Afinal de contas, “poder é poder” e venceram os primeiros. A vacina foi colocada a disposição da população e com o maior alarde internacional foi anunciada o fim daquela epidemia pois realmente as estatísticas mostraram o sucesso daquela descoberta.
Todos os estados e paises que tinham o Aedes Aegypti solicitaram a vacina e todos viverem felizes para sempre ;
quer dizer;
até que um dia numa famosa praia tropícal no verão seguinte já sem Dengue uma menininha virou para a mãe e perguntou :
- Mamãe que são essas listras pretas e brancas que estão aparecendo nas nossas pernas e , olha só , na pernas e braços dos outros banhistas também? e olha que engraçado aquelas anteninhas e o enormes bicos pontudos !
Adoro Kafka !
Esse Texto Não é Meu mas achei interessante disponibilizá-lo nesse local.
MÃE DE ANTIGAMENTE:
Coisas que nossas mães diziam e faziam do seu jeito e impondo limites.
Era uma forma, hoje condenada pelos educadores e psicólogos, mas funcionava. .
Minha mãe ensinou a VALORIZAR O SORRISO...
'ME RESPONDE DE NOVO E EU TE ARREBENTO OS DENTES!'
Minha mãe me ensinou a RETIDÃO...
'EU TE AJEITO NEM QUE SEJA NA PANCADA!'
Minha mãe me ensinou a DAR VALOR AO TRABALHO DOS OUTROS...
'SE VOCÊ E SEU IRMÃO QUEREM SE MATAR, VÃO PRA FORA. ACABEI DE LIMPAR A CASA!'
Minha mãe me ensinou LÓGICA E HIERARQUIA...
'PORQUE EU DIGO QUE É ASSIM, E PONTO FINAL! QUEM É QUE MANDA AQUI?'
Minha mãe me ensinou o que é MOTIVAÇÃO...
'CONTINUA CHORANDO QUE EU VOU TE DAR UMA RAZÃO VERDADEIRA PARA VC CHORAR!'
Minha mãe me ensinou a CONTRADIÇÃO...
'FECHA A BOCA E COME!'
Minha Mãe me ensinou sobre ANTECIPAÇÃO...
ESPERA SÓ ATÉ SEU PAI CHEGAR EM CASA!'
Minha Mãe me ensinou sobre PACIÊNCIA...
'CALMA!... QUANDO CHEGARMOS EM CASA VOCÊ VAI VER SÓ!'
Minha Mãe me ensinou a ENFRENTAR OS DESAFIOS...
'OLHE PARA MIM! ME RESPONDA QUANDO EU TE FIZER UMA PERGUNTA!'
Minha Mãe me ensinou sobre RACIOCÍNIO LÓGICO...
'SE VOCÊ CAIR DESSA ÁRVORE VAI QUEBRAR O PESCOÇO E EU VOU TE DAR UMA SURRA!'
Minha Mãe me ensinou MEDICINA...
'PÁRA DE FICAR VESGO MENINO! PODE BATER UM VENTO E VOCÊ VAI FICAR ASSIM PARA SEMPRE!'
Minha Mãe me ensinou sobre o REINO ANIMAL...
'SE VOCÊ NÃO COMER ESSAS VERDURAS, OS BICHOS DA SUA BARRIGA VÃO COMER VOCÊ!'
Minha Mãe me ensinou sobre SEXO...
'E COMO VOCÊ ACHA QUE VOCÊ NASCEU?!'
Minha Mãe me ensinou sobre GENÉTICA...
'VOCÊ É IGUALZINHO AO SEU PAI!'
Minha Mãe me ensinou sobre minhas RAÍZES...
'TÁ PENSANDO QUE NASCEU DE FAMÍLIA RICA É?'
Minha Mãe me ensinou sobre a SABEDORIA DE IDADE...
'QUANDO VOCÊ TIVER A MINHA IDADE, VOCÊ VAI ENTENDER!'
Minha Mãe me ensinou sobre JUSTIÇA...
'UM DIA VOCÊ TERÁ SEUS FILHOS, E EU ESPERO QUE ELES FAÇAM PRÁ VOCÊ O MESMO QUE VOCÊ FAZ PRA MIM!'
Minha mãe me ensinou RELIGIÃO...
' É MELHOR REZAR PRA ESSA MANCHA SAIR DO TAPETE!'
Minha mãe me ensinou o BEIJO DE ESQUIMÓ...
'SE RABISCAR DE NOVO, EU ESFREGO SEU NARIZ NA PAREDE!'
Minha mãe me ensinou CONTORCIONISMO...
OLHA SÓ ESSA ORELHA! QUE NOJO!'
Minha mãe me ensinou DETERMINAÇÃO...
'VAI FICAR AÍ SENTADO ATÉ COMER TODA COMIDA!'
Minha mãe me ensinou habilidades como VENTRÍLOGO...
NÃO RESMUNGUE! CALA ESSA BOCA E ME DIGA POR QUE É QUE VOCÊ FEZ ISSO!'
Minha mãe me ensinou a SER OBJETIVO...
EU TE AJEITO NUMA PANCADA SÓ!'
Minha mãe me ensinou a ESCUTAR ....
'SE VOCÊ NÃO ABAIXAR O VOLUME, EU VOU AÍ E ARREBENTO ESSE RÁDIO!'
Minha mãe me ensinou a TER GOSTO PELOS ESTUDOS..
'SE EU FOR AÍ E VOCÊ NÃO TIVER TERMINADO ESSA LIÇÃO, VOCÊ JÁ SABE!'
Minha mãe me ajudou na COORDENAÇÃO MOTORA...
JUNTA AGORA ESSES BRINQUEDOS!! PEGA UM POR UM!'
Minha mãe me ensinou os NÚMEROS...
'VOU CONTAR ATÉ DEZ. SE ESSE VASO NÃO APARECER VOCÊ LEVA UMA SURRA!'
"Brigadão Mãe!"
...............................................................
Confissão
A qualquer leitor
Desde quando eu era criança, ouvia uma frase com palavras que , naqueles momentos, não faziam muito sentido para mim.
"Deus escreve certo por linhas tortas"
Até há poucos anos me parecia ser apenas uma frase feita com algum sentido de efeito fonético para ilustrar crenças ditadas por religiosos tanto cristãos ou não.
Precisei ter algumas experiências muito pessoais para realmente entender a fundo o significado dessas palavras.
Não me considero pessoa religiosa apesar de ter crescido num ambiente onde predominavam as crenças católicas e principalmente as experiências ligadas ao
espiritismo, experiências estas sempre presente em pessoas da minha família que de alguma forma expressavam fenômenos ditos mediúnicos.
Sempre fui muito cético em relação a esses fenômenos buscando sempre uma razão materialista para esses eventos que eu acreditava poderem ser efeitos
psicológicos individuais ou coletivos.
Com o passar do tempo me afastei totalmente da religião mas tinha no meu íntimo uma certa crença em alguma coisa, mesmo não sabendo expressar,
que, de alguma forma influenciava na minha vida em momentos especiais fossem eles positivos ou negativos.
Também me tornei egoísta, e egocêntrico e o pior; é que isso não me incomodava.
Em muitas situações negativas aconteciam sempre eventos que de alguma forma me auxiliavam a tornar essas situações negativas em
positivas. Simplificando : Furar pneu em frente a um borracheiro, Perder a carteira , voltar horas depois procurando e achar alguém que a encontrou e guardou para mim.
Dormir no volante e não acontecer nada de mais.
Achava isso estranho e pensava : " Puxa vida!!! Tive muita sorte." Isso aconteceu em muitas ocasiões, em situações cotidianas ou situaçoes mais graves envolvendo risco de vida.
No fundo eu receava que essa "sorte " pudesse um dia " me abandonar pois eu não me sentia grato por essas coisas. Achava que era apenas "sorte".
Em paralelo tinha uma curiosidade sobre assuntos espirituais : Vida após a morte,kardecismo,Culturas e religiões orientais e até mesmo melhores explicações sobre a religião Cristã pois essa era a minha formação e me era difícil aceitar outras crenças senão as baseadas na minha formação.
Apesar de me considerar um Cristão tinha muitas dúvidas sobre a realidade dessa crença , principalmente as coisas que aprendi nos catecismos da minha infância.
Busquei respostas em várias experiências fora dos alicerces católicos e vi que precisava ter uma experiência física para ter as respostas que eu procurava mesmo sem saber quais eram as perguntas adequadas.
Me identifiquei com a doutrina kardecista , porém essa só me dava respostas literárias às minhas dúvidas, precisava de algo mais palpável.
Resolvi participar de um seminário de Projeciologia . Li muito a respeito e fiz as experiências iniciais desse processo. Tive experiências interessantes envolvendo sonhos , controle desses sonhos, e até experiências fora do corpo (porém ainda tinha dúvidas se eram experiências reais de projeciologia ou se eram apenas sonhos controlados por técnicas que aprendi nos seminários, enfim, apesar das experiências , ainda não tinha as respostas que eu procurava.
Tomei conhecimento do movimento Ateísta. Li a respeito e conclui que eles também estavam errados pois observei que no fundo eles também tinham apenas uma crença que era " Não acreditar em nada".Isso não me convenceu.
Continuei na mesma e com todas as características de personalidade que já citei.
Em determinado momento agi concientemente errado e no meu íntimo desafiei a mim mesmo uma prova espiritual onde , de alguma forma eu pagaria por aquele erro. A resposta veio rápida.
Aconteceu uma circunstância que para mim foi uma reposta clara do tipo:
"Errei,e por isso estou pagando por esse êrro específico de uma forma muito doloroso em determinado momento e logo a seguir um sentimento de que tive muita "sorte" por não ter acontecido algo pior".
Mesmo assim não me transformei positivamente após aquela circunstância e novamente me vi na mesma situação de antes, claro que em circunstâncias diferentes porém com os mesmos sentimentos envolvendo egoísmo , intolerância , soberba e até mesmo covardia. Nesse momento tive consciência do meu comportamento negativo e novamente fiz o mesmo desafio.
"Não deu outra".
Imediatamente aconteceu o mesmo fenômeno anterior.Conclui: Não foi coincidência. Para mim foi uma resposta que eu só poderia obter de alguma coisa fora de mim com total conhecimento sobre a minha vida apesar das decisões serem tomadas só por mim.Fica muito difícil para mim descrever essas experiências de forma explícita porem afirmo que elas realmente aconteceram dessa forma e a minha conclusão foi:
Obtive as resposta que eu precisava porque eu entendi as perguntas que deveria fazer. Fiz as perguntas, obtive as respostas corretas apesar do sofrimento que foi intenso porém curto e suportável.
Aprendi muito com as respostas que obtive e agora sei que só depende de mim continuar de forma mais positiva e vi claramente as mudanças que tenho que fazer para isso e no fundo da questão conclui também que as minhas crenças duvidosas estavam corretas. Existe sim uma consciência fora de mim que de alguma forma influencia a minha vida e eu preciso estar em comunhão com essa consciência para viver melhor não importa se a minha própria consciência continua após a morte ou não.So espero ter coragem suficiente para mudar o que for preciso e aceitar o que for inevitável de uma forma justa e sem qualquer sentimento de mágoa.
Vai ser dificil .
Mas sei agora que esse é o caminho.
Fiz esse texto com uma emoção que nunca tive antes. Não quero convencer ninguém. Apenas tentei expressar um sentimento que eu tive nesse momento. Registrei para não perder essa emoção.
Grato.
Eu
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lembrete
PS. pessoal : Apenas para não cair no esquecimento resolvi enumerar os últimos casos vivenciados:
1- A Invasão dos 4
2- O Falso sequestro
3- O fim da conta
4- O escape da J.
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"A VIDA e a CERTEZA ( para o próprio )
A vida consciente é um conjunto de eventos felizes e infelizes, sofredores e prazeirosos que levam a um final doloroso e à morte.
Feliz aquele que tem a certeza de que a vida seja apenas um evento transitório para a consciência.A fé apenas não é suficiente.
Infeliz aquele que não tem ESTA certeza.
Não importa a verdade pois, durante a vida, muito poucos terão esta ou aquela certeza.
As vezes me sinto como esses "muito poucos".As vezes me sinto como a maioria.
Por isso ainda sofro..."
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Recebi esse email do amigo Zé.
Gostei do texto e inseri no Blog.
O apartamento contíguo ao meu foi alugado há mais ou menos 1 ano. Os novos inquilinos que vieram são uma famíla de 4 pessoas. A mulher, 2 filhos, 1 de uns 8 anos e outro de uns 12 e o marido. No começo tentaram azucrinar com um rock e congêneres em som bem alto. Tendo eu respondido com uma boa missa de Vivaldi e algumas fugas e tocatas de Bach , em volume na mesma altura, eles se tocaram. Não se puseram em fuga mas a coisa se acalmou.
Depois teve o menino, o mais novo, que tocava minha campainha e quando eu abria a porta ele ficava me fitando, olhos arregalados, expressão divertida. Pensei que Gabriel , esse seu nome, fosse meio retardado. Com o tempo , vi que não. É o contrário ! Esperto demais.É estranho, mas ele queria isso mesmo: ficar olhando para mim. Até o desculpei perante a mãe dele um certo dia. Ela disse que ia chamar a atenção dele. Pela forma com que ela falou, ponderei:
- Tudo bem, senhora,acho que ele gosta de mim, senhora, não precisa se preocupar. Tudo bem.
Desculpei-o pelas campainhadas. Acabaram parando. Aí vieram as marcas de bolas nas paredes do corredor comum. Coisa do mais velho, talvez ou de um menino de outro apartamento.
Mais recentemente, marcas de pneus de bicicleta na parede próxima à minha porta. Aí já estava dando no saco !
Há poucos dias, eu estava "atacado", quando ouço uma barulhada do lado de fora. De bobeira abri a porta. Eram os 2, o maior com sua bicicleta. Eu não tinha o que dizer mas o menor ingenuamente, creio, perguntou por que eu havia aberto a porta. Cheio de bronca explodi:
-Que que você tem com isso...que estou abrindo minha porta ??!!
O garoto saiu em disparada. Depois me arrendi de ter dado aquele esporro no garoto. Hoje liguei o interfone. Gabriel atende. Me desculpo e digo que não estava brabo com ele. Me vi aos 73 pedindo desculpas a uma criança. Me senti bem com isto. Sou generoso, pensei. Pedi que ele então chamasse a mãe dele (eu queria também me desculpar com ela, o que fiz). Só que ouvi claramente quando Gabriel, gritando, chamou a mãe para atender ao interfone:
- Mãe, é o velhinho...
José
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Não é meu ( Recebi sem a autoria) , gostei e coloquei no blog)
O Estranho
Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu um estranho, recém-chegado à nossa pequena cidade.
Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com este encantador personagem, e em seguida o convidou a viver com nossa família.
O estranho aceitou e desde então tem estado conosco.
Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem já tinha um lugar muito especial.
Meus pais eram instrutores complementares:
Minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas o estranho era nosso narrador.
Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias.
Ele sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir, e me fazia chorar.
O estranho nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, enquanto o resto de nós ficava escutando o que tinha que dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora me pergunto se ela teria rezado, alguma vez, para que o estranho fosse embora).
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas o estranho nunca se sentia obrigado a honrá-las.
As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… Nem por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse. Entretanto, nosso visitante de longo prazo, usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.
Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas o estranho nos animou a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência pelo estranho.
Repetidas vezes o criticaram, mas ele nunca fez caso aos valores de meus pais, mesmo assim, permaneceu em nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que o estranho veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era ao principio.
Não obstante, se hoje você pudesse entrar na guarida de meus pais, ainda o encontraria sentado em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu nome?
Nós o chamamos Televisor...
Nota:
Pede-se que este artigo seja lido em cada lar.
Agora tem uma esposa que se chama Computador
e um filho que se chama Celular!
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Recebi do meu primo, Pena não se sabe quem é o autor.
Pergunta: Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão "no frigir dos ovos"?
Resposta:
Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem idéias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.
E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas. Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.
Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.
Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas, como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.
Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou. O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente. Por outro lado, se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco... A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois, quando se junta a fome com a vontade de comer, as coisas mudam da água pro vinho. Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.
Entendeu o que significa “no frigir dos ovos”?
....................................................................... Autor desconhecido: Um professor estava diante de sua classe de filosofia e tinha alguns itens na sua mesa em sua frente. Quando a aula começou, ele sem dizer uma palavra pegou num frasco de maionese grande e vazio e começou a enchê-lo com bolas de golfe. Ele então perguntou aos alunos se o vidro estava cheio. Eles concordaram que estava. O professor, então, pegou uma caixa de fósforos e despejou dentro do vidro. Ele agitou-o levemente. Os palitos de fósfoforo rolaram para os espaços entre as bolas de golfe. Ele então perguntou novamente se o vidro estava completo. Eles concordaram que estava. O professor pegou uma caixa com areia e despejou dentro do frasco de maionese. Claro, a areia preencheu todo o resto. Ele perguntou novamente se o vidro estava cheio .. Os alunos responderam com um unânime 'sim'. O professor em seguida pegou duas cervejas que estavam debaixo da mesa e despejou o conteúdo do frasco preenchendo todos os espaços vazios entre a areia. Os estudantes riram .. 'Agora', disse o professor como os risos, 'eu quero que vocês reconheçam que este frasco é a VIDA. As bolas de golfe são as coisas importantes --- sua família, seus filhos, sua saúde, seus amigos e suas paixões favoritas --- e se tudo estivesse perdido, elas continuariam ali, sua vida ainda estaria cheia. Os palitos de fósforos são as outras coisas que importam, como o seu emprego, sua casa e seu carro .. A areia é todo o resto --- as pequenas coisas. "Se você colocar a areia primeiro no vidro ", ele continuou," não há espaço para os palitos de fósfoforo e as bolas de golfe. O mesmo vale para a vida. Se gastar todo o seu tempo e energia com as pequenas coisas, você nunca vai ter espaço para as coisas que são importantes para você. Preste atenção às coisas que são determinantes para a sua felicidade. Gaste tempo com seus filhos. Gaste tempo com seus pais. Visite seus avós. Cuide da sua saúde. Leve o seu cônjuge para jantar fora. Haverá sempre tempo para limpar a casa e cortar a grama. Tome cuidado com as bolas de golfe primeiro --- as coisas que realmente importam. Defina suas prioridades. O resto é só areia. Um dos estudantes levantou a mão e perguntou o que a cerveja representava. O professor sorriu e disse: "Estou feliz que você perguntou." A cerveja só mostra que não importa quão cheio sua vida possa parecer, há sempre espaço para um par de cervejas com um amigo! Textos escritos por um amigo da IBM (Marcio Linhares) com muita criatividade e bom humor
O Padrinho
Marcio Linhares
Pois é. A gente passa o tempo olhando para fora da
janela e nem sempre vê as coisas acontecendo assim do ladinho da gente. Eu
andava pensando em ler algumas historias pitorescas acontecidas por ai quando
me dei conta de que isso é o que não faltou durante a vida da gente. Muitas
lembranças. Muitas marcas. Risos. Imensas gargalhadas.
Houve um
tempo em que a camaradagem era risonha e franca. Até certo ponto.
Garoto
novo, recebeu a notícia alvissareira de
que iria ser pai. Se babou todo. A Firma em peso acompanhou essa gravidez. Ele
ficou grávido. Angustiado. Mas feliz. Imensamente feliz.
Em
chopinho comemorativo exagerou na contagem e não resistiu: convocou seu gerente
para ser o padrinho do rebento que estava a caminho. O escolhido não se conteve
de alegria: era a primeira vez que recebia essa homenagem. Aliás, até comentou
que por algumas vezes já havia se insinuado para irmãos e primos mas nunca
tinha sido aceito. E, magoado, dizia que era um eterno incompreendido pois já
havia ouvido "à boca pequena"
(ou seria "ouvido" pequeno?) que sua turma o tinha em conta de
grande biriteiro... Ingratidão. Mas agora tudo estava resolvido. Alguem confiou nele e aquilo
merecia um porre, certo? Tomou de pleno direito.
Nosso
jovem papai é que começou a tourear umas dificuldades quando comentou em casa
esse seu gesto de fraqueza... A futura mamãe, que não olhava com bons olhos o
tal compadre, custou a engolir o desatinado gesto do marideco. Mas encaixou. O
tempo regulamentar se esgotou e na data prevista nasceu o pimpolho. Aliás,
pimpolha. Festas, parabéns, charutos, fraldinhas e outros equipamentos fizeram
parte da semana.
Passados
os primeiros dias, já se programou uma reunião a caráter para se conhecer a herdeira, assim como levar
os parabéns à feliz mamãe.
E reunião
que se prezasse para aquela turma tinha que ter cervejotas, um escocês de boa
indole e estirpe, um poquer amigo e toda uma tarde para desenrolar esse
assunto. Assim dito, assim feito.
Sabado marcado, turma bem concentrada e seja o
que Deus quiser. Churrascão pra ninguém
botar defeito, tira-gosto preparado pelas mulheres da turma e um sol de rachar,
para esquentar a moringa de todos.
Noitinha
adentrando, todos já "calibradíssimos" quase não conseguiam segurar
as cartas no poquerzinho amigo junto com o uísque da rebatida. O Padrinho,
feliz da vida, resolve sair da mesa para fazer um pipizinho. Entre a sala e o toalete, ele se lembra da
grande honra e resolve dar mais uma corujada na sua afilhada de tanto orgulho.
Entra no quarto, pé-ante-pé, testemunha um soninho angelical, não resiste e
resolve dar um terno beijo de padrinho na princesa. Perdeu o controle: a revolta
dos intestinos falou mais alta e ele, sem domínio, cobriu sua prenda daquele
vômito de borbotões... Com a sutil delicadeza e inconsciência que só os bêbados
regulamentares têm, ele se empertigou, limpou o rostinho lindo da lindeza,
puxou o cobertorzinho e voltou impávido para a mesa de jogo.
Passados
alguns soluços, eis que entra sala adentro, tal qual locomotiva, desembestada
morro abaixo, a mãe amantíssima, a futura comadre, a anfitriã da tarde que, com
uma intuição ao mesmo tempo feminina, materna e divina, baba uma tonitroante
pergunta:
-
"Quem foi o filho da puta que vomitou na minha filhinha???????"
Fez-se
silêncio sepulcral e todos os olhos se dirigiram para aquele que ainda tinha
manchas na camisa... O padrinho ainda na defensiva resolveu por panos quentes:
-
"Deve ser ninguém não, ora, neném vomita mesmo..."
A réplica
veio já com um cortante olhar que buscava armas no ar:
-
"Ah, é? E neném vomita rodela de tomate? Salaminho?. Queijo provolone e
azeitona, seu filho da puta!?!?!
Até hoje
se sabe que esse padrinho às vezes é visto perambulando nas redondezas da casa
de seus ex-compadres...
vvv
Conceição
Vendedor tem que ter tato. Vendedor tem que ser
perspicaz. Tem que ter boa memória. Tem que ser... vendedor! Mas isso é um
longo e penoso exercício de observação, aprendizado, treinamento, tempo, tempo
e mais tempo. Senão suas façanhas se transformam em páginas do folclore.
Eis que
um jovem rapaz, recém iniciado na promissora carreira de vendedor de máquinas
de escrever, certo dia recebe um chamado de um interessado em adquirir uma
daquelas modernas máquinas elétricas. Verifica o chamado e vê que o local é um tradicional
colégio religioso da cidade. Ao chegar no tal colégio dá de cara com uma
simpaticona coroa (para seus olhos de vinte e poucos anos) que o recebe,
informando que o Padre que deveria atendê-lo não está mas o assunto poderia ser
tratado com ela mesma. O jovem garoto, no afã de fazer bons negócios, ser
produtivo e racionalizar seu precioso tempo, não chega a prestar atenção nos
gulosos olhares que a pantera lhe lançava...
Juventude é assim mesmo. Nem sempre se está atento
para o salão onde a festa realmente
ocorre. Vagueia pelos corredores... Mas deixa estar.
Vida
nova. Quota grande. E a perspectiva de um negócio faz com que nosso herói parta
para papagaiar as vantagens da maravilhosa máquina. Distribui folhetos
coloridos do mágico equipamento e,
impertubável, continúa sem olhos para as gulodices da dona... Dona
aliás, como já observado, apenas para seus jovens e distraídos olhos de poucos
anos em flor. Na verdade, uma saudável balzaqueana no fulgor e calor de seus
irrequietos quase quarenta anos de labutosas pelejas pelos bares da vida. Mas
nosso jovem só via a quota...
Como quem está na guerra não abandona as armas, nossa
bela coroa vai á luta e parte para um ataque mais direto. Frontal. Diz que conhece o gato. Não
se lembra de qual telhado. Nosso garoto começa a dar suas coordenadas: seria da
Faculdade de Ciências Econômicas? Do Colégio Clemente Faria? Dos bailes do
Guarujá? Do edifício onde funcionava a firma.??? Coquetemente houve uma
possível concordância em alguns pontos
pois a fera era rodada nos bailes da Belô de grandes amores. Distraidíssimo
esse adormecido galã saiu do encontro pensando onde poderia ter conhecido a
Conceição, aliás um nome bem comum na sua memorabilia.
Começou a
mastigar suas lembranças, recordações, registros. Sua etapa seguinte com a
Conceição seria apenas no inicio da semana seguinte. Mas a tarefa o deixava irriquieto. Chegado o
dia da volta, do novo encontro, ele pôs-se novamente a mergulhar nas lembranças para encontrar o
porto daquele barco. Memória boa. Cuca fresca. Vontade férrea. Ele encontrou a
resposta.
Entrou lépido para o encontro e sapecou na coroa:
-
"Me lembrei de onde nós nos conhecemos: você foi minha professora no primário,
no Grupo Escolar Cesário Alvim!"
Desnecessário
dizer que não vendeu a máquina e iniciou seu longo e grande aprendizado com
memória boa, cuca fresca, vontade férrea e sutileza de elefante...
vvv
Amanhã
só Deus sabe...
A vida do
vendedor é uma constante luta pelo aprimoramento do processo. É a busca pela
rapidez, velocidade, multiplicação de nossos recursos... E tudo se faz em nome
dessa busca.
Motocicleta! Rápida, valente,
máscula, dominante, ágil. Maravilha...
Juntar
essa sede de buscar resultados, com a motocicleta dá em casamento perfeito. Quantas visitas se pode
fazer a mais, dispensado do trabalho de procurar a vaga, de respeitar os
cânones legais do transito... A imaginação voa. A motoca permite tudo isso.
Pois é.
Pensado: feito. Eis o vendedor montado
em seus cavalão japonês: Suzuki! 380 cc! Pronto para a luta.
O
problema é que nem sempre se tem tempo para as burocracias nossas de cada dia.
A moto não tem a documentação adequada? Não, não tem... Depois se cuida disso.
Na verdade falta documentação de transferência, de regularização de
importação, propriedade, e habilitação
para dirigir o veiculo... Bobagem. Depois se cuida disso...
A quota
urge e chama. O cliente não pode esperar. O território é imenso e difícil...
Quem sabe nas férias se cuida disso.
Pois
vamos à luta! O Adjunto do Diretor de grande banco chama urgente para atender o
gosto do Chefão. Esse tem fama... Chamou, corre lá que a fera é brava! Mas é
também a grande chance de se chegar ao nível mais alto de decisão, o que poderá
render frutos maiores e em grandes quantidades.
Visita
longa. Formalíssima. O homem é alemão dos pés à cabeça. E a cabeça por dentro e
por fora... O encontro, entretanto, termina muito bem, com marcações de passos
seguintes promissores.
Na saída,
a respiração ainda ofegante. Mas satisfeito. Valeu. Marcou a presença e garantiu
a continuidade de contatos em alto nível.
A valente
Suzukinha espera na porta do Banco. Com ar de vitória, nosso heroi monta na bichona e parte para o
seu dia que promete muito e que apenas se iniciou com bons presságios.
Cruzamento
perigoso esse da Afonso Pena com Amazonas, pô! Toda a cidade passa por aqui
pelo menos uma vez por dia. Gente da terra e visitantes. E que visitantes...
Chegou em Belô para tentar a vida, primeiro ponto de referencia é a praça Sete.
E a mineirada passa por ali todo tempo, tal como se estivesse ainda nos
saudosos pastos das terras deixadas: boissonsando.
O
intrépido e motorizado vendedor atravessa a Praça. Sinal fecha, ele pára e a turma
passa. Sinal abre mas a mineirada não respeita a combinação: ele quer passar e
os passantes, como o próprio nome já diz, também, apesar do sinal fechado. Ele
acelera, passante avança, ele freia, passante reflui.
Arrancada
definitiva e o tal sonso passante resolve seguir em frente também... Agora sem
perdão: piloto prum lado, motoca pra outro, e o passante estatelado no chão...
E o coitado do assustado motoqueiro coberto de razão... Mesmo porque todo
cuidado é pouco quando se sabe 100% irregular no centro da cidade...
Depois do
susto, uma rápida limpadinha no terno e um esporro monumental no sonso meio
tonto que cambaleia até o meio-fio para cuidar do galo que cresce na canela:
- "Seu irresponsável! Não vê que o sinal
estava aberto para mim, pô! Eu atravessei e você saltou na frente, pô! Todo
mundo está de prova que você fez merda, pô!"
E nessa
verborragia autodefensiva o confuso vendedor vê o perigo se aproximando: o PM
que cuidava do pedaço, a uns 50, 70 metros nota o rolo e começa a se dirigir
para o local.
Atento,
não titubeia: levanta a motoca, pergunta se está tudo OK e, nervosamente, saca
um cartão de visitas e entrega para o acidentado com uma recomendação entre
confusa e magnânima:
-
"Você fez uma grande merda. Eu estou muito atrasado (isso com um olho no
peixe e outro no gato, ou seja no PM que continuava a vir), tô vendo que não é
nada sério mas se você precisar de alguma coisa me dá uma ligada, pô!" E,
olímpicamente, se manda antes da chegada
do PM...
Fim de
tarde, dia longo, trabalho duro, nosso herói (!) chega à firma para finalizar
suas atividades diárias: caderneta de relatório de visitas e registros dos
contatos iniciados naquele dia:
- Putz, onde eu fui meter aquele cartão
do Sr. Adjunto, pô!
vvv
A Conquista
Certos vendedores são eternos conquistadores.
Conquistam seus territórios. Seus clientes. As secretárias dos clientes... E o
que mais pintar na sua frente. E toda hora é hora de caça. No coquetel, aborda
o cliente potencial. No almoço, a secretária do Executivo e, nas horas vagas,
outras tais que pintarem na frente...
Dois
simpáticos vendedores da Belo Horizonte sempre lembrada, em visita ao badalado
Minas Tenis Clube deparam, de repente, com uma situação super agradável:
intervalo de ensaio do famoso "Holliday On Ice" que piruetava pelas
Minas Gerais. Coisa bonita. Mulheres lindas. Roupas minúsculas. Tesão em alta.
Sem medo
das dificuldades várias, tipo barreira de idioma, incongruência de atividades,
não refrescaram e partiram para uma abordagem de conquista. Conseguiram
"reserva" no programa de duas estrelinhas deslumbradas que começavam
naquela temporada sua volta ao mundo. Talvez por isso tão fácil... (ciúmes do
narrador? É possível...)
Logicamente,
curta temporada oferece shows todas as noites. Qualquer tentativa de uma
aventura furtiva para aquelas ferinhas teria que ser pós-espetáculo... Mas uma
conquista desta vale todos os sacrifícios! Depois do show, meia-noite no hotel
da trupe. Apesar das aparências, showbis
americano também manera nas despesas e o tal hotel era um 2,5 estrelas. Com boa
vontade... Localização bandida. Perto da zona... do agrião. Mas conquista é
conquista e se for preciso invadir território adversário isso será feito!
Nossos já
citados simpáticos, e agora no calor da noite que promete, elegantes
vendedores-conquistadores se mandam para a vigília de espera e esperança. Para
tanto, uma cervejinha no boteco ao lado do hoteleco. Barra meio pesada.
Território meio desconhecido para profissionais de sucesso...
Entre
agitados e nervosos, eles ficam aguardando e saboreando a cervejota no balcão.
Apesar de vendedor e conquistador, um dos nossos heróis é bem chegado num
receiozinho... Começa a comentar a chance de algum daqueles mal encarados
freqüentadores ali presentes, resolver dar uma estranhada na dupla... o que
faria com que todo o programa imaginado, ardente ou on-the-rocks, desse em água. O negócio é que, quando se imagina
alguma coisa, o fantasma acaba tomando forma. Os dois começaram a imaginar que
estavam sendo encarados, que tinha neguinho bêbado enciumado, que a camisinha
de griffe famosa azedava o clima que se respirava no ambiente... E por aí afora.
Pra
disfarçar o nervosismo, o mais valente resolve dar uma mijadinha. Ainda
pensando na belicosidade das caras
presentes começa a imaginar o "plano de ação” caso tudo acontecesse
mesmo: "ação fulminante, porrada
incessante, e sem diálogo!" O caso
é que o capeta atenta mesmo. No que sai porta afora do banheiro do boteco ele vê, de longe, seu parceiro de conquistas
ser "peitado" por um desconhecido.
Nervoso,
se encaminha para o lado deles e vê o "agressor" dar um passo atrás
meio titubeando, voltar e dar nova peitada no indefeso amigo. Sem nenhuma
dúvida partiu para o plano: deu uma porrada na orelha do indivíduo e, antes que
ele respirasse ou voltasse para trás para ver de onde partia a carga, levou um
bicudo na bunda. O bar inteiro não entendeu nada quando os dois fugiram em
desabalada carreira, pois a única reação do agressor-agredido foi deixar
escapar, se desdobrando com seu peculiar
ruído, uma daquelas bengalinhas escamoteáveis, de cego...
vvv
O
Gerente
Idos tempos.
Tempos idos. Mas inesquecíveis.
Poderíamos
dizer que a informática tinha
romantismo... Tempos de "Cérebros Eletrônicos"!!!
Estou
relembrando os estonteantes anos sessenta!!! Quanta velocidade nas máquinas!
Quanta capacidade de memória! E o "Aquário"??? Era como se chamava
o Centro de Processamento de Dados, o
CPD... E dentro do aquário tinha outro: a sala do Gerente do CPD.
É, ele
era um cara importante pacas... Muitos
tinham certeza que ele era um cara de QI altíssimo (e QI era o máximo!). O tal
Gerente do CPD, ou melhor, A TURMA do CPD era tão atrevida que ousava até usar
barba!!!
Idos
tempos... Mas de tudo fica um pouco. Nem
que seja apenas lembranças...
A gente busca no fundo do baú algumas lembranças
fantásticas. Quase inacreditáveis...
Num
distante dia de 1963, uma empresa com
dinheiro disponível resolveu entrar nesse tal mundo dos "cérebros
eletrônicos". Convincentemente, o Representante do fabricante dos
computadores mais famosos do mundo mostrou à empresa que era chegada a hora da
modernidade. O futuro tinha chegado ontem de tarde e ninguém ainda tinha
percebido. Era a hora de entrar na era mágica.
Como eu
disse antes, eram tempos de romantismo. "O que faz o computador?"
Perguntava-se nos corredores.
Silenciosamente algum diretor ousava
responder:
- "Computa." E isso bastava.
Nos
"bastidores" dessa trama o corajoso
investidor quase num pacto de cumplicidade buscava
no Representante a certeza de ter tomado uma decisão correta. E dividia
a responsabilidade:
-
"Meu prezado, cabe a você trazer
para a empresa o tal Gerente do CPD que você conhece. Cabe a você me assessorar
na implantação dos sistemas, contratar os
programadores, cuidar dos meus programas. Cabe a você etc, etc,
etc."
Aliás, o
ansioso Representante, na hora de
assinar o contrato, prometeu tudo. Afinal, seriam seis meses até a data
da entrega. Haveria tempo bastante para atender as promessas.
Mas o
ponto crucial seria o tal Gerente do CPD! Esse sim seria a figura principal, e
sobre ele a promessa foi de dedo cruzado:
-"Eu conheço o melhor Gerente de CPD da
cidade e ele vai trabalhar para vocês."
Isso na
verdade foi a razão final para o contrato ser assinado e entregue ao nosso
amigo representante, vendedor e, a partir daquele dia, head-hunter...
Está
certo que promessa é dívida, mas promessa para longo prazo pode-se
neglicenciar um pouquinho. Afinal seis
meses é uma longa estrada...
Apesar de
estarmos falando dos longínqüos idos dos 60´s, também naquela época o tempo
passava, voava e corria feito água de enxurrada pós-tempestade: célere. A
contagem regressiva transcorreu sem que o
nosso já agora ocupadíssimo Representante se desse conta de lembrar da tal dívida... E no que distraiu
foi pego, "de repente", pela quinzena que antecedia a entrega do
computador, ...e pela convocação
imediata dos já quase computonautas,
eufóricos para uma reunião geral da diretoria no fim da tarde do dia seguinte. Nesta ele
deveria se apresentar com quem? Isso mesmo: com o Gerente do CPD...
Uma
vontade imensa, deslumbrante, fantasmagórica de morrer se apoderou dele.
-"E
agora? Esqueci do trato e não tenho o tal Mago que foi o ponto da decisão da
compra!!!"
Mas o
nosso amigo, como já sabemos, era um grande representante, vendedor e
head-hunter, certo? Pois agora era só questão de encontrar a tal cabeça em cima
de ombros convincentes.
Tomou o
telefone, pegou sua caderneta de
endereços e partiu para a caçada. Em vão. Não existia um mísero Gerente
de CPD desempregado (bons tempos aqueles...) NA TERRA, naquele maldito dia. Já, já, seria a sua
cabeça que estaria a prêmio...
Fim do
dia, desespero em alta, nosso herói toma o caminho de casa certo que aquela
noite seria uma noite de cão. Na ida para a toca parou no velho e conhecido
posto de gasolina onde sempre abastecia. Num gesto mecânico entregou as
chaves para o frentista e solicitou que
enchesse o tanque. Com o olhar perdido nas luzes bruxuleantes (naqueles tempos
as luzes bruxuleavam!) acompanhou um vagalume zonzo que pousou no ombro do
frentista. Daí fez-se a luz! Numa análise rapidíssima ele percebeu que o frentista
era um rapaz bem apessoado, cabelos
cortados e penteados, barba feita e que, fora daquele local, poderia passar
perfeitamente bem por um... GERENTE DE CPD!!!
Pensado.
Feito. A abordagem foi direta e sem direito de "defesa" para o rapaz:
-
"Meu filho, você quer ser Gerente de
CPD?"
Para uma
pergunta tão direta e enigmática a resposta tinha que ser uma só:
-
"!!!???"
É claro
que essa resposta foi prontamente
entendida como um sim e o nosso head-hunter imediatamente passou para os
pontos seguintes da questão. Explicou ao já futuro Gerente de CPD o primeiro passo: a reunião do
dia seguinte. E nela uma missão clara: entrar mudo e sair calado. Qualquer
pergunta feita a ele seria prontamente respondida pelo apresentador do
Gerente. Salário ele não deveria se
preocupar pois seria vinte vezes o que ele ganhava enchendo os tanques e o saco
dos fregueses do posto.
Ah, tinha
um ponto: a reunião seria de terno e gravata e isso não era problema pois ele
tinha um terno novinho e lindo em casa e teria o maior gosto em emprestá-lo,
além de oferecer a camisa e ensinar a dar o nó na gravata. Melhor que aquilo tudo só pão com
ovo!!!
Talvez
por total falta de chance de recusar a oferta, nosso amigo ex-frentista e futuro-Gerente-de-CPD catatônicamente acabou
achando a coisa mais natural do mundo
marcar o encontro no dia seguinte na casa do nosso Representante, vendedor, Head-Hunter e, a
partir daquele dia, "Fado-Madrinho" de Gato Borralheiro...
Parece
mentira mas atendendo às recomendações
do guru e mentor, mantendo-se no mais caloroso silencio, nosso frentista nasceu
naquele dia, numa reunião de diretoria,
como um novo Gerente de CPD...
Os quinze
dias passaram ligeiríssimos. Houve pouco tempo para começar a ouvir falar de
bits, bytes, memória, discos, cartão perfurado, classificadora, e todas aquelas
maravilhas existentes no moderníssimo mundo dos cérebros eletrônicos de
antanho. E passaram mais quinze, e os primeiros trinta. Como muitos sabiam
pouco, poucos saberiam muito. Nosso
ex-frentista tomou gosto pela gravata, camisinha branca, terninho escovado,
salário transbordante e pulou de cabeça no aprendizado. Com muito esforço e
dedicação transformou-se naquilo que contrataram: um grande Gerente de CPD. De
barba e tudo.
Tempos
idos. Tempos românticos.
Ah, a
propósito: nosso ex-frentista hoje é um dos diretores da tal empresa...
vvv
Michilin
A barreira da língua já foi mais séria. Hoje todo
mundo é, pelo menos, bilingüe. Mas há algum tempo atrás, não. O inglês era
desejável. Outra língua já seria luxo.
Isso fazia com que certos amigos nossos passeassem pelo português, mas escorregavam catastróficamente em outros idiomas que porventura se
aventurassem. Quando se aventuravam! O
fato é que alguns se emudeciam
completamente quando saíam do planeta
Brasil e, quando se arriscavam a tentar falar algo em língua estrangeira, se transformavam em bisonhos índios de filme americano
tipo, "eu querer uan cloque",
ou seja; não passavam do clássico "my name is..."
Na
verdade, esses alguns eram pessoas muito especiais. Tinha um que o simples fato
de sair do Brasil o tornava quase autista! Tinha dificuldades para entender até o português!
Isso fazia com que a Convenção Internacional, anual, da firma, fosse ao mesmo tempo céu e inferno...
Em 1982 a
Convenção foi em Buenos Aires. A
princípio isso era, mais ou menos, bem
visto pelo nosso amigo, afinal espanhol era o português falado pelo Cantiflas,
certo? Errado. Isso foi descoberto já no avião,
quando foi interpelado por um “cucaracha” se poderia se assentar em seu lugar "en la
butaca de la ventana"... O mundo veio por terra pois a partir dali ele já
achava que o mexicano na verdade era um marciano com passagem pela Grécia para aprendizados lingüístiscos...
Sem entender nada amarelou um sorriso e
fingiu dormir todo o tempo da viagem para evitar que os dois tivessem que
monologar... Talvez na Argentina, quem
sabe, mais pertinho do Brasil se falasse
o espanguês/portunhol ou o que o valha.
Ledo engano.
Na
"aduana" (?) um funcionário já passou
gritando: "Boletos de vacuna en la mano, señores!" E ele concluiu que realmente
estava entrando num mundo ininteligível... Daí para decidir se agarrar a alguém como muleta
foi um pulinho. Nós dois estávamos no
mesmo apartamento e a partir daquele
instante passei a ter um colega xipófago. Coladinho em mim. E de boquinha que só se abria raramente,
e para comer.
Olhos sempre assustados, nosso amigo navegava pelo Sheraton Hotel de Buenos Aires olhando tudo de segunda
mão, ou seja; se você vai eu também vou,
se você viu eu vi também. Nesse trem nosso amigo foi ficando comodista. Treinou
os dedinhos para mostrar ao garçon que do prato pedido as porções seriam duas,
que a opção de lazer seria comum aos
dois, que os valores a pagar em cada
conta seriam iguais. Ali eu via nascer
um mais-que-perfeito pastiche de Marcel
Marceau em performances castelhanas.
Mas tudo
cansa. E aquele reflexo ao meu lado
começava a me incomodar. Daí, que tal
tentar dar uma "amestrada" no garoto? Insistia para que ele escolhesse o menu (mesmo
apontando), mudava meu pedido quando ele
arriscava o "da-me dos"
e ainda encorajava-o a tentar falar as
obviedades.
Isso não
era nenhuma sacanagem: era uma tentativa
honesta (e cansada) de mostrar ao meu
dileto amigo que se cego-mudo-surdo
sobrevive no mundo ele também tinha alguma chance...
Esta
grande chance chegou num dia em que ele
de repente se viu sem "moneda" e precisou fazer câmbio. Logicamente a primeira
alternativa dele foi me solicitar que fosse fazê-lo por ele. Era uma coisa tão
trivial que eu me neguei e me dispus,
no máximo, acompanhá-lo até a recepção
do hotel, não sem antes, Claro, instruí-lo, passo a passo, o que fazer:
-"Diga
ao recepcionista que você quer CAMBIAR
MONEDA, POR FAVOR. Entregue- lhe sua nota de vinte dólares. Assine o recibo (O
BOLETO!) que vai receber. Pegue sua grana.
Diga MUCHAS GRACIAS e cai fora que sua
missão está terminada com êxito! Ainda assim nosso catatônico amigo pediu, como
auxílio final, que estivéssemos juntos
na operação... Tudo bem. Se é por uma
boa causa, vai-se ao sacrifício.
Instruções
na cabeça, notinha de vinte dólares na
mão, dirigiu-se ele à recepção do Hotel.
Dava pra perceber que a angústia ainda
passeava pelo semblante do, agora, quase independente, livre e solto
turista em terras estrangeiras!
Ao mesmo
tempo se via também uma vontade
impaciente de resolver esse medão desnecessário. Sabia o script, era só atuar.
- "A
sus ordenes, Señor.", Atendeu-o o
recepcionista.
-
"Eh, CAMBIAR MONEDA, POR FAVOR"
(Certinho, certinho!)
-
"Quanto quieres?" (essa não estava no
script mas deu para entender pois
lhe soou "muito" familiar...)
A resposta foi extender,
silenciosamente, seus vinte dólares. Grana recolhida, eis que o
recepcionista lhe passa o tal BOLETO,
mas EXPLICANDO!!!!
-
"Su firma, Señor." Pela experiência anterior da "familiaridade" do termo ele
não teve duvida e tascou lá: IBM do Brasil Ltda...
Já ia
saindo quando o recepcionista o interpelou:
-
"No, señor, solamente su apelido."
Impávido
ele olhou para o recepcionista, para o
boleto, para a caneta e já confundido
com o pedido estranho não teve duvida e
escreveu junto à "FIRMA": MICHILIN...
vvv
A hora do Angelo
As grandes camaradagens existiram em todos os tempos. O chopp do final do expediente,
o papo furado no cafezinho, as piadas
trocadas e disseminadas na hora do
almoço, a purrinha...
Sempre se
tem um minuto a mais, uma hora extra para
se trocar uma idéia e uma chance de
marcar um programinha para comemorações variadas. Às vezes esse programinha surge inesperadamente, mas ainda assim é encarado como bem-vindo e
sempre dá pé.
Uma certa
sexta-feira que, à princípio, estava sem
nada previsto chegava ao fim quando um colega convocou-me para um choppinho
rápido: "em pé" segundo ele. Na
verdade seria sentado, num barzinho novo que um amigo comum inaugurara recentemente
nas vizinhanças do escritório, já numa
fase de futuros planos. A certas convocações não se pode dizer não... e fomos nós "aos trabalhos".
Naquele
dia em verdade, eu tinha a intenção de
chegar em casa mais cedo e partir
para algum programa mais dómestico talvez até um cineminha com a mulher amada... Não
tinha nada combinado em casa mas, de qualquer maneira, à principio, combinei
com o amigo do chopp que seriam apenas
uns dois chopinhos rápidos pois eu tinha
ônibus do Condomínio para casa e os horários eram rígidos. Combinamos os dois
chopps mesmo sabendo que,
tacitamente, esses chopps poderiam até
dar outras crias...
Dito e
feito. Perdi o onibus das 18:30, das 19:30 e o das 20:30, ao encontrar outro
parceiro que arrebanhava a turma para
uma comemoração: festa surpresa pelo aniversário de outro amigo da turma.
Claro que essa chamada encontrou eco
imediato no seio desses dois desocupados
biriteiros de sexta-feira.
O passo
seguinte seria apenas cada um dar uma
ligadinha para casa avisando, sutilmente,
que "um valor maior se alevantava..." e cair na esbórnia. Conta encerrada e paga, tomamos
o caminho de casa, ou melhor, da casa
onde continuaríamos a bebericar nossas cervejotas. Na cabeça a idéia de
"em chegando lá" ligar para
"as patroas" (a minha odiava ser
"pensada" assim).
Acontece
que os primeiros chopps já começavam a
fazer efeito e simplesmente nem eu e nem
o Angelo lembramos de fazer a tal
ligação pra casa. Erro crasso. Danoso.
Hoje me
lembro de um filme de Buñuel (“O Anjo Exterminador”) onde os convidados em uma festa, de
repente, se viam aprisionados por uma
força estranha e ninguém conseguia sair
do ambiente encantado onde ela
transcorria. Lembro disso porque o clima
da reunião estava exatamente igual:
ninguém ia embora. A festa corria
alegre e solta. Cervejinhas, uísque
honesto, salgadinhos cem por cento e um
papo furado de primeiríssima qualidade!
Ali, resolvemos todos os problemas
nacionais. A Seleção Brasileira formou o
melhor time de todos os tempos e fizemos
um raio X das melhores e piores
qualidades das mais lindas mulheres do
momento.
Eis que
de repente o meu encanto quebrou... "descobri" que já eram mais de 4
horas da madruga... O caminho de casa era
longo. O esquecimento do telefonema avisando em casa sobre o paradeiro no princípio
da noite, prometia. A chegada em casa
exigiria pé-ante-pé e prometia chuvas e
trovoadas...
Despedida
rápida aos donos da casa, saída à
francesa para o resto da turma e um rápido
alerta ao amigo da primeira hora:
-
"Angelo, são quatro da matina e não
avisei em casa... Estou me mandando
e seja o que Deus (ou "minha
Deusa") quiser..."
Angelo,
com o choque do horário também teve seu
encanto quebrado e, por ter incorrido no
mesmo lapso, resolveu também se mandar.
Saímos
rapidinho. Na rua peguei um táxi
para a Barra da Tijuca e ele, outro, para a Praça
XV, onde pegaria sua barca para Niterói.
É claro que quando cheguei em casa o
tempo estava fechado...
Mal
recostada na poltrona da sala com TODAS
as lâmpadas da casa acessas, caderneta
de telefones dos amigos nas mãos, as
crianças dormindo no tapete, telefone sem
fio no chão, rosto redondo e inchado de tanto chorar, a minha queridinha me
aguardava... Mas foi com um ódio
tremeluzente no olhar que a minha amada
mulher, assim que soube o que aconteceu
me deu o mais monumental esporro
que um jovem, sério e simpático marido relapso pode receber. Mostrou toda
a culpa que eu teria se ela morresse do
coração,
já que havia ligado para TODOS os hospitais da cidade, tinha sido destratada ao telefone
por alguns "gentis" policiais
que atendiam nos distritos da cidade e
ainda tinha sido alvo de chacota do
funcionário do IML que lhe disse que
"os maridos sumidos de sexta-feira
normalmente não iam pra lá não, voltavam pra casa no fim da madrugada com histórias
bem convincentes..."
Aquela
raiva monumental azedou todo o fim de
semana. E ela estava coberta de razão.
Fiquei
morrendo de vergonha pela distração e, no máximo, me permiti rir quando lembrei de um outro experiente colega
que sempre dizia que em sua casa, em
situações semelhantes, sua mulher só
falava com ele de joelhos: - "Sai de baixo
dessa cama, se você é homem, seu
verme!" Eu me via o verme com minha
mulherzinha se ajoelhando para falar
comigo... mas não saía de baixo da
cama...
Mas como
todo mundo sabe não há mal que sempre
dure e nem bem que nunca se acabe,
apesar do fatídico fim de semana, a "prazerosa" segunda feira chegou
para desanuviar o ambiente. No primeiro
cafezinho já encontrei o Angelo meio ressabiado
e parti para, num fôlego só, contar todo
o acontecido. O amigo Angelo ficou
calado todo o tempo e somente no fim, quando eu lhe perguntei se a bronca da madrugada foi tão brava quanto a
minha, é que ele, depois de uma longa tragada no cigarro, disse que não, que
sua bronca só aconteceu no sábado:
-
"Na madrugada de sexta-feira não teve
problema nenhum. Distraí, descansei e
entreguei os pontos: adormeci na barca... Só acordei ás
9:00 da manhã do sábado já lá pela quarta ou quinta viagem de travessia
da Baía e em direção ao Rio...
vvv
Lógica Lusitana
No fim do ano de 1992 eu li uma notícia informando que encerrava suas atividades a última fábrica de máquinas de
escrever dos Estados Unidos... Imaginar que
num pequeno espaço de tempo toda uma
tecnologia é superada nos faz pensar.
Vender
máquinas de escrever foi uma atividade
interessante.
Nos
primórdios dos tempos dos processadores
de texto, fins dos 60’s início dos 70’s, o máximo que se poderia imaginar nas empresas modernas
era uma máquina de escrever elétrica!
Isso porque as máquinas eletrônicas de
datilografia poderosa estavam banidas do
mercado brasileiro em função da reserva
de mercado para a informática. Daí o
máximo que se poderia almejar era uma
máquina elétrica, de esferinha e com
correção automática...
O mercado
era imenso, mas muito difícil. De todo o
universo instalado de máquinas no país,
menos de 8% era de máquinas elétricas. Esse era o desafio: vender máquinas
elétricas num mundo de lápis, canetas
esferográficas e máquinas manuais.
Vontade
de ter suas máquinas maravilhosas todos
tinham, mas o preço incomodava os
interessados. Era nessa hora que o vendedor tinha que partir para uma ação específica. Tinha
que ser criativo, procurar alternativas
que pudessem auxiliar a venda, o
convencimento sobre as vantagens da
máquina e tudo o mais que pudesse
agregar à sua tenacidade, garra e
vontade de vender.
Nesse
exercício diário de busca de
alternativas surgiu num certo momento a
idéia de mostrar as vantagens de uma
operação casada: vantagens tecnológicas e vantagens financeiras.
Os
profissionais mais interessados
imediatamente viram as possibilidades de se vender quantidades maiores de máquinas
se se agregasse a essas quantidades
vantagens econômicas e financeiras. Esse
caminho apontava para o LEASING, o
arrendamento mercantil que começava a
dar suas caras no mundo econômico-financeiro brasileiro de maneira mais popular.
Se a onda
é boa você tem que estar na crista dela,
certo?
Muito
bem, todos passaram a estudar o leasing,
suas vantagens, suas possibilidades e
maneiras de abordar possíveis clientes de múltiplas máquinas, pois essa operação
exigiria um volume de dinheiro maior. Lições tomadas, vamos colocá-las em
prática. Ao Campo!
O perfil do cliente que deveria ser motivado para essa operação seria aquele
que tivesse potencial de compra de uma
dúzia de máquinas para cima.
Conhecí uma vendedora da melhor
qualidade: era capaz de vender brasa pro
capeta!
Essa mulher
saiu a campo e encontrou um tradicional
homem de negócios dono de uma empresa de
ônibus que a recebeu para conhecer seus
produtos. Era um lusitano de boa cepa, desses que chegou no Brasil, puxou carga em feira, morou em pensão, comeu
de marmita e, com todo esforço e louvor, obteve o sucesso. Homem calejado. Sem estudo mas com toda a experiência que a tal
Universidade da Vida oferece para quem
pula de cabeça no mundo.
Era um
vitorioso empresário. Mas como cresceu, viveu. Lápis na orelha, olhos abertos e
toda a atenção em quem estava do outro lado
da mesa, pois a vida lhe ensinou que para sobreviver lobo come lobo...
E a nossa
amiga super-vendedora estava exatamente
mostrando a ele como o mundo era
maravilhoso! A máquina era fantástica. A
empresa era fantástica, crescendo como
crescia. E os financiamentos no mundo de hoje eram fantásticos pois ele, aquele calejado
e astuto empresário, poderia agora ter
TODAS as máquinas da empresa trocadas
por máquinas elétricas de esferas,
corretivas, super modernas e com mil
vantagens como poderia ser visto: ele
não desembolsaria nadica de nada; o
banco que estaria fazendo o
financiamento para ele é quem pagaria ao
fabricante. Como ele não ia comprar nada (já que o banco é que comprava) ele não imobilizaria seu patrimônio e, portanto,
não pagaria imposto de renda! Pelo USO
das maquinas ele só teria as contraprestações
mensais, o que era uma imensa vantagem pois poderiam ser descontadas integralmente, como despesas do imposto de renda! E ainda,
no fim de três anos, ele seria o
proprietário das máquinas pela
módica quantia de Cr$1.00, cada!!!
Nosso
experiente amigo lusitano remexeu-se na cadeira, coçou o cocoruco da cabeça
com o lapis de detrás da orelha e resolveu aplicar seus conhecimentos para encerrar a reunião,
com uma observação pela qual se pautou a
vida toda:
- " Minha filha, m'ajude a pensaire:
'ste negócio é muito bom para sua
empresa que vende as máquinas. É muito
bom para você que ganha a comissão ao
vendeire as máquinas para o banco. É
muito bom para o banco que vai recebeire
as tais prestações com juros, como você
m'splicou. E é muito bom para mim que só tenho vantagens e no fim ainda fico com as maquinetas. Só não
entendo uma coisa: quem é que se fode
nesta história toda? Em toda minha vida
eu aprendí a só fazer negócios sabendo
quem se fode primeiro..."
vvv
Tati-bi-tati
“in english”
O fato de não se saber uma língua estrangeira não chega a ser nenhum
grande problema. Mas certas situações
acontecidas por essa razão acabam deixando lembraças curiosas e divertidas.
Em 1975
houve uma Convenção nas Bahamas. Um grupo de colegas começou a se formar para esticar para a Flórida após a Convenção. Era um grupo grande, cerca de quinze a vinte pessoas
vindos de Brasília e Belo Horizonte que
se encontrariam com outros de Rio e São
Paulo.
Dessa
turma toda talvez uns dois ou três
falassem inglês, uns quatro se defendiam e os outros estavam dispostos a prestar muita
atenção...
Saída do
Rio de janeiro á noite já com encontros
de pessoas de outras partes do país, no
aeroporto. Alí mesmo já começávamos a
estabelecer e solidificar os planos
de continuidade da viagem. A primeira coisa a ser vista era a divisão do grupão em
grupinhos menores (que, pelo menos, se
acomodassem em carros adequados). A idéia era formar uns
três grupos em três carros e de preferência em números pares, para dividir apartamentos quádruplos nos motéis da Florida afora, se
possível.
A
excitação era transparente nos olhos de
boa parte dessa turma. Alí se encontrava um bom número de colegas que estavam debutando em andanças internacionais.
Tudo era novidade. Passaporte, dólares,
presença em eventos deste tipo. Era uma
lua de mel. E, nesses casos, como se sabe,
a "noiva" sempre ficava
super nervosa (naquele tempo... 1975...
a noiva ainda ficava nervosa com certas
coisas...)
Pois
muito bem, embarque geral e o avião com o mais perfeito clima de ônibus
escolar em excursão ao parque. Todos a
bordo, sono pouco e agitação demais! Os
estoques de bebidinhas do avião se esvaíram
completamente. Era uma festa!
A partir
do embarque, a idéia era desligar o
reloginho da preocupação e curtir tudo sem
qualquer idéia de perder tempo, dormir,
etc.
Vôo
fretado, eis que dá 5:00 da manhã e
aterrisa-se em Freeport, Bahamas! A turma quase se atropela para respirar o ar
Bahamense (parece coisa de Barra Mansa...) Um mineiro entusiasmado chega do alto da escada e dá seu grito de guerra:
-"Eh, Bahamas! Aqui Zé Lambreta! De Pimenta pro
MUNDO!!!”
Mas como
sempre, esse tipo de viagem tem seus
percalços e por mais que se tente planejar devidamente, acaba sofrendo pequenas
dificuldades. Acontece que na data de
início dessa Convenção dos países latinos,
encerrava-se a Convenção do Canadá. E como seria tudo no mesmo hotel, viu-se de repente
este grupo que chegava tendo que aguardar a
saída dos canadenses do Hotel onde seria o Evento. Mas em outros tempos, dinheiro
não era o problema. O hotel definitivo
não está disponivel? Coloca a
"garotada" em outro para
descansar das "estafantes" horas de vôo, e
pronto. Dessa maneira se disponibiliza o
Hilton Hotel de Freeport por umas seis horas e depois muda a turma toda
novamente.
Como tudo
era festa vamos para o hotel
alternativo. No traslado já se
tinha a decisão unânime de estar
imediatamente a postos para o que desse ou viesse. Todo mundo na praia assim que chegasse.
Check-in
feito, cada para seu aposento.
O nosso Zé Lambreta resolve já fazer uso de todas as facilidades à mão e
liga para o apartamento de outro colega.
A telefonista pergunta-lhe se pode
ajudá-lo. Ele, impávido, busca do fundo do baú seu inglês de colégio e lasca na mocinha:
- " Plis, rrrroom TRI TIÚ FOR."
Fez-se um silencio. O Zé
Lambreta resmunga alguma coisa e complementa
com um quase inaudível
"TANQUIÚ",e comenta que o nosso parceiro era rapidissimo mesmo: já
havia ido pro mar e nem chamou
ninguém... Achando estranho verifica-se se a ligação não havia sido truncada. Alguém liga novamente, pede o
"room 324" e recebo o retorno
da operadora:
- "
A or C, mister?"
Descobre-se
que o outro apartamento está na parte
"C" do Hotel (como o nosso) e tem-se
completada a ligação com o tal rapidinho na ponta da linha...
Ainda sem
entender direito o que aconteceu com o Zé, pergunta-se a ele o que a operadora havia lhe dito, fazendo-o
entender aquela mensagem truncada.
Singelamente ele repete o diálogo:
-"Eu
disse: room 324. A telefonista
respondeu: 'Go to Sea, Mister'. Eu agradecí e desliguei..."
Pois é.
Ouvidos nervosos ouvem o não dito (ou o inaudito?)... Confudiu "A or
C" com "Go to Sea"...
Na
continuidade dessa viagem, aí já na tão
sonhada Flórida, formamos os grupos. Dois. O nosso tinha "apenas" nove
pessoas... Para transportar essa tropa alugou-se um Station wagon Gran Torino;
Carro confortabilíssimo... para seis
pessoas, confortável para sete mas um
insuportável inferno para nove, com suas respectivas bagagens...
Em
verdade ao se montar a bagagem geral no
rack do carro transformava-se o veículo
numa bela "BOTA": quatro metros de carro embaixo e mais uns dois em cima...
Viramos uma atração exótica: por onde
passávamos éramos alvos de fotos, além de feições de espanto e exclamações.
Tendo em
vista todas essas dificuldades,
estabeleceu-se regras de convivência:
rodízio geral de todos a cada parada, mínimo de compras de grande volumes (um dos participantes comprou um
"Mickeyzinho" de um metro de
altura . Aliás, esse Mickey passou
sempre a ser acomodado, sentado, no topo da bagagem), proibido tirar os tênis e respirar
o mínimo possível... A cada parada um
era destacado para ficar "de vigia" no carro...
Num certo
momento, decorridos oito ou nove dias de
viagem (imaginem o tamanho da
"torre" sobre o carro!) foi dado o "alerta máximo" para toda a tripulação: a
partir daquele momento era PROIBIDO
comprar qualquer coisa que não coubesse
no bolso (se o bolso já não estivesse muito cheio). Dito
isso fomos nós fazer a última incursão
num dos shppings de Orlando. Designado o "guarda"
de plantão, saíram os outros oito
abestalhados consumidores vorazes
para APENAS VER nos momentos finais.
Pouco a pouco a turma foi voltando para
o carro com o último chaveirinho, meia
dúzia de cartões postais, mais uma
canetinha de lembrança, coisas assim,
respeitando o trato. Oito já estavam em volta do carro, postergando o martírio de
estar lá dentro e no aguardo do último
dos moicanos: bonachão colega que achava
que se as coisas não tem remédio...
remediadas estão! De costas para a
entrada do Mall vejo dois colegas
olhando para lá, lívidos. Um não resiste
e explode uma exclamação:
- "
O que que aquele maluco vem trazendo naquela caixa???"
Todos se
voltam e vêem nosso solitário
retardatário caminhando com dificuldades
para equilibrar um imensa caixa de cerca de um metro cúbico em seus braços. Uns começam a babar de ódio, outros ficam mudos. A distancia é bastante para que
as cabeças pensantes resolvam aguardar
para questionar sobre a caixa e lembrar
da PROIBIÇÃO de novos volumes. Antes
de qualquer pergunta (ou agressão) ele
já foi se defendendo e se explicando:
- "
Eu sei que era proibido comprar mais.
Mas eu não tive culpa. A culpa é do inglês que eu não entendo direito nem pra falar nem
prá ouvir... Eu vi uns copos de cristal
e lembrei que minha noiva sempre dizia
que era seu sonho, pra nossa casa,
quando nos casarmos. E a gente vai se casar mês que vem. Perguntei à
vendedora, o preço dos copos, ela me
disse o preço unitário, aí eu quis
perguntar o preço do jogo todo, falando pra ela: "All". Acho que ela não
entendeu direito, embrulhou tudo e me
deu a nota para pagar no caixa. Eu fiquei meio sem jeito de dizer
não, paguei e vim embora..."
Conquistou,
alí, seu “direito” de ir para o
aeroporto de taxi... Com os copos, o
Mickey e o resto da bagagem...
vvv
Saudades da
Aurora da Minha Vida
Cada especialista tem uma ferramenta própria para desempenhar suas funções.
O
vendedor de máquinas de escrever tinha
uma tarefa importante ao instalar a máquina para o cliente: dar as devidas instruções
de uso. Nessa instalação era suposto um
teste geral de funcionamento do
equipamento onde se verificava
dispositivos, funções, teclas, teclado,
qualidade de impressão, etc. Aliás para
se fazer o teste de qualidade de
impressão usava-se uma frase, em inglês, que utiliza todas as teclas de
letras do teclado. "The quick brown fox jumps over the lazy dog
ç". Números, acentos, sinais gráficos eram digitados após essa frase.
Nos idos
de 1973 estava ocorrendo uma automação
de escritórios de uma forma incipiente. Na verdade era o "estado da arte" da época:
máquinas de escrever, elétricas, de
esferas de tipos e com correção
automática!
As
grandes empresas ou aquelas que estavam
com um enfoque de modernização de seus
escritórios partiam para esse tipo de
equipamento de uma maneira rápida. O
vendedor, naquele momento,
procurava tirar o máximo de proveito...
E para isso valia quase tudo, desde que
dentro de parâmetros comerciais éticos.
Entre esse "quase tudo" porque não usar o charme da juventude, certo?
Numa grande
empresa que iniciava seu projeto de modernização de seu parque de máquinas.
O contato principal, em termos de
decisão na empresa, passava pela
Superintendência Administrativa que era dirigida por um executivo bastante dificil de ser acessado.
Entretanto, sua secretária era uma pessoa
bastante simpática, com quem comecei a ter um relacionamento muito positivo. Logo no
inicio identifiquei uma certa carência
na moçoila no viço dos seus quarenta e poucos (?) aninhos presumidos... Resolvi
investir neste flanco...
Charme
vai, charme vem, ela sempre facilitava a
minha circulação na empresa, o acesso
aos níveis executivos mais importantes,
e informações sobre o andamento de solicitações e outras situações
que contribuíam para o meu atingimento
de objetivo de vendas dentro da tal
empresa. Eu marotamente administrava
certos interesses e esperanças veladas
alimentadas pela minha adorável
colaboradora. Tínhamos um acordo tácito de que alguma grande realização deveria ser comemorada de maneira especial. Eu via
essa grande realização se materializando
num fantástico pedido de algumas dezenas
ou, quem sabe, centenas, de máquinas... Ela imaginava outras coisas...
Eu alimentava
suas esperanças, sempre
fortalecendo a idéia que num pedido especial ela, com certeza, seria aquinhoada com u’a máquina... também. Acontecia que o
grande pedido nunca saía e a tal
"comemoração" deixava nossa
querida amiga impaciente...
Mas eis que um certo dia eu recebo um recado urgente da nossa amiga dizendo que havia chegado a hora da comemoração: um fato muito
importante havia acontecido e que eu
deveria ir ao encontro dela imediatamente.
Juntei
minha pasta e corri para o cliente,
afinal parecia que a hora era chegada. Os pedidos aumentavam e o ultimo já havia
sido de 18 maquinas numa só tacada!
Iamos chegar na centena...
Dirigí-me
à sua sala. Fui recebido cheio de
alegria, sorrisos, e olhares cúmplices...
-
"Meu vendedor predileto, chegou o dia de
comemorar! Minha máquina nova chegou!
Merece comemoração!"
Eu juro
que ouvi essa "comemoração"
como a palavra mais gulosa já ouvida. Tudo soava meio fantasioso. Por acaso o chefe estava em viagem naquele dia e ela
informou-me que poderíamos gastar todo o tempo
necessário... A coisa começando a ficar meio preta, comecei a praticar um certo diálogo
de surdos. O que ela falava eu não
entendia. O que ela ouvia eu não tinha
falado...
Mas tudo
bem. Vamos às obrigações básicas. Instalação
do equipamento. Verificação geral de tudo e estou pronto a dar a
instrução de uso. Ela, imediatamente,
revirando os olhos, disse que queria as
minhas instruções ao “seu ladinho”... e puxou uma cadeira para perto da dela. Mostrei-lhe o beabá geral
e lógico de tudo: dispositivo, função,
benefício. Ela nervosa querendo
ultrapassar todas as barreiras
rapidíssimo. Eu ganhando tempo.
Mas eis
que dou o trabalho por encerrado e digo
que ela está completamente apta a operar
aquela maravilha tecnológica da era
moderna, não esquecendo de lembrar (sem
maldade) o quanto ela já não havia sofrido batucando velhas Remingtons e Letteras
manuais. Mas minha entusiasmada amiga não
se dá por vencida e, percebendo que a minha fuga estava próxima, resolve apertar a marcação. Diz que quer fazer alguns
testes mas não abre mão de minha
presença ali, ao lado dela. Sem saída,
concordo. Permaneço sentando enquanto ela pega uma folha de papel em branco, começa a inserir na
máquina ao mesmo tempo em que faz uma
perguntinha cheia de afirmações:
-
"Romântico do jeito que você é, você deve
gostar de poesia, acertei?"
Meio sem
entender o bote e pensando na defensiva
digo que sim apesar de não "praticar
muito" o esporte da leitura ou da produção poética.
Ela
rebate de bate-pronto dizendo que não
tem importância pois ela adora, conhece
muitas e "vivenciou" outras que, inclusive, queria compartilhar comigo. E lascou lá, parafraseando Casimiro de Abreu, de sua lavra:
Ah,
que saudades que tenho
Da
Aurora da minha vida.
Amores
que tive, não quiz ter...
Amor
tão perto, deixa-me lívida...
Obrado
isto, ela com um lânguido olhar me pede
para avaliar seu verso "nascido alí,
naquele instante!" e também escrever "qualquer coisa" para ela ver.
Encurralado
no fundo da armadilha, respirei fundo e
tasquei num só rompante:
- "THE QUICK BROWN FOX JUMPS OVER THE LAZY DOG Ç"
Expliquei-lhe que precisava
treinar bem aquela frase pois tinha que
testar mais 15 maquinas naquele dia e,
sem dar chance de revide, saí quase
atropelando o mundo. Antes que aquela
raposona saltasse sobre esse cachorrão
que vos fala...
vvv
Reunião de Pais
No dia-a-dia atribulado
desses tempos nem sempre se consegue
sintonizar com tudo.
Há algum
tempo atrás amigo meu sentiu na carne as
dificuldades dessas atribulações. De
repente recebeu a convocação para
participar de uma reunião programada pelos catequistas de sua paróquia, pois seu
filho estava se preparando para a
Primeira Comunhão e ele, cristão e pai
participativo, deveria estar presente em reuniões informativas para os pais.
Chegado o
dia, sua esposa lembrou-o do
compromisso, alertando que os dois deveriam estar juntos. Completamente atarefado ele não
ficou muito atento à hora e entrou, como de costume, pelo fim do expediente afora,
nos afazeres do escritório. Num certo
momento recebeu uma ligação de sua
mulher, aflita, pois ele não chegava e a
reunião estaria começando em pouco
tempo. Ao perceber o lapso já quase
irrecuperável, combinou com ela que
deveriam se encontrar lá na tal reunião, recolhendo rapidamente as informações sobre local, hora e como chegar.
A reunião
estava marcada para o Centro Comunitario
da Paróquia do bairro que, na verdade,
tinha várias atividades todas as noites.
Com as informações dançando na cabeça,
se dirigiu para lá relembrando vagamente
o combinado com a esposa: ela estaria
indo na frente, se encontrariam lá e
caso ele chegasse e a reunião já houvesse começado não se preocupasse que se encontrariam no final.
Vaga difcil,
calor incomodativo, cansaço regulamentar transbordante, esse amigo
entra pelo Centro afora
procurando a tal reunião. Primeira sala
que vê movimento enfia a cabeça
mansamente e vê um razoável grupo de
homens e mulheres sentados assistindo um
apresentador proferir uma palestra. A
grosso modo conclui que aquele é um
perfeito grupo de pais amantíssimos, como
ele, se preparando para a primeira comunhão de seus pimpolhos.
Com um
aceno amigo e afetuoso, o palestrante
lhe faz um gesto para que entre e tome
assento. Vendo que sua presença
interrompe a atenção do grupo ele entra e, num relance rápido de olhos, ao não
localizar sua companheira resolve se assentar
no fundo da sala para não incomodar os
demais.
A
princípio estranha apenas a variedade de
faixas etárias presentes, mas imagina que
alí deve ter pais, mães, avós, avôs. E pensa, com seu fecho-eclair, que sua presença alí
é burocrática, na verdade ele não faz
mais a menor idéia da ultima vez que
freqüentou a igreja e vê a situação como
uma obrigação à cumprir... Pensando isso
atentou pouco ainda para o discurso estranho
que falava de força de vontade,
determinação, coragem, vitória,
testemunho.... Assim pensando desligou-se em devaneios e dos devaneios acabou se jogando nos braços de Morfeu...
Dormiu.
Dormiu pesadamente. De repente se viu
acordado por solícito colega de reunião
que lhe informa o fim do encontro.
Completamente vexado sai rapidamente para ver onde se
encontra sua mulher que, com certeza, deveria estar por alí e também não
o viu. Na saída é puxado pela esposa
amada, junto ao padre da paróquia, que o
interpela com ares de impaciência e
dúvida:
-
"Porque você não veio à nossa reunião? E o que você fazia
na sala da reunião dos Alcoólicos Anônimos?"
vvv
Moeda Corrente
Jogo de cintura. Esse é o nome do jogo!
Dizem que
o brasileiro é quem tem o maior molejo,
malemolência e remelexo na face do planeta. Mas é a vida que se leva por aqui
que faz isso. Se não fosse isso, como
nos íamos entender o tamanho do sorriso na cara do peão que se dependura nas apodrecidas estruturas dos trens suburbanos de
segunda a sábado e ainda encontra
vontade para se dependurar lá de novo
para ir para a geral do Maracanã no domingo?
Dá prá
imaginar um peão gringo? Não.
Definitivamente não dá. Agora, também é de morrer de rir
ver a cara de um oriundo da grigolândia quando se depara com um habitante desse patropi praticando esse
jogo de cintura.
Um bom
exemplo é a situação em que se viu uma amiga, vendedora bambambam e cobra criada nas andanças de norte a sul dessa nossa terra. Entrou para visitar
um cliente de longa data, de sua
empresa, e defrontou-se com uma fera
ferida. Esse cliente se encontrava insatisfeito há longo e tenebroso verão.
Aliás digo verão porque, segundo ela,
ele transpirava, ou melhor, derretia-se completamente em pleno abril com o ar condicionado parado, por
defeito. Como europeu observador ele comentava que o Rio de Janeiro só tinha duas estações:
verão e INFERNO... Naqueles dias de abril
estávamos deixando o INFERNO e entrando no verão...
O defeito
no ar condicionado só servia mesmo para
aumentar a impaciência, nervosia e mal
humor do nosso amigo d'além mar. Ele
espumava de ódio por várias razões e uma
delas era o mal atendimento que andava
recebendo da assistência técnica da empresa que minha amiga representava. Ou seja:
ela chegou na pior hora que poderia
imaginar. Teria que rebolar... Mas isso
não era problema para essa tal cobra
criada. Afinal ela era uma dessas
vencedoras.
Batalhadora.
Nordestina da melhor cepa foi criada
praticando tudo aquilo que falamos no
princípio da história: jogo de cintura,
malemolência, molejo e remelexo. Rebolar
para ela era mole, mole.
Entrou se
apresentando como a nova representante
na área. Pronta para o que desse e
viesse. Queria estar ali para resolver
todos os problemas (e, lógico, vender o que pudesse...).
Mas nosso
gringo irritado não refrescou. Vendo uma
oportunidade tão de bandeja assim, tomou
distância e partiu para o ataque. Xingou
da mãe do presidente da empresa ao filho
da vendedora. Ela, boa cabrita, não
berrava. Aguardava a fera amansar para o
contra-ataque. O caso é que ninguém
conseguia segurar a irritação do gajo. Ela respirou fundo, deu mais tempo e continuou
a repetir que a partir daquele momento
tudo se modificaria, agora ela estava a
postos para fazê-lo o cliente mais feliz
e bem atendido do mundo. Mas continuou
tomando broncas. Era irreversível a
situação de insatisfação daquele
"ex-cliente"... Passados uns trinta minutos de incessantes reclamações, e já entrando
num círculo vicioso que não levaria a
nada, a minha vendedora predileta viu que naquele dia o assunto estava encerrado e a única saída era
agradecer, despedir e tentar voltar em
outra oportunidade.
Tentou
resfriar os ânimos do gringo e começou a
se despedir já meio incomodada com a
saravaida de bordoadas que recebeu todo
o tempo. Para encerrar a visita, retirou um
cartão de visitas da pasta e disse ao visitado que quando ele quizesse
poderia chamá-la para voltarem a
discutir qualquer assunto relativo aos
negócios das duas empresas. Sem entender
que suas broncas já haviam cansado ele
ainda encontrou uma maneira mal-educada de finalizar a idéia de sua insatisfação: disse que jamais voltaria a
ter contatos com qualquer pessoa da
firma representada pela nossa amiga e como prova do que dizia rasgou o cartão da moça em mil
pedacinhos. Como nordestina acostumada a
não levar desaforo pra casa, ela cresceu pra cima do gringo repreendendo:
-"Pô,
meu senhor, rasgar o cartão já é desrespeito!
Cada cartão custa 5 pratas, ora!"
O gringo,
ainda babando de ódio, não teve duvida.
Para expulsá-la o mais rápido possível
sacou uma nota de 10 da carteira, jogou
sobre a mesa e complementou:
-"
'Stá lá, sanhorita, 'stá pago teu cartão!
Ponha-se daquí para fora!"
Num gesto
de malícia final e escracho ela não teve
duvida: pegou a nota de dez, puxou outro
cartão e disse para o gringo:
-"Tudo
bem. Não tenho troco, fica com outro cartão...
vvv
Gol Contra
Elementos. Isso. Elementos são fatores fundamentais
para se analisar uma situação e tomar ação. E você tem que buscá-los sempre.
Onde estiverem. Não importa como. Pessoas astutas fazem isso muito bem. Nem bem
entram num ambiente, imediatamente fazem
o esquadrinhamento geral do território. Tomar conhecimento de cada coisa,
detalhe, marcas, pode ajudar. São os elementos fundamentais para municiar alguma batalha.
Batalha é
o que se enfrenta todos os dias no esforço continuado de vender. E batalha arrebata e arrebanha todos
os escalões da força de vendas.
Um amigo
meu era Gerente de Filial de uma Unidade especializada na área de finanças. E,
todo mundo sabe, dinheiro entra muito fácil neste tipo de empresa, mas para
sair... Tem-se que suar sangue.
Normalmente
estas Unidades de Negócios da área de finanças são aquelas de onde se espera os
maiores volumes de vendas. Tem muito dinheiro correndo. Tem muita oportunidade
de negócios. Tem muita necessidade de fazer mais dinheiro...
Vai-se à
luta. Tarefa árdua. Batalhas duras. Guerra tenebrosa. De qualquer maneira é
aquela história: herói é quem volta do front com a vitória ou um de seus troféus.
Esse amigo assestou as baterias para os seus alvos no
princípio do ano quando se fez o planejamento de conta de cada potencial
cliente de sua Unidade. Cada Instituição tinha lá sua análise detalhada:
potencial de compra identificado, estratégias de mercado pesquisadas, ações de
mercado acompanhadas com o mais refinado faro marketiano. Acontece que, apesar
disto tudo, algumas ficavam sempre recalcitrantes: exigiam uma atenção
redobrada. E é um trabalho hercúleo chegar nos homens de decisão e obter sua
atenção, cumplicidade e concordância.
Nosso
amigo entendia disto muito bem. Sempre
absolutamente atento, não deixava sair de sua mira as chances que vislumbrava.
No tal planejamento das contas do princípio do ano identificou uma empresa que
tinha tudo para dar frutos no decorrer daquele
ano. Tinha que ficar atento. Fazer trabalho meticuloso. Trabalhar
afinadinho para obter seus contratos que, certamente, seriam cruciais para os
objetivos de quota.
Essa
empresa era da Paraíba e tinha uma sucursal muito importante no Rio. Tão
importante que o Diretor Regional era figura do mais alto cenário político
daquele Estado. Estava ali como Diretor do Banco, poderia estar como Secretário
de Estado em mandatos seguintes. E sabia disso. E se dava os tratos.
O
responsável pelo cliente na Filial ficou atento a todas as dicas. Trabalho
profissional, atenção total e muito suor. Mas o cabra do lado de lá era duro na
queda. Desconfiado. Pouco afeito às tecnicidades de seu negócio. Muito
político.
Se o jogo
é político... politiquemos! Reuniões técnicas com os técnicos, financeiras com os financistas e reuniões
cordatas e políticas com os pessoal de relacionamento e políticos.... Mas visita executiva exige
nível executivo. E o representante convocou aquele nosso amigo atento, o
Gerente da Filial, para uma delas.
Fizeram a
preparação para a reunião: perfil da
empresa, perfil do negócio, perfil do executivo. Aí foi estudado o perfil, o
frontal, o retrato falado e de corpo inteiro do visitado. Quase tudo. Homem
importante: diziam que de Diretor Regional já estava encomendado para assumir a
Presidencia da Instituição num retorno à Paraíba... E homem sério. Sisudo. Nem
parecia esses bons nordestinos bonachões
que nós encontramos todos os dias por aí afora.
Para nosso Gerente isso não era problema. Ele era
conhecido por todos por seu constante bom humor, descontração e capacidade de
colocar todos aqueles que com ele se relacionava em imediato estado de
camaradagem e interação. Seria tarefa fácil lidar com o Paraibano, afinal, além
de toda a relação social deste encontro, a solução técnica era de
primeiríssima! E tocaram para reunião.
Vamos buscar o contrato!
O
Paraibano aguardava. Nossa turma:
Gerente, Representante, analistas, técnicos, uma comitiva de alto gabarito, se
dirigiu confiante. Recebidos pela secretária aguardaram alguns minutos, tempo
bastante para aquele esquadrinhamento de ambiente que falávamos no início desta
história. Neste vislumbre não passou despercebido o assunto tratado em francas
risadas por alguns assessores na ante-sala do nosso executivo: o 3X1 que o
Flamengo havia “enfiado” no Fluminense no dia anterior, ensolarado domingo. Com
sua dor tricolor ainda se fazendo sentir registrou o fato. Em pouco tempo foram
introduzidos no gabinete do visitado. Apresentações de praxe, rapa-pés,
sorrisos acrílicos e o convite para todos se acomodarem à mesa de reuniões.
Nesses rápidos instantes nosso amigo tricolor não pôde deixar de perceber no
canto da sala uma imensa bandeira rubro-negra em imponente companhia da
bandeira brasileira. Entendeu logo que o caminho do “quebra-gelo” era por alí:
futebol. Ainda a considerar que o Diretor trajava uma vistosa camisa com as
nuances vermelha e preta... Já sentou puxando um papo animado até demais.
- “Belo
domingo o de ontem, heim, Doutor?”
- “É foi
um domingo muito agradável.” - Respondeu.
- “Deixou
nossa “Nação” no auge da felicidade, não é mesmo?
- “!?!?”
Sem
perceber ainda a guarda aberta continuou na tentativa de criar o “algo em
comum” entre eles.
- “O
Mengão deixou todos nós nas nuvens, né?”
- “Eh...
o Mengão...”
- “Aquela
bandeirona vai todos os domingos ao
Maraca ou “temos” uma especial em casa para essas ocasiões?”
O
Diretorzão, meio reticente, faz um
esforço para entrar no clima:
- “O
senhor é flamenguista?”
- “Mas é
claro! Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!” - Responde. (Achando que, a partir
daí, o papo deslancha).
- “Aquí
no Rio eu tenho minhas simpatias, mas é pelo Fluminense... Flamengo, nem na Paraíba...”
Sem
entender nada, nosso Gerente de plantão tenta perceber o que está acontecendo e
repassa suas observações: o papo dos assessores, a camisa do Diretor, a Bandeira no canto da
sala que, inclusive, permite se vislumbrar nas suas dobras rubro-negras a sílaba
final ...GO. E retruca meio ressabiado.
- “Mas se
o senhor é fluminense, por que aquela bandeira do Flamengo alí no canto?”
Sem
disfarçar o mal-estar, o Diretor começa a entender e explica pacientemente:
- “Não.
Não é a bandeira do Flamengo, não. É a bandeira gloriosa da Paraíba. Com seu
dístico heróico: NÉGO...” - E, meio desconfortável, começa a dar inicio à
reunião para a qual se prepararam...
Até hoje
a turma toda da Filial relembra o fato de que exatamente no dia que valia a
pena ser Tricolor, nosso amigo e valoroso Gerente da Filial achou de dar uma de
Flamenguista... O que custou outras longas delongas e outras milongas até a
obtenção daquele contrato fatídico...
vvv
O Homicído do Cão
Homem sério...
que mistério. Muito riso... pouco siso... Minhas velhas tias Neném, Neneca e
Ziroca, nos recônditos do interior mineiro, viviam repetindo estas
máximas. Elas sabiam das coisas.
Macróbias e sábias velhinhas do alto de
seus setenta, oitenta, noventa anos estavam sempre a postos, prestando atenção
ao mundo. E pontificavam sempre: “Lé com lé, cré com cré...” Ou seja, no
popular: não mistura que dá merda...
Pode ser
uma mistura explosiva o encontro de pessoas sérias além da conta com outras que
acham que é melhor perder o amigo a perder a piada. Debaixo do véu da firma
passaram personagens de todos os tipos. Sorrizonhos, sorumbáticos, dispersivos,
enigmáticos, seriíssimos e nem tanto.
Tivemos
oportunidades de conviver com clowns e prussianos. Aliás foi o encontro destes
dois que gerou uma das situações mais hilariantes.
Naquela
mesma turma em que vicejou o “Padrinho” e aquela nordestina de outras
histórias, conviveram numa mesma época
algumas pessoas inesquecíveis. Seus tipos deixaram lembranças, marcas,
saudades, e só nos resta rememorar.
Pois bem,
colega do “Padrinho” que era um bonachão, na mesma Filial, existiu um outro gerente que era a antítese do clima
daquela turma. Enquadrava-se exatamente no termo usado anteriormente:
Prussiano. Sulista. Originário das colônias germânicas do sul do Brasil saiu de
lá para “comandar o mundo” e fazer sua vida.
Moço
super bom. Mas sério. Sério, não. Seriíssimo. Fez toda sua carreira pautado
nisto: seriedade. Mas era tanta, mas tanta, mas tanta, que a turma toda passava
boa parte do tempo tentando achar uma maneira de quebrar aquela seriedade toda.
Valia tudo. Até mesmo levá-lo a sério.
Liderava
uma equipe de sete profissionais. Essa turma era capaz de tudo. Até vender,
pois se isso não acontecia nosso pruss..., quer dizer, nosso amigo, seria capaz
até de tentar implementar um campo de concentração para aqueles degenerados...
Mas eles vendiam. E com isso obtinham o “direito” de exercitar às raias do
inconcebível o jogo de tirar o moço do sério... Aquela Filial tinha cinco
equipes com seus Gerentes e seus profissionais. Coisa de umas cinquenta
pessoas. E parecia que sério só ele. Praticante. Os outros... bem.
Conta a
lenda que certo dia em reunião de equipe nosso prus..., perdão, nosso gerente
sério achou que um certo profissional não dava a atenção devida que deveria dar
a uma certa região do estado e resolveu pedir uma ação mais objetiva. Trabalho
dirigido. Concentrado. Local. Lá. Onde a onça tinha que beber água. E, mais que
isso, para demonstrar sua preocupação e ao mesmo tempo sua solidariedade, pediu
um programa de visitas às cidades da região. E aí entra a solidariedade: ele
iria junto fazer aquele Bye Bye Brasil no interland estadual. Estariam
ombro-a-ombro pelas estradas da vida. Na verdade a solidariedade era necessária
pelas circunstâncias: fim de ano, quota vencendo, e o seu profissional havia
acabado de ter o carro roubado. Daí iriam no carro do gerente...
Compromisso
feito. Compromisso assumido. Programaram a viagem e foram à luta. Viagem boa. Bem sucedida. Muitas visitas,
negócios feitos, outros levantados, perspectivas animadoras. Finda a maratona
retornam no fim da semana para o repouso merecido dos guerreiros. Pé na estrada que o fim de semana
promete. Tem a turma. Tem churrasco. Tem futebol, pensa o vendedor feliz da
vida. Tem uma caminhada ligeira, tem organização de trabalho para a semana
seguinte, tem algumas outras obrigações, pensa nosso... gerente.
E
pensando vão e pensando vem. Estradinha
com uns buracos, mas meio vazia. E vazia, deixa nosso piloto meio descuidado.
Tão descuidado que num momento
inesperado um cachorro sai do
meio do mato em desabalada carreira e se lança na frente do carro. Tragédia. O
quadrúpede estúpido é atropelado... A reação é parar. O dois saem do carro
observam o pobre coitado do cachorro dar os últimos uivos e suspiros já à beira
da estrada e não vêem nada a fazer. Verificam o carro que sofreu uma mínima
avaria e seguem em frente.
Mas não
mais que umas centenas de metros à
frente eles se defrontam com um posto da Polícia Rodoviária. Neste exato
momento desperta o demônio tentador no nosso feliz vendedor. Começa a aterrorizar o “criminoso”, o atropelador do
cão, o coitado e tenso motorista que ainda não se recuperou do susto de um
quase acidente de estrada por causa de um cachorro desatento. E começa a dizer que ele tem que se afastar
rapidamente pois um “atropelamento de cão” não deixa de ser um atropelamento...
daí é fé em Deus e pé na tábua e rezar para não serem parados! Longe de um raciocínio
lúcido nosso sério amigo concorda que aquilo pode ser verdade e é com imenso
alívio que ultrapassa aquele fatídico posto.
No
sábado, já no choppinho da turma, a
história é contada sob risadas, gargalhadas e, sob os eflúvios etílicos, os
amigos começam a maquinar alguma coisa para infernizar mais um pouco o nosso
amigo gerente. E vem aquela história de
muito riso e pouco siso: como multiplicar o “sufôco” da sexta anterior para o
piloto desastrado? Alguém sugere:
- “Porque
não NOTIFICÁ-LO judicialmente pelo atropelamento???”
É uma
idéia. Necessita refinamento e articulação. O que fazer, ou melhor, COMO fazer?
Mentes
malignas são criativas. Viajam. Imediatamente alguém lembrou que um documento
“oficial” precisava ser utilizado, mas não era disponível. Se não estava
disponível poderia ser “criado”, certo? Certíssimo!
Um dos
melhores produtos da firma era uma máquina de composição gráfica. Com ela se
preparava as matrizes, para a impressão em offset, de formulários. Estava resolvida a questão.
Toda a “documentação legal” poderia ser criada para o “processo”.
Na
segunda-feira, na Filial, o caso foi contado para alguns outros que
imediatamente encamparam a idéia e passaram a ser sócios na trampa... Fim de
expediente, reuniram-se na sala de demonstrações e foram “aos trabalhos”...
Compuseram um documento que, com boa vontade, poderia passar por uma
“NOTIFICAÇÃO JUDICIAL”!!! Produziram ainda um “AUTO DE INFRAÇÃO RODOVIÁRIA” (?)
e estava preparado o “imbroglio”...
Preencheram
o documento: nome, endereço, marca do carro, crime cometido, prazos, e, para
sofrimento maior do nosso amigo, nenhum ponto de referência para onde ele
deveria se dirigir. Simplesmente ele era um criminoso que poderia ser julgado a
revelia e condenado pelo crime de “homicídio” qualificado de um cão. Sem
considerar que no documento se falava do ato desumano de abandonar o ser à sua
própria sorte á beira do caminho. Anti-cristão, até. Isso feito foi-se além:
envio pelo correio...
Passados
dois ou três dias, nosso amigo chama o seu funcionário e colega de desdita na
sua sala e relata o fato.
- “Veja
você que absurdo! “Fomos” vistos e “recebemos” uma Notificação Judicial pelo
acontecido!”
Imediatamente,
e quase sem conter o riso, o sacana
autor da idéia já saltou nas tamancas:
- “Epa!
Alto lá, cara pálida, quem cometeu o
“crime” foi você, pô! Eu estava apenas no carro.”
Procurando
se defender ou se apegar em alguma tábua de salvação/solidariedade, o serião se
descontrolou e passou a dizer que “os dois” eram responsáveis pois se ele
também “fugiu,” e que seu crime era, no mínimo, de conivência ou omissão. “Um dos dois”, bradava ele, em busca de
colega de cela...
Marotamente,
o sacana ainda deixou o nervosismo do nosso sulista aumentar ainda mais dizendo
que nada daquilo poderia ser verdade, pois ele afirmaria estar dormindo na hora
e que o carro nem dele era. De qualquer maneira, ele tentaria ajudar pedindo um
auxílio a um cunhado “advogado dos bons” e cheio de macetes para este tipo de
problemas.
-“Deixa
comigo que eu vou tentar aliviar alguma coisa de seu malfadado ato...” Amenizou.
E deixou o moço sério mais uma noite às claras.
Dois dias
depois ele voltou com o resumo das “conversações” com o advogado bambambam em
atropelamento de cachorro.
-
“Negócio seguinte: a sua situação é muito crítica por que o cachorro era de um
amigo do Chefe do Posto da Polícia Rodoviária e tinham testemunhas tão sérias quanto ele! Sem contar o fato de que é muito fácil
pessoas “importantes” assim conseguirem quantas testemunhas quiserem.”
Resumindo a ópera: o alemão tava ferrado...
Palpitações, goles d’água, cafezinho e
nosso amigo martirizado suplicava num fiapo de voz:
- “Mas
não tem nem um jeitinho? Era um simples cão, meu Deus! Inconsequente! Saltou
feito um bólido na frente do meu veículo!
Nem uma saída no código penal???”
A essa
altura do campeonato todos da Filial já participavam das marchas e
contramarchas que se sucediam. E quase sem conseguir conter o riso. Apenas
nosso amigo sério levava a coisa a sério, como era sempre de seu feitio. E
neste antro sempre tinha alguém para botar mais e mais lenha na fogueira.
Começaram a dar um ar de recriminação.
- “Mas
como? Como uma pessoa séria como ele poderia PENSAR em soluções daquele
tipo?? Jeitinho??? Era por isso que a
Nação não prosperava. Só “criminosos” buscam jeitinhos ou saídas nas fímbrias
da lei. Tsk, tsk, tsk...”
E ele
retorquia:
- “Não
quero melindrar a lei! Quero apenas uma solução justa! Não tive culpa!!!”
E mais
sacanas, interferiam:
- “Sei
não... Dura lex sed lex...”
Inferno.
Insônia. Insanidade. Impagável situação. Somente no momento em que nosso amigo
chegou às raias da síncope apareceu uma alma caridosa para resgatá-lo deste
inferno astral em que se viu colocado de repente. Disse-lhe que o problema estava sanado, pois
com a entrada do mês de dezembro chegavam as férias forense e neste ínterim ele
poderia sanar a perda do dono do cão com
a doação de outro cão. Quando ele soltou
um profundo suspiro de alívio a turma que estava em volta não resistiu mais e
soltou uma estrondosa gargalhada... Ele olhou no olho de cada um e de repente
se deu conta que tudo aquilo não passava de um degenerado complô...E ele, a
vítima... Soltou seu único comentário:
- “Vocês
não são sérios...”
vvv
Cala-te Boca...
Em boca fechada não entra mosquito... Quem fala
demais, dá bom dia a cavalo... A palavra é de
prata, o silêncio é de
ouro...
Essas eu
aprendi com aquelas tias maravilhosas, das entranhas das Minas Gerais. Mas, diga-me lá, quantas máximas como estas, fazendo a apologia com a
força da palavra, todos nós não conhecemos?
Sábios
sempre chamaram atenção para a certeza
de que palavras ditas não mais nos pertence. Pertencem aos ouvidos que as
ouviram. Em tempos de gravadores (t’esconjuro, Juruna!), de vídeos, de escutas
secretas, os cuidados precisam ser muito maiores.
Bons
tempos aqueles que os únicos cuidados eram não deixar com que os segredos
nossos de cada dia não caíssem em ouvidos de Neidinhas para não rolar em bocas de Matildes...
Isso aí
tudo no mundo das fofocas, dos
comprometimentos pessoais, de certas respeitabilidades.
No mundo
dos negócios as coisas se fiam por documentos. Sempre. Ou melhor: quase sempre.
Ainda existem aquelas pessoas que se fazem fiar (olha o termo aí...) pelo FIO
do bigode. Mesmo que não use este peludo adereço. Mas isso de fio de
bigode era coisa do passado. Hoje nem
tanto. De qualquer maneira isso sempre
foi muito marcante. Falou tá falado, se vendeu o pai entrega empacotado!
Chegou em
Minas começa logo a treinar pitar um cigarrinho de palha, a esculhambar os
cuidados com o Colesterol (manda torresmo!),
a apreciar a pinguinha e a não ter vergonha de apreciá-la... Aliás, teve
um Gerente da Filial que promoveu um intercâmbio maravilhoso por lá nos idos de
oitenta. Como havia um grupo grande de
pessoas de outros estados, regiões, morando em Belo Horizonte, ele criou a
Confraria do São Bento (o bairro no qual um boa partes destas pessoas viviam).
Mensalmente havia um encontro, um almoço ou um jantar, na verdade uma reunião
“gastronômica” na casa de um que apresentava sua especialidade. Variava de
Barreado a belas Lasanhas, passava por um jantar japonês, tardes de Dobradinhas
com Feijão Branco (cozinha portuguesa!) e tipicidades mineiras como Feijão
Tropeiro, Tutús a Mineira e outras delícias. Isso sim era de deixar todos de
boca aberta... Sem se preocupar com os
mosquitos... E com bom proveito.
Nesses
encontros, sempre pantagruélicos, todos se esmeravam na criatividade e sabor.
Foi num desses encontros que se começou um hábito bem interessante. Um dos
comensais levou para um dos almoços uma pinga boa. De “cabeça”. Coisa fina. E
todo mundo partiu para apreciar a coisa rara. Aplausos. Congratulações. Minutos
de silêncio e reverências. Logicamente a partir daí sempre um, ou mais de um,
aparecia com uma “daquelas”. Supimpa. Incomparável. E a coisa danou de
entusiasmar uns e outros, que começaram a se dar ares de conhecedores
empedernidos. Ficava até chato ver caras compungidas fazendo avaliações
“técnicas”.
Como
falei no princípio a palavra é de prata... e o silêncio é de ouro. Deixem-me
agora jogar fora umas pepitas e fazer uma confissão moleca: por duas vezes
apresentei uma cachaça absurdamente velha e especial , de origem “das mais
nobres e respeitáveis” que foram
avaliadas e apreciadas como tal. Entrego meu ouro hoje: Pessoal, a pinga era de supermercado... Afinal eu era prata da casa... E nem usava
bigode...
Mas esses
comentários aí só servem para provar que se eu tivesse mantido minha boquinha
fechada, todos aqueles poderiam morrer
felizes com a certeza de terem experimentado “certa vez” a melhor pinga
mineira...
Palavras
ao vento. Depois desta era, veio outro Gerente que acabou tendo a honra de inaugurar a nova séde da firma nas
Minas Gerais. Prédio imponente. Robusto. Marcante. Tornaria um marco na cidade.
Essa inauguração tinha que ser nos conformes. Como diriam os Wilsons Frades, os
Paulos Cesares de Oliveiras, quer dizer, os Ibrahins Sueds da nossa progressista Beagá, “tout le monde” dos negócios, da
política, da sociedade “pontificariam” naquele “open house”.
Programação
perfeita. Coquetel. “Tour” pelas instalações e, como não poderia deixar de ser,
um big “show-room” com o “estado da arte” da tecnologia que se entregava ao
mundo e se disponibilizava também para a mineirada respeitável.
Para
aliviar o tecnicismo, tinha que se ter
um “appeal” especial. E assim foi feito. Prepararam umas demonstrações
lúdicas, outras práticas e algumas inovadoras. Entre essas, criou-se um
programa que pretendia suportar as obras sociais da esposa do Governador. Era
um programa onde a pessoa poderia chegar e interagir com um terminal de
computador e tomava conhecimento das realizações do serviço voluntário de
assistência social da Primeira Dama do Estado e, passo contínuo, participava
dos programas fazendo doações. A idéia
era magnífica. Seria uma surpresa para a mulher do Governador, para o Governador,
para os demais políticos, empresários etc. Seria o máximo. A imprensa estaria
presente. A repercussão seria
fantástica. Ensaiou-se tudo. Todos os funcionários deveriam dominar o
sistema para demonstrá-lo, aos convidados mas o “Gran Finale” seria a demonstração
desta maravilha para a Primeira Dama do Estado feita pessoalmente pelo Gerente
da Filial. Esse clima parece sem sentido hoje em tempos de multimídias,
internets e realidades virtuais mas naqueles tempos era papa finíssima!
E todos
se prepararam. Tudo transcorreu
absolutamente nos trinques.
Maravilha. Se a iluminação era
feérica, os sorrisos potencializavam os lux. A felicidade transbordava.
Eis que
chegou o momento. A Primeira Dama do Estado foi informada de que a empresa
faria uma contribuição muito importante para o programa de serviço voluntário
de assistência social que ela liderava. Deram-lhe pinceladas rápidas sobre a “mágica” e disseram-lhe que o Gerente da
Filial lhe faria uma demonstração específica sobre o programa em questão.
Acorreram todos para o “show-room”. Convidados e imprensa. Um leve nervosismo,
até natural, tomou conta do nosso amigo Gerente. Ele abriu um sorriso e
introduziu a convidada principal nas generalidades do programa. Máquina ligada,
consultou informações, viu estatísticas, listou participantes dos programas e
foi para a parte final que, com certeza, deixaria nossa benemérita feliz: a
tela de doações para o consulente finalizar sua passagem pelo terminal
tornando-se um participante do programa social do Estado.
Entrou na
tela e, demonstrando como funcionava, prencheu os dados da firma. Razão social,
endereço, CGC, Inscrição Estadual, Municipal, e todas burocraticices que
assolam uma empresa séria legalmente constituída. A Primeira Dama curiosíssima.
Seus assessores e assessoras,
puxa-saqueando legal, emitiam “ohs”, e “ahs” a toda mudança de tela.
Maravilhavam-se. Clima ideal para o tal “Gran Finale”. Chega a tela da doação.
O apresentador resolveu exemplificar com uma doação “fictícia”: dez mil sacos
de feijão... No que explode a tela com a
“notícia,” a primeira Dama não se contém e de “bate-pronto” entende que aquela
era a doação da empresa... E sorriu. E exclamou felicidades. E mostrou para
toda imprensa presente, já sem dar a menor chance ao nosso Gerente de terminar
a demonstração... como demonstração...
Ficou a
“doação”.
Palavra
de honra ali se cumpria... E cumpriu...
A Filial
foi inaugurada com um débito de dez mil sacos de feijão...
Palavras ao vento... Não nos pertencem
mais... Ainda que sejam palavras
tecladas ao vento... E, nas Minas Gerais, falou tá falado. Não se muda o
recado...
Reveja-se o Plano Operacional...
vvv
What???
Tem prêmios que, apesar de ótimos, deixam
marcas... têm-se que ter muito cuidado
para manuseá-lo.
Por mais
que muitos não achem ou não digam, ir viver no exterior é meio amedrontador.
Pode ser a barreira da língua. Pode ser a preocupação de pintar uma solidão na
multidão. Pode ser o medo de se descobrir (e se assustar). Mas ainda assim é
tentador. E tudo se faz para aproveitar oportunidades deste tipo.
Se a
coisa é a trabalho, já é bom. Se for de
férias, ótimo. Agora, se for a trabalho,
por um bom tempo, por conta da firma... Hummmm! Maraviiiilha!!!
Esta
última hipótese é a designação para função no exterior. Como o céu: alguns
chamados, poucos escolhidos. Designado tem uma aura especial. Não caminha:
desliza. Não fala: Emana opinião.
Aquele
tempo que se passa em designação no
exterior flui como uma benfazeja época de preparação para um retorno
espetacular. Mais nível, com
certeza. Quem sabe uma diretoria? Vale o “sacrifício”. Depois tem o retorno. Uma boa poupança. Histórias. Lembranças. Alívios...
Teve um
conhecido nosso que, de repente, se viu “bafejado”. Foi convidado para a tal designação. Nos States.
Nem sonhava com a possibilidade. Mas ela veio. Fez os planos. Fez as malas. Foi
fazer a América.
Situação
mais ou menos fácil: recém-divorciado. A grana iria entrar em boa quantidade, e
se via com todas as chances de praticar outro esporte que o tornara bastante
famoso: a paquera... Mas isto
extra-expediente, pois a oportunidade de carreira não poderia ser afetada por
sua “testicocefalia”... ele era conhecido...
tinha que se cuidar...
As coisas
transcorriam mais ou menos sob controle. O tempo ia passando e a jornada sendo
cumprida.
Acontece
entretanto que, por mais que se pretenda estar inserido naquela sociedade, o
latino (hispano, pois, nao?) sempre se via meio alijado. Era a mulher da lavanderia,
mal encarada e descortês. Era o vizinho “local”, de nariz torcido. Era a
polícia que sempre se liga muito mais no
estrangeiro-latino que nos outros. Nosso
herói (?) desta história tem as feições meio índias, o que sempre o destacava
na multidão WASP. Mas com cuidado sempre se
pode tourear situações desconfortáveis. Depende de cada um.
A razão
do sucesso do jogo está exatamente no fato de que o jogador sempre TEM CERTEZA
que um dia vai dar aquele Royal Straight Flash. E com certeza um dia ele
acontece. Só não se sabe quando. Como a sorte, o azar também pinta um dia. E
nosso amigo esperava o primeiro sempre: jogando na loteria. E ficava na dele esperando que o azar jamais pintasse
no seu pedaço. Mas da mesma maneira que num dos testes ele ganhou uns
caraminguás, seu dia de cão também apareceu.
Num belo
verão brasileiro, seu filho, depois de fazer por merecer, recebeu de prêmio as
férias dos sonhos: todo o período em sua companhia: nos States! Passaram juntos
dois meses inteirinhos. Céu-inferno. Findo o período, o resto das vontades
foram todas feitas num exercício final de expurgação dos pecados. Cinco
Reeboks? Vontade feita. Vinte bonés da NBA? Tudo bem. Coleção completa dos
cards dos roqueiros de plantão? Também pode. E, para finalizar aquilo que seria
o barato maior quando a “tchurma” fosse
vê-lo em casa no retorno deste Jedi: uma placa de carro (AMERICANA!), para
pendurar na parede, como o troféu-mor de sua passagem triunfante pelas terras
gringas. Pai sofre. Sacou sua placa dianteira, pois naquelas paragens ela não
era exigida nem obrigatória. Ouvira dizer...
Embarcou
o pimpolho de volta à terra brasilis e se viu novamente tal divorciado. Livre!
Só contas a pagar...
Retornando
do aeroporto lembrou de recompor a despensa depois da passagem do furacão
adolescente que entupiu sua geladeira de M&M’s, Tropicana, CherryCoke e
todas as outras besteiras que essa turma adora e que nem sempre bate com
sabores adultos tipo, queijos, vinhos, cervejotas e pickles. Pensando assim, se
mandou para o supermercado da cidade.
A cidade
era bem pequena, bonitinha, organizada e absurdamente tranquila.
Gracinha. O supermercado no mesmo estilo. Compras feitas, nosso amigo já no
caixa vislumbra um monumento feminino que ele ainda não tinha notado pelas
redondezas. Redondezas da cidade, pois as “redondezas” da lebre ele notou
imediatamente. Ligou o bit da testicocefalia. Endoideceu. Imediatamente se pôs
em posição de “sobrevôo razante.” A mulher parecia personagem de comercial de
Bardhal. Louraça tipo gasolina americana: alta com bustão... Mas estava de saída...
Tinha que ser o super flash: um raio. Ela já se
mandava para o estacionamento. Ele pagou e foi atrás. Ávido. Babante. Priápico.
Tudo posto no carro, eis o nosso amigo pensando na estratégia de abordagem. E
distraiu. De dentro do carro olhou pelo retrovisor para um lado e para o
outro.Tudo limpo. Olhou novamente e saiu de ré, já se esquecendo dos dois meses
de tumulto e alegria, céu-inferno que havia acabado de terminar e as imensas
possibilidade de um paraíso com Eva e tudo se desenhando em seu futuro.
Distração pode ser fatal. De repente, se assustou com um pequeno tranco e o
barulho de um débil grito. Olhou para fora e viu uma velhinha absolutamente
colorida estatelada no chão quase atrás de seu carro. Saindo do veículo, já viu
várias pessoas correrem para socorrer a pobre velhinha. Só aí descobriu
que acabava de atropelar a colorida e provecta transeunte... Coisa leve.
Esbarrãozinho. Mas, em terras de Tio Sam, coisa das mais graves. A cabeça
rodando, ele percebe que, como um milagre,
“todos os populares”, em linguagem policial, começam a acorrer à cena do crime. Como num
passe de mágica também já começam a chegar as guarnições policiais do condado:
uma, duas, três, cinco, nove.... todas! Todas!! Todas!!!
E a
cabeça a zoar. O inglês já não fica tão
inteligível. Os policiais parecem cada vez maiores e mais amedrontadores. Dois
deles se aproximam já dando “uma geral” no carro. Olha frente, traseira,
interior, exterior. E... pânico! Um frio percorre a espinha. A placa! O filho
levou a placa que ele achou que jamais iria precisar! E os policiais
imediatamente notariam a falta!
Eis que
os policiais dirigem-se a ele, interpelando e
tascam de primeira:
- “Your
driver’s license, please?”
“Ah, meu
Deus, eu tinha certeza que ia dar errado,” pensou ele, e já partiu para
arranjar desculpa, e se enrolando completamente. Nem o inglês saía mais, aliás,
nem saía e nem entrava.
- “What?”
- “Your
driver’s license, please?”
Gaguejando começou a explicar que
não tinha mais...
- “Eh...
Dei de presente para o meu filho, eh...”
O
policial não entendeu nada...
- “O
senhor deu sua driver’s license de presente para o seu filho?”
- “What?”
- “O
Senhor deu sua driver’s license de presente para seu filho??”
Rateando
e tentando processar o nervosismo, procurou amenizar a explicação:
- “É. Ele
é o único garoto da sua turma, no Brasil, que não tem...”
-
“Garoto? Seu filho é garoto? Que idade tem ele?”
- “What?”
-
“GAROTO? Seu filho é um garoto? Que idade tem ele?”
-
“Eh...Onze anos. Eh... mas parece
treze...”
- “Are you
crazy? O que ele vai
fazer com sua driver’s license, mister?
- “What?”
- “ARE YOU
DEAF? ARE YOU CRAZY?? O que ele vai fazer com sua
driver’s license, mister???”
A ira do
policial começava a aflorar. A capacidade do coitado do nosso amigo, de
perceber o que rodava em volta cada vez mais escorria pelo ralo... Tentou explicar em três minutos, seus últimos
dois meses mas finalizava ainda com uma resposta tatibitati.
- “Eh...
Pendurar na parede de seu quarto para decoração... No Brasil... Como um troféu,
sabe? Eh...”
Sem
chance. O policial tem certeza que está dialogando com um marciano, um
aloprado, mais um hispano pirado,
daqueles que de vez em quando aparecem em filmes da HBO... E chama o
chefe. E explica. E não encontra explicação.
-
“Tenente, este Brazilian Citizen DEU sua driver’s license de presente para o
filho brasileiro que ele acaba de embarcar no aeroporto, para o Brasil. E o
filho tem onze anos, parece treze, e vai pendurar a sua (dele) driver’s license
na parede para decorar o quarto já que o sonho de todo garoto brasileiro de
treze anos é pendurar uma driver’s license na parede...”
O Tenente
olha sintomaticamente para nosso amigo,
que de tão embaraçado já não consegue entender mais nem olhar, e tenta
entender alguma coisa, antes do clássico “Teje preso”, explicando:
-
“Mister, não foi muita irresponsabilidade dar sua driver’s license de presente
para seu filho levar para o Brasil? O
senhor não tinha presentes mais adequados? Umas flâmulas, uns bonés, uns
posters, ou quem sabe, talvez, até a sua própria LICENCE PLATE, já que aqui na América o senhor não é
obrigado a mantê-la no seu veículo e, isso sim, é sonho de adolescente pendurar
em parede de quarto?
-
“Era isso...”
vvv
O Padrinho.....................................................................3
Conceição......................................................................9
Amanhã, Só Deus Sabe................................................13
A Conquista.................................................................19
O Gerente....................................................................24
Michilin.......................................................................32
A Hora do Angelo.........................................................38
Lógica Lusitana...........................................................45
Tati-bi-tati “In English”..............................................51
Saudades da Aurora de Minha Vida.............................60
Reunião de Pais...........................................................67
Moeda Corrente...........................................................71
What???......................................................................77
Gol Contra...................................................................87
O “Homicídio” do cão..................................................95
Cala-te Boca ..............................................................106
vvv --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Aguardando a aprovação do amigo:
Justin Bieber, quer aprender a compor, toma essa...
Projeto Manhattan
Imagine quando tudo isto começou Nos dias mortais da guerra Uma arma que decidiria o placar Quem quer que a descobrisse antes Estaria certo de fazer a pior possível Que eles já tiveram... Imagine onde estava o homem que começou tudo isto Um cientista andando de um lado para o outro Em cada nação sempre disposto a explorar Construir o maior bastão Para ganhar a manha da vitória -- Mas não era só isso... Refrão: A grande explosão destruiu e abalou o mundo Abateu o sol O fim estava começando e atingiria a todos Quando a reação em cadeia estivesse feita As grandes explosões tentaram impedi-las Tolos tentam almejar isto As esperanças dependem de um mundo sem fim Não importa o que os descrentes possam dizer Imagine o lugar onde tudo isto começou Eles se reuniram pela terra Para trabalhar no sigilo do deserto Todos os garotos inteligentes A brincar com seus brinquedos grandões Mais do que eles tinham imaginado ganhar Refrão 2: A grande explosão destruiu e abalou o mundo Abateu o sol As esperanças dependem de um mundo sem fim Não importa o que os descrentes possam dizer Imagine onde estava o homem que começou tudo isto O piloto do Enola Gay* Voando para longe da zona de impacto, naquele dia de Agosto Todos os poderes que ainda estavam por vir, e o curso da história Estariam mudados para sempre Refrão: A grande explosão destruiu e abalou o mundo Abateu o sol O fim estava começando e atingiria a todos Quando a reação em cadeia estivesse feita As grandes explosões tentaram impedí-las Tolos tentam alemjar isto As esperanças dependem de um mundo que não acabe Não importa o que os descrentes possam dizer Refrão 2: A grande explosão destruiu e abalou o mundo Abateu o sol As esperançãs dependem de um mundo sem fim Não importa o que os descrentes possam dizer
vvv
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